Parece que a Praça Afonso Pena corre riscos em sua história de tempos em tempos. Em 1950 alertava-se para o risco de ser transformada em terminal rodoviária (é fato que décadas depois tivemos pontos de ônibus instalados em sua lateral), na década de 90 falava-se sobre um grande estacionamento… que o futuro seja de uma praça cada vez mais agradável e devidamente ARBORIZADA, já que a região perde dezenas de árvores sem replantio todos os anos, tornando a experiência do pedestre cada vez mais uma difícil tarefa em seu trânsito diário.
Por fim, foi anunciado o primeiro passo para a construção do Terminal Central, ainda lembrado como Rodoviária Velha.
A construção da Rodoviária no centro da Praça Afonso Pena
Não sabemos com que fundamento, mas a verdade é que tem corrido boatos de que a futura estação rodoviária seria construída no centro da Praça Afonso Pena, numa área de cerca de quatro mil metros quadrados, o que inutilizaria aquele raro e belíssimo logradouro público.
Acena-se para impressionar que referida construção terá 15 andares e que nela será empregada nada menos de vinte e cinco milhões de cruzeiros, ou seja na nossa moeda antiga vinte e cinco mil contos de réis. Ora, uma obra gigantesca como a que se tem em vista, nem por isso deve ter e primazia sobre a conservação de uma belíssima praça qual seja a que vimos de nos referir. Em toda parte do mundo, os nossos urbanistas marcam as suas diretrizes no sentido de alargar as vias públicas, transformá-las em avenidas e ampliar as praças públicas, para regalo da vista, do espírito e do corpo, quando estas são dotadas de árvores frondosas.
Em São Paulo, para não irmos mais longe, todos os urbanistas tem primado pela derrubada de casas e ruas para transformar os logradouros em avenidas ou praças. Veja-se por exemplo o que ocorreu com o casario do pequeno largo 7 de Setembro e imediações. Tudo foi ampliado para se dar lugar a grandiosa e magnífica Praça Dr. João Mendes. Veja-se o que foi feito para se conseguir a belíssima Avenia 9 de julho, contemple-se a derrubada de prédios nas proximidades da Rua Santo Antônio e adjacências para se localizar ali a majestosa Praça das Bandeiras. Voltemos as nossas vistas para as ruas São Luiz e Ipiranga, hoje transformadas em magníficas avenidas e em futuro muito próximo o Largo do Paissandú será despojado de sua igreja para ampliação da praça. Enquanto tudo isso se faz nas principais cidades do mundo, aqui em São José dos Campos pretende-se aniquilar uma belíssima praça em favor de uma construção que, por mais majestosa que o seja, nunca poderá se equiparar em beleza àquela praça que agora vem sendo ajardinada para o deleite muito justo da nossa população.
Ora, uma empresa que dispõe de tantos recursos, poderá cooperar para o nosso engrandecimento instalando essa construção em um outro ponto, mesmo no centro, porquanto queremos crer, com mais um mil contos de réis ela adquiriria terreno suficiente em outro local. poupando a nossa terra e a nossa gente do angustiosíssimo desprazer de ficar privada de uma das suas belas praças, local aliás, admirado por todos quantos nos visitam, como se aquilo fosse uma dádiva do céu.
Que tudo não passe de boatos, pois, nesse caso, estas considerações se cancelam por si mesmas.
Correio Joseense, 05 de fevereiro de 1950, Ano XXV, Num. 1283
Seria um crime instalar-se a estação de ônibus na praça Afonso Pena
Auscultada a opinião pública, esta manifesta-se inteiramente contrária à lamentável lembrança. Só podem aprová-la os elementos interessados e aqueles que não comungam com os sentimentos de nossa gente e de nossa terra.
O nosso comentário referente ao desacerto da provável construção da estação rodoviária no centro da Praça Afonso Pena, dadas as demonstrações de aplausos que recebemos, contribuiu de maneira decisiva para nos convencer que esposamos uma causa justa, justíssima mesmo. Não se justifica de maneira alguma semelhante pretensão, ainda mesmo que se nos acene com uma grande construção. Praças iguais a que temos o privilégio de possuir faz inveja a multas cidades e não seria justo que, para atender-se a interesses particulares ou mesmo políticos, sejamos despojados daquele belíssimo logradouro público, que deverá antes ser transformado em um grande parque para o deleite da nossa população com a instalação ali de um parque infantil, com balanços, gangorras, trapézios, etc., para o aproveitamento físico dos nossos homens de amanhã que são as crianças de hoje.
Consignamos destas colunas, em nome da nossa população, um veemente apelo ao ilustre senhor prefeito sanitário e também aos ilustres senhores vereadores, no sentido de impedir a consumação dessa infeliz iniciativa que reputamos um atentado ao patrimônio da cidade e um desrespeito a opinião pública que o condena, sem reservas. Façamos abstração dos interessados, direta ou indiretamente no favoritismo que se vislumbra e vejamos o que sobra em favor daquilo que denominaremos uma verdadeira monstruosidade.
Mas, ainda é tempo de se salvar aquela belíssima praça da cobiça inexplicável daqueles que pretendem reduzi-la a um campo de negócio que só poderá beneficiar os que o explorarem também direta ou indiretamente.
Aqui fica, pois, o nosso apelo aos poderes administrativo e legislativo, aos quais estão afetos a defesa do nosso patrimônio e das nossas relíquias.
Correio Joseense, 12 de fevereiro de 1950, Ano XXV, Num. 1284
Pedem a mudança dos ônibus para o Largo da Matriz
Ao que sabemos, fizeram ou vão fazer uma representação ao prefeito sanitário, sugerindo a mudança do estacionamento dos ônibus da rua 15 de Novembro para o Largo da Matriz, tendo os signatários naturalmente justificado tal pretensão que, em verdade, desconhecemos.
Respeitáveis serão por certo os motivos invocados, mas devemos convir que, sejam eles quais forem, não pode prevalecer porquanto ferirão dois pontos importantes: a estética da praça que dentre em breve será um ponto de reunião e de passeio, tão logo estejam concluídas as obras ali iniciadas e o prejuízo que tal medida causaria ao comercio da Rua 15, já integrado no intercambio que tais veículos oferecem, de vez qual os seus passageiros também já se habituaram a fazer suas refeições e os seus lanches nas casas ali existentes.
Além desses argumentos que julgamos respeitáveis e decisivos, ainda invocaremos outros que não podem ser desprezados. Referimo-nos a vida ativa e ao progresso da cidade em face do movimento de tais veículos que, se retirados daquele local reduziria a nossa principal via pública a uma rua morta, atestando também a morte da cidade que se revela entre as demais desta zona como uma das movimentadas, justamente por centralizar ali o serviço de ônibus.
Com tais argumentos, admitimos não ser justo tal mudança, tanto mais que esse movimento visa mais interesses que outra coisa, não sendo justo pois que se dispa um santo para vestir-se outro.
Entendemos que, enquanto não se construir a estação rodoviária, tais veículos devem permanecer nesta via pública, por todos os motivos acima invocados e mais o do interesse coletivo.
O movimento intenso de veículos naquela via publica é que lhe dá vida e atesta o progresso da cidade. Retirados dali os ônibus a rua 15 de Novembro passará a ter vida igual as demais ruas mortas da cidade e isto nos parece não ser recomendável.
Correio Joseense, 09 de julho de 1950, Ano XXV, Num. 1304
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