O inesquecível jornalista Edward Simões trouxe o jornal “O Valeparaibano”, fundado em Caçapava pelo jornalista Francisco Pereira da Silva (Chico Triste), para circular diariamente em São José e foi o seu proprietário e editor na década de 1950. Aos 18 anos de idade, em 1946, sofreu um desastre de automóvel na serra de Caraguatatuba. Ficou paraplégico, imobilizado num leito, sem qualquer movimento da cintura para baixo. Era filho do comerciante português João Lopes Simões, que foi gerente da agência do Banco Mercantil de São Paulo S/A, na Praça Cônego Lima (Jardim da Preguiça). Com o acidente, Edward deixou de ser o “filhinho de papai” e ingressou no jornalismo como repórter do jornal “O Tempo” de S. Paulo. Fazia as suas matérias jornalísticas obtendo informações por telefone ou recebendo as pessoas em seu quarto (onde o conheci no início da década de 1960) e as reportagens de rua fazia a bordo de uma ambulância.
Em 1951, aos 23 anos, publicou um Álbum de São José dos Campos juntamente com Jamil Mattar, José Marcondes Pereira e Neif Oliveira Mattar que escreveu sob o título “Um símbolo humano” o seguinte perfil de Edward Simões publicado no Álbum: “Toda São José dos Campos o conhece e dele se orgulha. Pelos cadernos, em que Edward Simões tem registradas as visitas que recebeu, vê-se que a cidade inteira já peregrinou naquele quarto onde mora o sofrimento humano. E onde a vida, na moldura da dor, não se esvai em lamentos, mas cada dia se reafirma na força do ideal e se doura nas flores mais perfumosas do pensamento. O drama de Edward Simões não é único nem original. Pelo mundo afora, a mão da fatalidade terá colhido muitos outros destinos e armado muitos outros quadros de igual pungência. Mas este moço que tem o corpo preso a uma cama e que sempre garantiu todas as liberdades ao seu espírito rebelde, sublimou sua tragédia na mais alta das compreensões humanas.”
“Todas as suas energias se transformaram em vontade, sua mocidade se revigorou numa atitude permanente de conciliação com a vida e, agigantado num altruísmo que não é renuncia negativa, Edward Simões é um grande professor de otimismo. Empreendedor, audaz, amando sua terra natal, rodeado de livros, os dedos ágeis na sua máquina de escrever, o telefone ao lado, um sorriso sempre aberto nos lábios que nunca se crisparam numa imprecação, ele é um homem significando uma alta lição de fé, de força moral, de ânimo invencível e de esperança sempre alta. Para os que não o conhecem, esclareça-se que Edward Simões é um rapaz de 23 anos a quem um desastre de automóvel, há 60 meses, imobilizou num leito. Nesse leito, que ele transformou num ponto de apoio, nosso herói modesto e silencioso trabalha, produz, escreve, estuda, gira o dial do seu rádio, está presente dentro da vida cá de fora e conjugado ao tempo que nunca conseguiu fazê-lo segregado ou ausente.”
“Se alguma demonstração mais fosse preciso para definir o timbre dessa alma de bronze e desse espírito luminoso, em que a generosidade é irmã gêmea da simpatia, bastaria este Álbum”, filho dileto do amor que Edward Simões dispensa a sua querida São José dos Campos. Edward Simões é um símbolo humano de amor, de compreensão, de energia, de perdão, da vitória da vida sobre a dor. Enfim, símbolo humano da tragédia que fica pequena no fundo claro de um grande sorriso.”
Este texto traça bem o perfil do jornalista Edward Simões. Tornei-me amigo dele e tive a honra de substituí-lo em suas periódicas internações na Santa Casa, redigindo o noticiário da Rádio Piratininga. Com ele muito aprendi no jornalismo e na vida. Com a sua morte, juntamente com o jornalista Chico Triste, o arquiteto Luiz Erasmo de Moreira, alunos do ITA e jovens estudantes da cidade, fundamos em 1963 a Associação Cultural Edward Simões, que funcionou até o golpe de 1964, quando sua sede no mesmo prédio da Rádio Piratininga foi invadida e sua biblioteca destruída. Era o início da ditadura militar que o jornalista Edward Simões certamente também combateria se vivo fosse. São José deve muito a Edward Simões que, através do jornalismo, ajudou a promover o desenvolvimento da cidade em vários de seus aspectos.
Na foto, em seu quarto por onde passava toda a cidade de São José, Edward Simões recebe Edmundo Ferreira Maldos, o Zebú, que ainda está aí entre nós para contar as histórias e estórias.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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