Noel Rosa e o Bando de Tangarás estiveram em São José no início de setembro de 1931. O convite foi feito pelo Delegado de Polícia, Dr. Carlos Ribas de Melo Leitão, para que se exibissem, graciosamente, em benefício da Santa Casa de Misericórdia. Eles realizaram alguns “shows”, culminando com uma noite de gala no Teatro da Cidade (no mesmo prédio onde hoje se encontra instalada a Biblioteca Pública Municipal “Cassiano Ricardo”), na data histórica de 7 de Setembro.
Eles haviam gravado no Rio o samba-epistolar de Noel Rosa “Cordiais saudações”: “Estimo que este mal traçado samba/ Em estilo rude/ Na intimidade/ Vá te encontrar gozando saúde/ Na mais completa felicidade/ Junto dos teus, confio em Deus.” E como numa carta, a letra do samba terminava: “Espero que notes bem: Estou, agora, sem um vintém./ Podendo, manda-me algum./ Rio, 7 DE SETEMBRO DE 31.” Portanto, justamente a data da apresentação no Teatro Municipal de São José.
Visitando o comércio local, Noel, Almirante, Alvinho e os demais integrantes do Bando de Tangarás depararam na Casa Diamante com uma máquina gravadora e reprodutora de discos. Não tiveram dúvidas e a levaram para o palco na noite de apresentação. E encenaram uma gravação com a “prova” gravada no Rio.
Em seu livro “No Tempo de Noel Rosa” (ed. Livraria Francisco Alves, 1963), Almirante (Henrique Foréis), cognominado “a maior patente do rádio”, conta que o “espetáculo transcorreu num clima de grande atração”. “Exibimos a ‘prova’ e colocamos o prato na máquina, em movimento. Que dia é hoje? Indaguei. 7 de Setembro de 1931, responderam várias pessoas. Pois bem! Continuei. Para que todos se tornem absolutamente certos de que a gravação será realizada agora, vamos usar a data de hoje.”
Noel Rosa e o Bando de Tangarás interpretaram o samba e, ao final, Almirante ainda retirou o disco que rodava na máquina de gravação e pediu um instante “para esfriar a cera”. Em seguida a chapa negra foi reposta no prato “e a gravação se fez ouvir, através do potente alto-falante da eletrola”. Quando Noel Rosa terminou com a data “7 de Setembro de 31”, a platéia que lotava o Teatro Municipal “prorrompeu na mais entusiasmada ovação que qualquer de nós teria recebido até então”, confessa Almirante.
Eles pensavam em revelar a brincadeira, mas a vibração da platéia mostrou a inconveniência de tal sinceridade…
O que Almirante não conta em seu livro, no entanto, é que aceitaram o convite do Delegado de Polícia de São José para tirar durante algum tempo Noel Rosa do Rio de Janeiro, onde a boemia estava agravando o seu estado de saúde. Noel já apresentava problemas pulmonares. E como São José era reconhecida como estância climática, nada melhor para ele descansar por algum tempo. Aqui, entretanto, a boemia continuou. Toda noite Noel e o Bando de Tangarás, depois do “show” beneficente, iam para o Bar 15 e lá ficavam bebendo e cantando até altas horas.
Numa destas noites aconteceu algo inusitado. Noel empunhava o violão e como sempre a mesa em que se encontravam estava rodeada por curiosos que assistiam a apresentação gratuita. De repente, alguém esbarra num copo sobre a mesa e este cai ao chão. Noel escorrega os dedos pelas cordas do braço do violão e tira um som: “Caiu em si menor!” Com seu apurado ouvido, pegou o tom do ruído da caída do copo!
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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