Bem Costa (16/05/1918 – 03/09/2013)
Quando meu pai Bem Costa (Francisco Honorato da Costa Filho) nasceu em 16 de maio de 1918, no Alto da Ponte, em São José dos Campos, a parteira alertou minha avó Isaura Leme de Souza: “Isaura, é um menino pequeno e franzino, talvez não “vingue” (viva). Mas cuide bem dele, quem sabe?!” Minha avó cuidou muito dele e até o chamava de “bem”. O que acabou ficando como apelido para os seus nove irmãos e irmãs. Mas ainda criança quase o vaticínio da parteira se concretizou: o Bem pegou uma meningite da qual quase ninguém escapava na época. Que dirá um menino tão fraquinho?! O tratamento era sempre que a febre subisse muito, coloca-lo num tacho de água fria. E foi assim que ele escapou da meningite.
O meu avô paterno Francisco Honorato da Costa, o Chico Honorato, como acontecia muito naquele tempo, vendeu todas as suas terras lá pros lados do Jaguari e acabou com uma “vendinha” (bar/mercearia) na cabeceira da ponte. Mas não durou muito! Quando morreu, o meu tio mais velho, José Honorato da Costa, o tio Zé, que era ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, pegou a mãe Isaura e todos os filhos ainda vivos e foram morar na cidade. Meu pai com 16 anos de idade aprendia ofício na barbearia do seu tio Graciano, irmão de minha avó, e violão com o Zeca Bicudo, bedel do Grupo Escolar Olympio Catão. Foi nas aulas de violão que conheceu minha mãe Virgínia Nunes, que também aprendia violão, cuja mãe Helena era enfermeira e veio de Santos para São José dos Campos em 1932 para trabalhar na Santa Casa cuidando dos feridos na Revolução Constitucionalista.
Casados, algum tempo depois, o tio Graciano passou-lhe a barbearia, na rua XV de Novembro nº 28, onde o casal residiu nos fundos até mudar para uma casa na Rua São José. Bem Costa já era conhecido como um bom violonista. Na época, nas emissoras de rádio do Rio de Janeiro e de São Paulo eram famosos os conjuntos vocais e os jovens joseenses costumavam imitá-los para apresentações na cidade. Foi aí que Paulo Lebrão teve a ideia de montar um serviço de alto-falante na Rua XV de Novembro (Rua Direita) para imitar as emissoras de rádio. O empresário Henrique Mudat se dispôs a financiar e o técnico em eletrônica Franchesco Manacorda iniciou a montagem num salão na parte superior de um sobrado na esquina de um beco que saia na Rua São José.
Um estúdio de som nos moldes das emissoras de rádio com aquele aquário de vidro e um pequeno auditório para as pessoas assistirem o que acontecia dentro também no lado de fora. E o Paulo Lebrão denominou de PL-1, porque pretendia instalar outras na cidade. A PL-1 tinha um “cast” de atrações. Ganhou destaque um trio: Bem (violão), Altino Bondesan (bandolim) e Walter Ovalle (cavaquinho), o B.A.W.. Também tinha um elenco de radionovelas. Tudo como uma emissora de rádio. E o José Rachid, um de seus locutores, anunciava com toda a pompa e circunstância: “PL-1 a sua rádio propaganda, falando da Rua XV de Novembro para o céu do Brasil!” Embora o som do alto-falante não chegasse até a paralela Rua 7 de Setembro.
Logo Bem Costa ensaiou voo mais alto. Foi para Santos, onde minha mãe tinha alguns parentes, integrando o conjunto regional da Rádio Atlântica. De lá também atuou na Rádio Educadora de Campinas até seguir o caminho de seu irmão Euclides Honorato da Costa, o Brioso. Este havia formado uma dupla caipira ainda na PL-1 com o seu colega de trabalho Thésis Gaia, na prefeitura de São José, denominada “Brinquinho e Brioso”. A dupla fixou-se na capital paulista, onde chegou a manter programa na Rádio Tupi.
Em São Paulo, Bem Costa atuou no conjunto regional da Rádio Cruzeiro do Sul (bem mais tarde denominada de Piratininga), chegando a acompanhar o cantor das multidões, Orlando Silva, em memorável apresentação na capital paulista. Na Cruzeiro do Sul também se apresentavam alguns valores artísticos oriundos de São José dos Campos. Como Brinquinho e Brioso, Loredano Prandini (cantor) e Walter Ovalle (cavaquinho) em dupla com o Bem Costa (violão). Numa dessas apresentações, Waldyr Azevedo, o músico mais famoso no cavaquinho, ficou impressionado com a execução de Walter Ovalle.
De volta a São José dos Campos, em 1946, Bem Costa participa com Walter Ovalle, Aniz Mimessi e outros integrantes da PL-1, da inauguração da Sociedade Rádio Club de São José dos Campos, a ZYE-5, prefixo concedido a Flávio Carneiro de Mendonça e Ferreira Moisés. Bem Costa organiza e participa do Conjunto Regional E-5. A PL-1 havia formado um “cast” de programação, locução, música e radionovela que facilitou a instalação da emissora de rádio da cidade. Por coincidência, na mesma Rua XV de Novembro, quase ao lado da barbearia que fora dele, Bem Costa inicia a sua longa história radiofônica no prefixo da ZYE-5 Rádio Club de São José dos Campos.
Na década de 1960, no entanto, comportando a região mais uma emissora de rádio, Bem Costa e outros joseenses conseguem atrair para a cidade uma emissora da Rádio Piratininga, sucessora da Rádio Cruzeiro do Sul, onde ele tinha atuado, e que havia obtido um prefixo para se instalar. Em 1970, Bem Costa ajudou a organizar e integrou o conjunto regional “Os Seresteiros ao Luar”, criado pelo ex-prefeito Elmano Ferreira Veloso, de quem sempre foi parceiro no acompanhamento de suas composições juntamente com Walter Ovalle no cavaquinho. Os três trabalhavam na Coletoria e Posto Fiscal chefiado por Veloso que era fiscal de rendas e Walter Ovalle o coletor estadual. O conjunto regional “Os Seresteiros ao Luar” manteve programa semanal na Rádio Clube e na Rádio Piratininga.
Bem Costa nunca havia gravado um disco, a não ser os “acetatos” na Rádio Clube. Em 2002, quando completou 84 anos, levei-o ao estúdio de som da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e gravamos um CD com 21 músicas populares brasileiras que costumávamos cantar nos saraus em sua casa. Como era um exímio violonista de acompanhamento e não solista, convidei o violonista e solista Dom (Orlando Cassiano Pinto) a participar. Combinei com o saudoso técnico de som Wilson Rangel para dar destaque aos violões com os seus bordões. Reproduzi este CD e distribui aos seus amigos durante a comemoração de seu 84º aniversário. Agora, no dia 16 de maio de 2018, no centenário de seu nascimento, espero juntamente com meus irmãos José Cláudio e Regina Helena, e os seus sobrinhos, comemorar lançando um segundo CD gravado com valsas e canções e as participações especiais de Dom (violão) e do inesquecível Sérgio Weiss (teclado), para distribuir também aos seus amigos.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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