Conheci pessoalmente o empresário, intelectual e político Severo Gomes em cima de um palanque eleitoral, na praça Afonso Pena, em frente ao prédio da Câmara Municipal, em novembro de 1978. Era o comício de encerramento da campanha do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) que levaria à eleição do prefeito Joaquim Bevilacqua (o primeiro após a reconquista da autonomia política de São José dos Campos).
No mesmo palanque, abraçando as mesmas bandeiras de luta, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Luís Inácio da Silva, o Lula, o sociólogo e professor Fernando Henrique Cardoso, recém vindo do exílio, e o presidente nacional do MDB, deputado Ulysses Guimarães.
Meses antes, Severo Gomes havia rompido com o Governo Geisel, deixando o Ministério da Indústria e Comércio e se juntado com as forças políticas que lutavam pela redemocratização do Brasil. O seu breve discurso foi marcante para todos os que participaram daquele ato público:
“Brasileiros de São José dos Campos! Meus conterrâneos. De todas as formas de participação na vida da coletividade, a política é a maior. Porque é a atividade política que permite ao homem influir em seu próprio destino, influir no destino de seus concidadãos. Esta é a primeira vez que eu participo de uma manifestação política nesta minha terra. A terra onde percorri a minha infância, onde trabalhei a maior parte da minha vida, onde acompanhei os primeiros passos de meus filhos. Uma vida já longa e que marca a responsabilidade da minha participação.”
Severo Gomes rompeu com o Governo Geisel porque percebeu que era impossível promover as mudanças e transformações que entendia necessárias para o País “de cima para baixo”. Era necessário assumir a dimensão da política exercida de baixo para cima. E era o que fazia na praça Afonso Pena naquele momento: “De cima para baixo o que recebemos é uma Lei Falcão, que impede a comunicação. De cima para baixo nós recebemos é uma lei de proibição de greve, aprovada com a submissão dessa ARENA submissa e cúmplice do autoritarismo, da violação dos direitos humanos, do arrocho salarial e que agora vem pedir o voto das suas vítimas!”
Com este importante pronunciamento em praça pública e participando ativamente de todas as campanhas do MDB, ao qual se filiou após o seu afastamento do Governo Geisel e da própria ARENA, o partido oficial, Severo Gomes foi um dos fundadores do PMDB, que sucedeu o MDB em suas lutas políticas. Em 1982, concorreu ao Senado pelo PMDB de São Paulo, vencendo seus concorrentes das sublegendas do partido e os candidatos dos demais partidos com quase três milhões de votos.
Desta época, um episódio marcante. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, José Luiz Gonçalves, queria trazer o Senador Severo Gomes para um debate na entidade sobre a Constituinte com um representante da CUT Central Única dos Trabalhadores.
No dia e horário marcado para o debate, chegava eu na porta do Sindicato dos Metalúrgicos e encontrava o seu presidente aflito: “Será que o Senador vem, Luiz Paulo?” Perguntei: “Ele ainda não chegou?!” Zé Luiz respondeu: “Não! E o pessoal já começou a chegar!”. Quando adentrei ao auditório, deparei com o Senador Severo Gomes paciente e anonimamente sentado à espera de ser chamado para o debate. Voltei e informei o Zé Luiz que ele já havia chegado.
Apesar do cuidado do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos na apresentação do Senador Severo Gomes, solicitando a todos que ouvissem o que ele teria para explanar, no início ouviram-se alguns apupos e manifestações de desagrado de parte do público presente. Aos poucos, no entanto, Severo foi conquistando a plateia com suas ideias e propostas para o presente e o futuro do Brasil, com a sua visão extraordinária de superação dos conflitos pela negociação política para o surgimento de outros à frente”.
Ao completar dez anos, no último dia 12 de outubro, do trágico acidente que levou para a eternidade Severo Gomes e sua esposa Henriqueta, juntamente com outro grande líder brasileiro, o inesquecível Ulysses Guimarães, o “Senhor Diretas”, também com sua abnegada esposa Mora, a simples lembrança de sua atuação como empresário, intelectual e político fortalece a luta de todos nós por um Brasil cada vez mais democrático, progressista e justo. (2002)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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