Jânio, sanduíche e tuberculose

Outra figura marcante de minha infância foi Jânio da Silva Quadros. Vestindo sempre um sobretudo preto, coberto de caspas, antes de falar ao povo ia atrás do palanque, aguçando a curiosidade das crianças. Fui verificar o que acontecia e a surpresa era ele pegar do bolso do sobretudo um embrulho com papel de pão e tirar um sanduíche de mortadela e passar a comer como quem estava matando a fome. Eu não ri daquela cena, mas não entendia que era uma cena populista embora menos espalhafatosa do que as do Adhemar. Quando governador do Estado, São José ainda era muito conhecida como estância climática. Aqui ainda funcionavam sanatórios e pensões de tuberculosos. A descoberta da estreptomicina, no entanto, acabava com a necessidade do repouso em estâncias climáticas para a cura da tuberculose. E isto ameaçava a economia da cidade, onde era costume se dizer: “São José não precisa de indústrias, precisa de doentes!”. Mas era uma situação irreversível e a cidade industrializava-se com mais intensidade, principalmente com a instalação do CTA e a abertura da Via Dutra.

Não é que o governador Jânio da Silva Quadros pegou uma carona nesta situação?! Montou uma operação sanitária do Estado e uma caravana de fiscais sanitários chegou a São José, vistoriando os bares e restaurantes. O bar mais popular era o Bar Paulistano, na rua 15 de novembro, onde o tradicional café Aurora e Bandeirante era servido em xícaras de louça para os líderes políticos da cidade. Os fiscais sanitários do Estado chegaram e começaram a quebrar todas as xícaras de louça! E no dia seguinte, a imprensa da capital estampava uma fotografia dos fiscais quebrando as xícaras com a legenda: “Contágio!”. Por esta ação, muita gente passou a pensar que foi o governador Jânio Quadros que acabou com as pensões de tuberculosos da cidade e não a descoberta da estreptomicina…
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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