Benedita Vicentina Miragaia Mendes é uma querida joseense nascida na rua Humaitá, em 5 de agosto de 1927. Filha de Benedito Ferreira Candelária proprietário das fazendas Santa Bárbara, Santa Clara e São Jerônimo e de Ismênia Miragaia. Recebeu do Dr. Rui Rodrigues Dória o apelido de Jaú já no nascimento, o mesmo dia em que o aviador aventureiro Ribeiro de Barros chegou ao Rio de Janeiro com o seu avião “Jaú”. Esportista, educadora, diretora do João Cursino, alguém que sempre elevou o nome da cidade nas competições esportivas e nos movimentos políticos. Conversar com dna. Jaú é poder relembrar os bons tempos da São José dos Campos dos anos quarenta, cinquenta, sessenta… Figuras joseenses importantes com ela convivem e guardam dela, com certeza, muita admiração e respeito.
E lá vai a dna. Jaú, uma das mais importantes personalidades dessa terra. Assim teve início o particular interesse em desvendar a intimidade dessa glamurosa mulher. Marcamos e estivemos na rua Dolzani Ricardo, 91, no fim da tarde do dia 17 de novembro. Ela nos presenteou com uma narrativa apaixonante. Assim é e sempre foi a dna. Jaú Miragaia Mendes. Conheça um pouco dessa história.
NASCI PELAS MÃOS DO DR. RUI DÓRIA e o Olívio Gomes que era muito amigo do meu pai também estava presente. Estudei o Primário, Ginasial e Curso Normal na Escola Normal Livre Municipal, na Praça Afonso Pena, depois Escola Normal e Ginásio Estadual João Cursino e Câmara Municipal um prédio que havia sido propriedade da família Lebrão. A gente cantava os hinos à Bandeira e o Nacional. Após o curso Normal fui estudar Pedagogia em São Paulo, na Escola Caetano de Campos, em São José não havia faculdade.
ALGUNS DOS MEUS PROFESSORES NO PRIMÁRIO: Dona Nazaré de Moura, Dona Nair… Meus colegas de escola: O Rui Veneziani, o Sérgio Weiss, o Leopoldo Weiss, Newton Cursino o filho do Nenê Cursino que tinha o jornal Folha Esportiva, Antônio Carlos e José Airton de Oliveira que depois casou-se com a minha prima Beli Ferri.
NO GINÁSIO, OS MESTRES FORAM: de Português e Latim, Everardo Passos. Também de Português, o Prof. Domingos de Macedo Custódio. D. Maria Luíza Medeiros, de Francês, o Hélio Bevilacqua de Inglês, gente fina, solteiro, quis me namorar, me chamava de Tondolei por causa de um filme com a Edi Lamarca, queria me levar para os Estados Unidos. O Hélio era terrível, o maior conquistador de São José. Depois começou a namorar a Leni, filha da D. Ismênia Ferreira e casou-se com ela. Tive aulas também com o Benedito Zoroastro, Vasconcelos, Joaquim de Moura Candelária meu irmão, José Miragaia de Souza e Moacir Benedito de Souza Miragaia, filho da tia Lita que me ensinou matemática e Jorge Barbosa. Eu estava trabalhando no João Cursino quando a falecida Helena Calil lá estudou e até ganhou uma bolsa de estudos par estudar na França.
NOS ANOS 50 AS MOÇAS E RAPAZES FAZIAM O FOOTING da praça Afonso Pena até a praça da Matriz. Eu namorei muitos, o Plínio Bonadio Cará, o Severo Gomes que foi logo me dizendo: “você sabe que o nosso casamento foi tratado pelos nossos pais?” Como assim perguntei?
“O seu pai prometeu você para o meu pai para casar comigo.” E perguntei ao meu pai que confirmou o fato. Namorei o Severo uns dois anos, ele ia me ver na casa do meu tio Francisco Amarildo Miragaia quando estudei em São Paulo.
A gente namorava no Jardim da Aclimação todas as noites até as 22 horas. Depois namorei bastante, rapazes de Campinas, de Santos. De São José, tive o Vicente de Barros, Antônio Romão Gomes casado com a minha amiga Cinira Poli que jogou basquete comigo. Namorei o Montanarini um jogador de basquete.
EM SEGUIDA COMECEI A NAMORAR O Cláudio Falco Mendes que jogava basquete em Taubaté e havia vindo para São José. Me casei em 24 de maio de 1952. Com ele tive seis filhos, cinco vivos: a Malu Regina casada com o Willian Maler, o Cláudio Henrique que faleceu, no terceiro coloquei o mesmo nome, a Mara Cristina, Vânia Regina e o André Luis Miragaia Mendes.
JÁ ERA PROFESSORA QUANDO ME CASEI. Fui diretora e colega dos meus professores. O Prof. Custódio era uma pessoa excelente. Casou com a Olga, uma de suas filhas casou com o Jessem, diretor do INPE. Sou do tempo do Estado Novo, do Getúlio Vargas ditador. Votei pela primeira vez logo após a queda de Vargas, em 1945. Me lembro que a mamãe era do lado do prefeito Pedro Pompílio Mascarenhas. Estudante revoltada, era da UDN, com a Neusa Mattar a Dirce o Jamil Mattar. Na Câmara Municipal tinha o Dr. João Auricchio, o Pedro Davi… Até fiz um discurso no palanque erguido onde hoje é o Bradesco: – Atenta povo da minha terra, somos os jovens formados sob a atmosfera de mentiras do Estado Novo. Que, não corrompidos por ele, vêm apelar pela dignidade dos velhos para que marchemos, ombro a ombro, na jornada cívica da redemocratização do país.
O PROF. EVERARDO PASSOS VEIO ME CUMPRIMENTAR, disse que tinha falado muito bem. Quando cheguei em casa quase apanhei da mamãe que era muito braba e do partido contrário, o PSD.
EM 1932, MEU PRIMO EUCLIDES MIARAGAIA quando soube que havia metralhadoras instaladas na Praça da República, ele e uns colegas foram para lá de peito aberto. Resultado: foram metralhados. O velório foi no antigo Colégio Olímpio Catão, na época o suntuoso Chalé dos Baracho, demolido depois pelo prefeito Elmano Ferreira Veloso a pedido do Renato, diretor da escola que não dava a mínima para a preservação dos prédios históricos. O material, verdadeiras obras de arte, foi levado para a casa do então deputado Arnaldo Cerdeira, na capital.
O ESPORTE ENTROU EM MINHA VIDA com a vinda para São José do professor de Educação Física, Edésio del Santoro como diretor do João Cursino que montou a equipe feminina de basquete. E daí começamos a competir por aqui e nos Jogos Abertos. Eu jogava vôlei e basquete e fui da seleção paulista e brasileira em 1944/45 quando vice-campeãs em Santos. Em 47 vice em Sorocaba. Em 48 em Santos novamente. As titulares eram eu, a Cinira, a Cirene, a Dirce Marson e a Doca. Quando fiquei noiva do Cláudio, fui convocada para a seleção brasileira para os jogos no Peru. Ele se opôs por ciúmes. O PREFEITO FOI LÁ EM CASA, OS WEISS, OS BONADIOS, O Dr. Florence, todo mundo pedindo e a mamãe não teve como dizer não. E eu fui, ficamos em terceiro lugar, o campeão foi o time da casa, a Argentina em segundo e o Chile em quarto. Voltei e ainda competi em Rio Claro. Em oito de dezembro, no dia do segundo casamento do Elmano Ferreira Veloso, o Cláudio foi em casa e pediu para ficar noivo e casar em maio.
O VELOSO FOI O MELHOR PREFEITO QUE SÃO JOSÉ JÁ TEVE. Era do Estado do Rio, veio para cá tuberculoso como o Dr. Sebastião Pontes, o Dr. Dória, Dr. João Auricchio, Dr. Soares, o Dr. Ivan de Souza Lopes, o Dr. Rosemberg, o Dr. Rezende, o Dr. Altino Bondesan, o Dr. Florence e outros que vieram, se curaram por causa do clima bom e continuaram morando aqui. O Dr. Altino era outro namorador, passava sempre aqui em casa cheio de conversa mole. Sobreviveu e se casou com uma moça de Pindamonhangaba com quem teve vários filhos, o Amílcar mais dois.
A NICA VENEZIANI ERA UMA ÓTIMA PESSOA, muito amiga da mamãe, eu ia sempre na casa dela. O filho dela, o Rui Veneziani, marido da Cirene Poli, foi meu colega de escola. A Nica muito jovem, com 16 anos, se uniu ao Audemo, com 46, num casamento arrumado pela família.
Era um tempo bom. Mesmo com o pessoal de fora tendo medo da cidade que tinha vários sanatórios. O pessoal passava de trem e punha o lenço no rosto para se proteger. Nós que aqui morávamos sabíamos que não havia perigo, pelo contrário.
O DR. FAUSTINO D’ÁVILA E O IRMÃO DELE O JOSÉ foram meus colegas de escola, o Rubens Savastano também.
O Faustino um dia me falou que nós todos joseenses somos imunes à tuberculose. As moças daqui iam de bicicleta lá no Vicentina Aranha para namorar os doentes. Não havia muro era só cerca de bambu.
NÃO VOU FALAR OS NOMES porque elas são todas vivas e minhas amigas. Eu nunca fui, existiam vários sanatórios, na rua Paraibuna o Sanatório dos Judeus e outros. Só vinha cá quem tinha dinheiro para se tratar.
O COMEDIANTE CHICO ANÍSIO mesmo veio se tratar no Vicentina Aranha, o Paulo Setúbal, pai do Olavo Setúbal, chegou doente e foi namorado da minha madrinha, era poeta e fez uma poesia para ela.
Texto por Ricardo Faria, jornal Vale a Pena, novembro de 2004 (fariaricardo493@gmail.com)
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