Proposta de preservação da Cerâmica Weiss (2009)

Cerâmica Weiss – Pesquisa, Análise e Propositura
Proposta – Setor de Preservação – SP – por Lei Municipal – 2009

Patrimônio Industrial

“O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. (…) representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda têm profundas consequências históricas. (…) Estes valores são intrínsecos aos próprios sítios industriais, às suas estruturas, aos seus elementos constitutivos, à sua maquinaria, à sua paisagem industrial, à sua documentação, (…)”, artefatos e estruturas. “(…) Os exemplos mais antigos, ou pioneiros, apresentam um valor especial. (…) Todas as alterações inevitáveis devem ser registradas e os elementos significativos que se eliminem devem ser inventariados e armazenados num local seguro. (…) A reconstrução, ou o retorno a um estado anteriormente conhecido, deverá ser considerada como uma intervenção excepcional que só será apropriada se contribuir para o reforço da integridade do sítio no seu conjunto, (…)”

Carta de Nizhny Tagil, 17 de Julho de 2003 SOBRE O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH)

A significação cultural da Weiss é especial pela sua singularidade e pioneirismo dentro de nossa história. Para chegarmos à “substância” de sua forma, pesquisamos e analisamos os projetos, plantas, fotos e documentos sobre a “Cerâmica Weiss”, constantes no Arquivo Público do Município – APM, além de investigarmos as instalações ainda existentes. Todo material foi comparado entre si e pudemos chegar a sua substância, ou seja, “conjunto de materiais que fisicamente constituem” as instalações da Weiss. “A conservação se baseia no respeito à substância existente”.

Cerâmica “Irmãos Weiss”

A história predial da “Indústria Cerâmica Irmãos Weiss” teve início em 1941, com a adaptação do prédio da “Soc. Agr. e Ind. Fazenda São João LT.”, datado de 1936, já de propriedade da Família Bonadio. Situava-se à Av. João Guilhermino, no 6, era utilizado para depósito da matéria prima e dos resíduos da “Cerâmica Santo Eugenio”.

Projeto de 1936.
Projeto de 1941.

A Weiss foi pioneira na produção de adornos cerâmicos. Teve uma grande aceitação pelo público nacional e internacional.
Com o tempo as instalações foram sendo ampliadas e adaptadas às novas funções. Nos anos de 1950 e 1960, o prédio foi destinado à fabricação de pastilhas e elementos vazados, provavelmente quando introduziram esses elementos em sua fachada, servindo de mostruário da produção.
No final da década de 1960, perderam esse prédio para o INSS.

Nota: imagem constante do livro: Arquitetura Industrial – Ademir Pereira. No livro Ademir se refere à edificação da Av. Rui Barbora, porém, pela cobertura, ausência de cabine de transformação e pelas divisões da fachada, trata-se do imóvel erigido na Av. João Guilhermino. Edificação adaptada de 1941. Foto sem data.

Dois anos após a inauguração da “Cerâmica Irmãos Weiss”, diante da grande procura pelos produtos “Weiss”, foi necessário ampliar ainda mais as instalações fabris. No ano de 1944, foi edificado outro prédio na Av. Rui Barbosa, Santana, que teve funcionamento concomitante ao do prédio da Av. João Guilhermino.
Esse é o conjunto em questão, tratado como “Setor de Preservação”.

Do conjunto fabril indicado à preservação com “Significação Cultural” da Weiss.

Primeiras instalações

Projeto de 1944 – projetista e construtor: Jeronymo Carnevalli.

Identificamos que, de certa forma, esse projeto “manteve” a linguagem arquitetônica adotada na primeira sede (1936), estrutura pilares e vigas, com argamassa em “textura-amassada” e vedação com tijolo de barro maciço à vista, além da adoção da platibanda com o coroamento de pequenas “vigas”. Caracterizando-se como a “substância” da Weiss.
Apesar de algumas alterações essa linguagem ainda é identificada nas instalações remanescentes. O “prédio B” delimitado como indicado na planta não existe mais, pois aquela parte se transformou em um grande galpão (trecho que vem desmoronando). O “prédio A” também passou por transformações, porém, ainda encontramos a parte frontal do prédio e a lateral esquerda que delineia o shed.
A chaminé projetada já não existe mais, em algum momento posterior a década de 1950, foi demolida.

Um ano depois, em 1945, edificaram o bloco da gerência, portaria e ampliaram a torre/cabine de transformação.

Do bloco da seção de pintura, contíguo ao “prédio A” – 1944, não encontramos projeto com planta, elevações e cortes, nem a data de construção. Temos apenas uma implantação de 1961, constando a existência deste bloco e uma foto da década de 1950.

Registro e análise da seção de pintura

Janela encontrada nas instalações remanescentes confirma o local da seção de pintura. Registro de 04/09/2009, acervo digital DPH.

O bloco frontal, elemento de destaque na fachada da edificação, caracteriza-se como um “puxado” (edificação erigida a partir de outra). Este bloco deve ter sido construído entre os anos de 1952 e 1961, e assim como na primeira sede, apresenta elementos vazados inseridos na alvenaria, como mostruário.

Informativo de 1971 – acervo da APM/FCCR. O texto do informativo segue abaixo.

Em 10 de julho de 1942 foi fundada, com personalidade jurídica, a atual CERÂMICA WEISS S.A., então firma solidária Irmāos Weiss, tendo como sócios fundadores Roberto Maximiano Weiss e Mário Alfredo Weiss.

A história da atual Cerâmica Weiss remonta aos tempos da instalação da indústria pirioneira de São José dos Campos, BONADIO S.A. FÁBRICA DE LOUÇAS SANTO EUGÊNIO, idealizada pelo saudoso Eugênio Bonadio, firma então constituída com a denominação de Bonadio-Lorenzoni & Cia. Com a morte de seu fundador, prematuramente em 10 de junho de 1921, antes de ver seu ideal concretizado, tomou a frente da família e do empreendimento, sua esposa, também saudosa Anna Santorio Bonadio que, juntamente com seus filhos e filhas, deram continuidade à aquale ideal, tendo então, em 18 de julho do mesmo ano sido firmado o contrato social de fundação.

Para lá convergiram a mão de obra dos demais membros da família, inclusive dos Irmãos Weiss, Roberto e Mário, casados com Ines Maria Antonieta Bonadio e Sergia Elza Bonadio, filhas de Eugênio Bonadio e Anna Santorio, lá permanecendo até o ano de 1941.

Especializada a Bonadio em louça para mesa, dedicaram-se os Irmãos Weiss na produção de objetos de adorno para o lar, então sem similar no mercado brasileiro, vindo a indústria a se transformar no maior estabelecimento do gênero em toda a América do Sul, posição que ocupa até hoje.

Estabelecidas as bases do empreendimento que se solidificaram nos dois anos seguintes, em 10 de julho de 1942 foi assinado o contrato de constituição, tende, a indústria florescente, recebido a razão social de IRMÃOS WEISS, com um capital inicial de Cr$ 20,00, elevado posteriormente, para C$ 1.000,00.

Além dos dois irmãos, foram admitidos em 1952 como sócios da firma, Sergia Elza, Ines Maria, Leopoldo Eugênio Bonadio Weiss, Sergio Adelchi Bonadio Weiss e Mário C. Bonadio.

Em 28 de janeiro de 1952, foi a então firma solidária, transformada em sociedade anônima, com capital social de Cr$ 2.500,00.

Atualmente, conta ela com um capital de Cr$ 722.000,00, sendo seus acionistas Mário Alfredo Weiss, Roberto Maximiano Weiss, Sergia Elza Bonadio Weiss, Ines Maria A. Bonadio Weiss, Leopoldo Eugênio Bonadio Weiss, Sergio Adelchi Bonadio Weiss, Fernando Antônio Bonadio Weiss, Beatriz Helena Weiss Pessoa e Ana Weiss Martins de Lima, além de participar de seu quadro social vários de seus empregados como acionistas preferenciais.

Integram sua linha de fabricação os mais variados produtos, desde peças ornamentais, tais como vasos, cinzeiros, centros, castiçais, até produtos para a construção, la- jotas em relevo, brise-soleil (conhecidos como cobongós), elementos vazados para divisão de ambientes, além de sua famosa linha de refratários para uso doméstico (forno e mesa) e ainda as mais variadas peças de utilidades, como filtros, talhas, jogos de chá e café, de sanduíches, para aperitivos, etc., todos produzidos manualmente, com emprego de alta mão de obra especializada (perto de 380 empregados).

Essa infinidade de produtos, é feita em louça calcárea, tipo faiance, vendidos na totalidade dos Estados brasileiros, de norte a sul e de leste a oeste, além de exportações já realizadas para outros países da América do Sul, do Norte, África e Europa, bem como sua participação na Feira Internacional de Lourenço Marques, a ser inaugurada no dia 15 de julho.

Dentre seus maiores fregueses, destacam-se: Lojas Americanas, Lojas Brasileiras, Sloper, Mappin, Gabriel Gonçalves, Mesbla, Pirani, Eletroradiobraz, Sears, Isnard, Roberto Simões, Casas da Banha, Peg-Pag, Pão de Açúcar, Super Bom, etc.. Atualmente, com área construída de 8000 m2, em terrenos de sua propriedade que medem perto de 21000 m2, seu faturamento mensal atinge a casa dos Cr$. 500.000,00, e uma produção física de 80.000 unidades, contribuindo com um recolhimento anual de ICM e IPI, na ordem de Cr$ 780.000,00 e C$ 600.000,00, respectivamente.

Este bloco “esconde” as características arquitetônicas do bloco primitivo que expressa a “linguagem arquitetônica” aplicada no conjunto. Portanto não traduz a “substância” da Weiss.
Na planta de 1961, é indicado como setor de “exposição”. Também encontramos o termo de “venda ao público” em outro material.

Elementos de Preservação – Setor Fabril:

1 – Bloco da Gerência – registro fotográfico: 04.09.2009 portaria, gerência, escritório, arquivo, ambulatório, sala de reuniões, diretoria, exposição, copa e sanitários.

Edificada com tijolo de barro maciço assentado com argamassa também de barro, sem revestimento na vedação, deixando os tijolos à vista. A argamassa foi aplicada no barrado, pilares, na altura das vigas e arremate da platibanda. Esta argamassa tem forma “amassada”, em alto relevo. As esquadrias são de ferro e vidro liso transparente e verga reta.

A proposta do DPH para esse bloco é a inclusão na categoria de Elemento de Preservação 2 – EP-2, tendo como característica básica a técnica construtiva, a fachada e a volumetria.

Vista 1 – bloco da gerência – pátio para automóveis
Vista 2 – face leste
Vista 5 – face oeste – a parede indicada deverá ser removida

2 – Cabine de Transformação – registro: 08.04.2009 e 04.09.2009
Edificada em 1944 e 1945

Apresenta uma “torre” e um bloco longitudinal (ampliação) no alinhamento da calçada da Avenida Rui Barbosa. Foi edificado com a mesma técnica construtiva do Bloco da Gerência. Tijolo de barro maciço assentado com argamassa também de barro, sem revestimento no “pano” de vedação. A argamassa foi aplicada no barrado, pilares, na altura das vigas e arremate da platibanda. Esta argamassa tem forma “amassada”, em alto relevo. Apresenta vãos circulares com esquadria de madeira veneziana e moldura com argamassa. Algumas pastilhas foram inseridas na parte superior do trecho construído em 1945 – ampliação da cabine de transformação; na elevação Oeste, os vãos são de verga reta.

A proposta do DPH para esse bloco é a inclusão na categoria de Elemento de Preservação 2 – EP-2, tendo como característica básica a técnica construtiva, as elevações e a volumetria.

Vista 1 – fachada leste – Avenida Rui Barbosa
Vista 2 – face sul
Vista 3 – face oeste
Vista 4 – localização das pastilhas inseridas
Vista 5 – pastilhas – face leste

3 – Bloco de Produção – registro: 08.04.2009 Área da Produção da fábrica, edificada em 1944

Esse foi o primeiro bloco edificado. Traduz a “substância”, a “expressão arquitetônica” da Fábrica. Apresenta a platibanda com argamassa sobre a estrutura, e vedação com tijolo de barro maciço à vista. O “pano” maior foi alterado com a construção do “puxado”.

Estas paredes podem ser adotadas como pórticos; destacadas e iluminadas sobre um jardim, resguardando o bloco da gerência das novas construções.

A proposta do DPH para esse bloco é a inclusão na categoria de Elemento de Preservação 2 – EP-2, sendo a parte estrutural – vigas e pilares os elementos representativos da característica básica desta parte da Fábrica. Parede da lateral face Sul e parede frontal face Leste.

4 – Seção de Pintura – registro: 04.09.2009

Esse setor foi edificado com a mesma técnica construtiva do Bloco da Gerência e do Bloco de Produção. Ainda mantém a “expressão” arquitetônica da Fábrica, incluindo a platibanda com argamassa sobre a estrutura, e a vedação com tijolo de barro maciço à vista.

Também pode ser adotada como pórtico; destacada e iluminada sobre um jardim, seguindo a parede do bloco da produção, delimitando onde foi a seção de pintura.

A proposta do DPH para esse bloco é a inclusão na categoria de Elemento de Preservação 2 – EP-2, sendo a parede frontal, face Leste o elemento representativo da característica básica desta parte da Fábrica.

5 – Painéis da Escola Weiss

Defronte ao prédio que foi a escola Weiss encontramos dois painéis. Um no alinhamento da calçada em cerâmica vermelha com a insígnia escola Weiss, no canto superior esquerdo. A cerâmica é de formato retangular com aplicação de linhas em três tonalidades (branca, preta e verde), o texto é de letra cheia na cor branca. Tem a assinatura da Senhora Ignes Weiss. O outro painel está em paralelo e deslocado deste, aproximadamente 1,50m, para trás. É de cerâmica vazada na cor amarela, de altura mais elevada que o primeiro.

Todos os elementos foram executados na Weiss.

A proposta do DPH é a inclusão de cada um na categoria de Elemento de Preservação 1 – EP-1, não podendo ser alterado, mutilado ou deslocado. Pois, delimitam o local onde era a escola.

1 – área da Escola Weiss – painéis de cerâmica
painel de cerâmica vazada
painel de cerâmica vermelha retangular

Setor de Venda ao Público – exposição
Apresenta “elementos” de interesse isolado – remover para acervo da Cerâmica Weiss.

Este bloco apresenta “linguagem” arquitetônica diferente dos demais blocos apresentados. Tornou-se um obstáculo à percepção do bloco de interesse; porém, possui na fachada peças executadas pela Cerâmica Weiss, elementos vazados – “cobogós” de cerâmica; internamente piso revestido de pastilhas sextavadas na cor branca e amarela, e uma divisória de elemento vazado de cerâmica na cor verde folha, igual ao painel encontrado em uma das Residências da Família, reforçando seu valor.

A proposta do DPH para esse bloco é a demolição para valorização e visibilidade ao bloco posterior indicado à Preservação com EP-2.

À demolição deverá ser precedida a remoção e guarda desses elementos como exemplos da técnica, e do saber fazer da Weiss.

OBS.: Não há garantia da preservação para as pastilhas do piso, pelo estado de conservação e técnica de instalação.

Divisórias
Cobogós
Cobogós
Cobogós
Piso

Análise e definição dos EPs Weiss Promotoria

Carolina Camargo
Estagiária de Arquitetura

Thafarel Guilherme da Silva
Estagiário de Arquitetura

Sonia Vidal Di Maio
Arquiteta e Urbanista

Divisão de Patrimônio Histórico – 15 de setembro de 2009

Nota: Não posso afirmar se a atual obra realizada no complexo da Cerâmica Weiss levou em consideração o presente estudo. (Wagner Ribeiro)

Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Mídias Sociais: sjcantigamente
WhatsApp: (12) 99222-2255
e-mail: sjcantigamente@gmail.com

One comentário em “Proposta de preservação da Cerâmica Weiss (2009)

Comente se há informações extras, escreva suas recordações ou mesmo o que achou desta publicação. Agradeço por sua participação!