Mário Covas morreu como viveu: lutando, pelejando. E muito! Sua luta pela vida, o País todo acompanhou de perto, pelos meios de comunicação social.
Suas lutas políticas contra a ditadura e pela democracia é necessário rememorar. Principalmente para os mais jovens que só adquiriram consciência política já com a democracia. Bem vivo está, ainda, em minha memória, quando, em 1983, aqui veio, no Cine Palácio, para participar da posse dos eleitos. Ele mesmo, recém-eleito Senador da República também pelo partido que sucedeu o MDB na reforma partidária de 1980.
Na ocasião, um grupo de moradores do Jardim Morumbi, mobilizados por uma liderança emergente, compareceu à solenidade para reclamar contra o abandono do bairro. Pelo momento, houve quem entendesse que o objetivo era o de tumultuar a cerimônia. Ora, o prefeito nem havia tomado posse e já devia enfrentar reivindicações que ele nem sabia se poderia ou não atender?!
O clima ficou tenso, apesar do número diminuto de manifestantes em relação ao numeroso público presente. Covas e os eleitos entraram muito aplaudidos, mas em meio aos discursos ouvia- se o alarido do pequeno grupo de moradores.
Quando anunciado o seu pronunciamento, o senador Mário Covas dirigiu-se diretamente aos manifestantes. E com suas palavras disse que os que estavam ali tomando posse pelo PMDB (antigo MDB), lutaram contra a ditadura e pela democracia, não apenas para terem os seus direitos assegurados, mas também para que se respeitasse o direito dos adversários.
Portanto, disse ele, nós lutamos para que vocês tenham o direito de livremente se manifestarem, como estão fazendo aqui, desde que ordeira e pacificamente. E isto, concluiu, defenderei por toda minha vida. A partir daí, os manifestantes ouviram atentamente o discurso de Covas, sem interrompê-lo.
Mas a relação de Mário Covas com São José, começou muito antes. Em 1968, o MDB quase venceu as eleições de vereadores na cidade, liderado pelo então deputado estadual José Marcondes Pereira.
A cidade havia perdido a sua autonomia política, por ser considerada em lei estadual como estância hidromineral natural, mas o Prefeito ainda tinha sido eleito anteriormente e encontrava-se em exercício. Era ele o saudoso Elmano Ferreira Veloso (Arena).
Nesta conjuntura, o MDB marcou para o bairro de Santana a primeira manifestação do que viria a ser o movimento pela retomada da autonomia política da cidade. A população ainda não estava muito atenta à mudança que ocorrera. Era preciso uma atração de renome para o comício. Os políticos da cidade convidam para ser a atração principal do comício pela autonomia política joseense o jovem líder do MDB na Câmara dos Deputados, Mário Covas Júnior.
Na noite da manifestação, em plena praça Matriz de Santana, um caminhão basculante de uma empreiteira do município, colide com um poste da iluminação pública e o bairro fica todo às escuras. A ditadura não havia podido impedir o comício de um jeito, mas estava querendo prejudicá-lo de outro modo, afirmaram os presentes.
Reunimos um grupo de vinte a trinta veículos e todos viraram os seus faróis para a carroceria do caminhão que serviria de palanque. A aparelhagem de som estava ligada na bateria e Mário Covas pode fazer um dos discursos mais emocionantes que ouvi.
E foi o seu último comício na época. Veio o AI-5 e ele foi um dos primeiros cassados sob o pretexto de que liderou a Câmara dos Deputados na votação contra a licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves (MDB). Sempre, quando vinha a São José, Covas lembrava-se dessa passagem.
Aliás, Santos e São José sempre se consideraram cidades irmãs. Isto porque Santos também perdeu a sua autonomia política na mesma época de São José, quando foi declarada área de segurança nacional. A ditadura entendia que a eleição de Esmeraldo Tarquínio, para Prefeito com apoio de Covas, era inaceitável numa cidade portuária, estratégica.
Mesmo cassado, em todas as oportunidades em que foi procurado para integrar a luta pela autonomia de Santos e de São José, Mário Covas sempre se fez presente, apesar dos riscos que corria. Em 1978, São José recuperou a sua autonomia. Quase na mesma época em que Santos. E Mário Covas, depois de dez anos de cassação, voltou nos braços do povo para ser senador e governador de São Paulo. (2001)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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