João Martins, da Ótica São José

João Martins Júnior 77, nascido em Santa Vitória, sub-distrito de Ituiutaba, MG, em 25 de junho de 1923, João Martins da Assumpção Jr, filho de João Martins e Ana Venâncio da Silva sentiu, desde criança, que teria de enfrentar a vida com muita dedicação e trabalho. O violão é seu instrumento preferido e a música é uma de suas grandes paixões. Tocando andou por uma parte do Brasil e terminou na capital paulista. O destino o levou ao ramo ótico, em São Paulo, depois Jacareí e São José dos Campos onde é o pioneiro e conhecido como o sêo João da Ótica. No tempo que sequer havia um médico oftalmologista na cidade…

João Martins fala: a música é uma coisa de família, meu pai tocava pistão, era maestro da banda municipal. Meu nome era João Martins da Assumpção Jr., tirei o Assumpção. Minha mãe chamava-se Ana Venâncio da Silva. Meus pais se separaram e ele casou-se novamente. Somos em quatorze filhos, sendo 3 mulheres. Estamos em nove vivos. Uma parte está em São Paulo, outra mora em Goiânia, alguns em Santa Vitória onde nasci.

Com treze anos fui para Ituiutaba, aos dezesseis viajei para Uberlândia, MG, onde trabalhei no comércio entre outras coisas. Sempre tive uma queda para a música e aprendi a tocar violão. Fiquei conhecendo o João Tomé que se tornou um bom amigo. Gostou do meu acompanhamento e me levou para a Rádio Clube de Uberlândia.

Era moço, estava com dezenove anos gostava de música e da vida. Foi quando apareceu na cidade um baiano, com alguns músicos. Passou a se apresentar nas rádios com um programa chamado Afoxé. Nos conhecemos e o nordestino, gostando do nosso trabalho musical, nos contratou para acompanhá-lo.

De Uberlândia partimos para Araguari, Ipameri, Goiânia, Brasília não existia ainda. Na volta, passamos por Uberaba, Ribeirão Preto, Araraquara, São Carlos, Limeira, Campinas. Acabamos parando na capital paulista. Foi quando percebi que não sobreviveria tocando violão.

Procurei o chefe do conjunto para um acerto, a minha intenção era sair, procurar outra coisa para sobreviver. O nordestino falou que nada me devia. Pelo contrário, ainda era eu que deveria pagar. Devolvi a camisa amarela e a calça verde.

No jornal Diário Popular vi um anúncio onde se procurava uma pessoa para dirigir um departamento de discos e rádios. Me dirigi ao endereço, me candidatei e assumi o serviço. Era uma ótica, A Oculista, que estava instalando um departamento de som com discos e aparelhos de rádio, na av. Rangel Pestana, 2.169, entre o largo da Concórdia e a Maria Marcolina, isso em 1942. O proprietário da loja chamava-se Ebrain Astar Zadeh uma boa pessoa. Eu estava com vinte anos e fiquei na empresa até os vinte e nove.

João Martins com as vizinhas Priscila e Júlia Moreira Marques da Mel House, filhas do casal Francisco Rosa Marques (saudoso Chiquinho Marques) e Ana Luiza Marques.

Ótica: a venda de discos e aparelhos de rádio não era lá grande coisa e passei a me interessar pelo setor de ótica. Aprendi a atender as pessoas, percebi que o ramo era bom. Comecei a trabalhar com as lentes, armações de vários tipos. Gostei do ramo e senti vontade de abrir a minha própria loja. Dai para frente, sempre perguntava aos clientes: de onde o senhor é? De Jacareí era a resposta. Outro vinha de São José dos Campos, os nomes dessas cidades se repetiam muitas vezes.

São José tinha uma má fama danada, cidade de tuberculosos, e a turma punha medo na gente. Por causa disso, resolvi me estabelecer em Jacareí, em 1951. Fiquei por oito meses. Naquela época, o Vale do Paraíba era conhecido como Vale da Fome, São José era São José dos Micróbios e a Central do Brasil se chamava Caveira de Burro.

Fiz bons amigos em Jacareí, trabalhava bem na cidade. Alguns clientes de São José pediam, me encorajavam a mudar para a São José. O argumento maior foi: “oh João Martins, você tem medo da tuberculose? É muito mais fácil pegar por aqui do que em São José, lá o doente está confinado e só sai à rua quando está negativo. Já em Jacareí, qualquer um pode estar doente, tomando café ao seu lado.” Me convenci, vim à São José e gostei. No mesmo dia, aluguei loja e residência e cá estou.

São José: já vim casado e com três filhos. Minha primeira esposa por vinte e sete anos chama-se Ivone e meus filhos: Edinson Flávio, Sônia Maria e Vera Lúcia. Do segundo, com a Josecléia, que conheci em 1970, tenho uma filha, a Ana Cláudia. Vivemos há vinte e oito anos.

Família: quando chegamos à São José o meu filho Edson Flávio Martins tinha sete anos, hoje é médico urologista, formado pela primeira turma da Faculdade de Medicina de Taubaté. Está radicado aqui, é casado com a também médica, dra. Vera Lúcia Sgarbi Martins, de São Paulo. Se conheceram e namoraram durante a residência médica, no Hospital das Clínicas, na capital. Do casamento tiveram duas filhas uma delas, a Camila, infelizmente faleceu num acidente que também ceifou a vida da filha do Osni Becker. A outra minha neta chama-se Tarsila e me deu uma bisneta, Camila, com três anos.

A minha filha Sônia Maria é casada com o Carlos Marcovitch, tem três filhos, Flávio é engenheiro da Ericsson, Marcio trabalha numa distribuidora de leite em São Paulo, e a Luciana que faz Faculdade de Direito. A Vera Lúcia, também minha filha, está separada e tem um casal de filhos, Márcio e Cristiane. Do segundo casamento tenho a Ana Cláudia que vai casar-se com o Paulo Alexandre Figueira da Costa, gerente dessa ótica.

São José dos Campos: o primeiro contato foi com o Roberto Tavares, contador da Casa 152, de propriedade do Remo Cesaroni e uma loja, na rua Sebastião Hummel, 101. Depois, notei que a localização não era muito boa. E um ponto na rua Quinze de Novembro me foi oferecido, ao lado da Relojoaria Pinto Pereira.

Sucesso: a aceitação por parte do povo de São José dos Campos foi maciça. Quem queria óculos não necessitava mais viajar para São Paulo, Taubaté ou Guará, nós atendíamos. Vinha muita gente das cidades vizinhas, litoral e do Sul de Minas.

O único inconveniente era não haver médico oculista em São José. O doutor Colombo Ortiz, de Taubaté, já falecido, aparecia uma vez por semana, aos sábados. Durante a semana uma moça marcava as consultas para ele. Primeiro oftalmologista: demorou bastante para um especialista se radicar por aqui. O primeiro foi o falecido dr. Bernardo Grabois, mais otorrino do que oftalmo. Vindo do Rio de Janeiro, separado da primeira esposa, vivia com uma senhora chamada Dulce, não tinham filhos. O consultório ficava na esquina da avenida Nelson d’Ávila com João Guilhermino. Onde hoje está aquele edifício verde da Conépura. Depois, vieram outros: dr. Antônio Lima, dr. Shiogi, dr. Bolívar, o dr. Raul Viana se formou… Atualmente temos médicos excelentes em São José.

Década de 50: eram três indústrias de base, a Tecelagem Parayba, a Cia Rodosá de Rayon e a Cerâmica Weiss. As famílias Becker, Weiss e Bonádio eram as ceramistas. A Weiss com mais proeminência, já que exportava.

João Martins atendendo Benedita da Silva Borges, paciente da dna. Vera Raquel.

Tranquilidade: vivíamos sossegados, sem preocupações com assaltos ou violência.

A patota: a turma se reunia no bar Paulistano, o dr. Carlino Rossi, o Tinhinho, um carecão chamado Edvar Ricardo. O dr. Nelson d’Ávila era vivo e muito estimado. O Pierino Rossi foi pioneiro da construção civil com uma centena de prédios.

O comércio: a Casa Diamante era boa, com duas lojas na rua Quinze. A Casa Cremer do Moisés e d. Rosa vendendo de tudo, calçados, roupas masculinas e femininas. O Saul Vieira, pai do Rui, estava começando a trabalhar na rua, com as mercadorias dentro de uma malinha, nos anos cinquenta. Chegava nas casas das pessoas e vendia camisas, calças, roupas femininas, prosperou. Tinha a Casa Verde, a Casa Confiança, a do Baden Cury, a do Fuad Calil, do Fuad Cury, do Said Calil conhecidos como os “turcos donos do comércio”.

Rua XV: era o Bar Santa Helena com um hoteleco em cima, o prédio do Alípio Viana com as Casas Pernambucanas em baixo. Isso aí e quase mais nada. Fiquei por uns dez anos no número 47, depois mudei para o número 155. Fui para a rua coronel José Monteiro e para o Shopping Center São José, no Centro, onde permaneci por vinte e dois anos, depois para o Sala Shopping, em seguida para onde estou na Ademar de Barros, onde pretendo ficar até quando Jesus me chamar.

Diversão: naquele tempo, os saraus dançantes eram aos sábados e domingos, na Associação Esportiva São José, no salão do primeiro andar. Eram muitos eventos, festas e casamentos importantes no Tênis Clube e no famoso H-13, do CTA, com bailes marcantes. O conjunto musical Biriba Boys, do Sérgio Weiss, era a coqueluche. Sempre comparecíamos, minha ex-esposa e minhas filhas. A minha filha Sônia sempre foi linda e é até hoje. Tinha o Rock and Roll em tudo quanto era lugar. As tradições eram respeitadas e os saudosistas dançavam aquelas valsas bonitas.

Rádio Clube: fui assistir a um programa na Rádio Clube, ainda na rua Quinze de Novembro, hoje Casas Bahia. O responsável pela Clube era o Aniz Mimessi, nome verdadeiro Nassim Mimessi. No programa vi um rapaz tocando. Disse a ele que tocava violão e se quisesse poderia acompanhar, ele ouviu e gostou entrei e acabei dirigindo o Regional da Rádio Clube por quinze anos.
Quando a rádio mudou para a rua Mário Galvão eu ia quase todos os dias, violonistas, pandeiristas. O Martinzinho, o José Siqueira, o Black Out, eu, o Walter, cantor era o Guido Torquetti, uma turma boa. O Antônio Leite veio de Taubaté com a esposa Lurdinha, começou a trabalhar na Clube e inventou um programa chamado “Clube dos Maiorais” depois foi para a rádio Piratininga e ficou por lá.
A parte infantil da Clube era dirigida pelo Ubirajara Brasil, o locutor principal daquele tempo e pai do Ubirajara Brasil Júnior que é advogado. Na Clube estavam o Mimessi, o Mauro, o Newton, o Álvaro Gonçalves, duas assistentes que não me recordo os nomes, umas dez pessoas. Não ganhava nada, somente prazer.

Walter Ovale: um grande amigo era coletor estadual. Tocávamos juntos nas festas particulares. Já vi som bonito de cavaquinho, igual ao dele nunca, tenho as gravações. Na Rádio Clube, passei a acompanhar as músicas do Walter num programa nosso, às sextas-feiras, às vinte horas, chamado “Recordar é Viver”. A audiência era grande, a locução do Nilton Silva e do Álvaro Gonçalves, já falecidos. O grande sucesso da Clube começou mesmo quando se instalou e se expandiu, na Mário Galvão. Lá está até hoje integrando a Rede Bandeirantes.

Famílias: a família Synésio Martins, o homem tinha uns dez filhos. Veneziani, Bráulio de Melo, Friggi, do Henrique Mudad. Umas cinco famílias destacadas. O”footing” acontecia na rua XV e os namoros também.


EM LETRAS GRANDES


Dr. Altino Bondesan, representa uma boa parte da História Joseense, viu chegar o ótico João Martins e afirma: “sempre tive problemas oculares e antigamente era obrigado ir à Taubaté. Naquela época, o que se tinha em matéria de óculos era a Casa Diamante com uma coleção de óculos de vários graus. A pessoa pegava o Estado de São Paulo e ia lendo, trocando os óculos. Isso em 1935, assim foi até o final da década de 40. O João Martins trouxe pela primeira vez uma ótica para São José onde podíamos aviar as receitas médicas com a maior segurança, escolhendo o estilo da armação, o preço e as condições de pagamento. Um moço simples, logo ficou muito estimado. Muitas vezes vendia fiado para gente necessitada sabendo que não receberia. Um excelente violonista, formou com o Walter Ovale um duo de violão e cavaquinho muito apreciado que se exibia na Rádio Clube. Se integrou rapidamente ao comércio joseense e tornou-se membro e diretor da Associação Comercial.”

Maurício Peneluppi, dono da Visotica, foi um dos que aprendeu a trabalhar em ótica com João Martins: “tinha quatorze anos e considero um grande privilégio ter sido um dos primeiros funcionários do João Martins. A ótica estava precisando de um boy e com o tempo acabei virando aprendiz, isso em 1953. Trabalhei com ele durante sete anos. É excelente pessoa, me incentivou muito. Acho que é próprio do espírito dele contribuir com o ser humano.
Em 1959, me estimulou e apoiou para que pudesse abrir minha própria loja.
A homenagem que se presta ao João Martins como profissional e figura humana é muito justa. E vou além, acho que é uma obrigação nossa que pertencemos ao mesmo segmento reconhecer os méritos do grande amigo João Martins. O primeiro ótico, o pioneiro na cidade de São José dos Campos.

Texto e fotos por Ricardo Faria, jornal Vale a Pena, Julho de 2000 (fariaricardo493@gmail.com)

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