O Fuad Cury paga!

A história se repete com a Família Cury. Em 1972, o saudoso médico Jorge Cury, tio do Eduardo, elegeu-se o Vereador mais votado pela ARENA, o partido oficial. Como secretário do MDB, o partido da oposição, que havia vencido as eleições para vereador (não havia eleição para prefeito), preparei a prestação de contas e percorri os membros do comitê interpartidário de inspeção pegando a assinatura de todos, inclusive os indicados pela ARENA, para sua aprovação. Em seguida, protocolei tudo na Justiça Eleitoral.

Esperei decorrer o prazo para a entrega da prestação de contas com a aprovação do comitê interpartidário de inspeção. Achei estranho que os representantes do MDB não tivessem sido procurados para examinar a prestação de contas da ARENA. No dia seguinte fui ao Cartório Eleitoral e constatei que, de fato, a ARENA não havia entregue a sua prestação de contas. Não tive dúvidas, fui para casa e preparei uma representação à Justiça Eleitoral impugnando a diplomação dos vereadores da ARENA.

No dia seguinte, o jornal “O Valeparaibano” (hoje “ValeParaibano”, depois da reforma gráfica e editorial de 1977) publicou a manchete: “Vereadores da ARENA ameaçados de cassação por falta de prestação de contas”. Fiz e publiquei a notícia. Era também redator do jornal.

Pela manhã, passei na banca do Sciamarella na rua 15 e com o jornal embaixo do braço ia pela Rua Siqueira Campos para descer a Av. Mário Galvão, onde se situava a Organização Radiojornal. Da porta da “Casa São Jorge” vi o “seo” Fuad (pai do Dr. Jorge e avô do Eduardo) me chamando: “Luiz Paulo! Luiz Paulo!”. Aproximei-me: “Tudo bem, “seo” Fuad?”. Ele com o jornal na mão foi logo dizendo: “Olha, Luiz Paulo, se o Jorginho estiver devendo alguma coisa, manda vir aqui que o Fuad paga!” Aí tive de explicar a ele que não se tratava de nenhuma conta não paga pelo Dr. Jorge e sim de uma prestação de contas que deveria ter sido feita pelo partido.

Querem saber o fim da história? O tesoureiro da ARENA, cirurgião dentista Pedro Yves Simão, alegou que viajou e deixou a prestação de contas com o presidente, o também cirurgião dentista Moisés da Costa Oliveira. Este apresentou atestado médico comprovando que estava internado e deixara a prestação de contas com o secretário do partido, assessor legislativo e advogado Bráulio Novaes de Castro. Este, por sua vez, comprovou que tinha entrado em férias e a prestação de contas ficou trancada em sua gaveta da mesa de trabalho.

Resultado: a Justiça Eleitoral relevou o atraso na entrega da prestação de contas e os Vereadores da ARENA, entre eles o mais votado Dr. Jorge Cury, foram diplomados e assumiram o seu mandato de vereador.

Acabo de ler que o MM Juiz Eleitoral rejeitou a prestação de contas do prefeito eleito Eduardo Cury porque a movimentação financeira da campanha ocorreu em conta bancária do comitê financeiro e não em conta bancária do próprio candidato (com CNPJ?), que foi aberta fora do prazo. E que o comitê da campanha eleitoral apenas transferiu para o candidato bens e serviços. Portanto, não depositáveis em conta corrente. Não se falou em má-fé, em fraude ou em abuso do poder econômico.

Ora, ora, a história realmente se repete. Fiquem tranquilos os eleitores: o prefeito eleito Eduardo Cury vai ser diplomado e tomar posse em 1o de janeiro de 2005. Apenas não vou passar mais pela Rua Siqueira Campos e ver o saudoso “seo” Fuad me chamando da porta da Casa São Jorge todo preocupado com a honra e a honestidade da Família Cury. Mesmo com isto não estando em causa. Apenas formalidades, nada mais que formalidades. Necessárias sim, mas não impeditivas, ontem e hoje, de que a soberania popular prevaleça! (2004)
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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