São José dos Campos, a exemplo de outras cidades, sempre teve suas figuras curiosas, engraçadas, folclóricas mesmo. Não fazem mal a ninguém, mas geralmente são alvo de chacotas. Principalmente por parte das crianças: “-Toicinho!!! gritava a criançada!” E lá ia o Antônio “Toucinho”, de terno escuro e gravata, correndo com o seu inseparável guarda-chuva atrás da criançada, gritando meia dúzia de palavrões.
Não tinha parada militar do Tiro de Guerra, o TG 45, sem que no final viesse também marchando a Maria Regimento. O “OP” ganhou esse apelido porque ia ao Banco do Brasil todo mês perguntar ao caixa: “Já chegou minha Ordem de Pagamento?!” E acabou virando “OP” para cumprimento e gozação! E o Elias?! Um adulto-menino sempre alvo das brincadeiras da estudantada! O Luiz, que de tanto estudar ficou mentalmente perturbado e acabou virando o Luiz “Voltinha”. O pintor de paredes “Barde”, infeliz no amor, bebia e fazia discursos pelas esquinas da pequena São José.
O Big Bem, também pelas esquinas, anunciava as horas e imitava o som do badalo. Já o Dito Pé de Pato trabalhava como entregador de compras na “A Fortaleza”. Foi com o peruzinho (carrinho de mão) fazer uma entrega de carvão no Largo da Piedade, na rua Humaitá. Começou a chover e ele chegou apressado e gritando: “Quem comprou tarvão! Quem comprou tarvão!” Ninguém respondia e ele irritado: “Quem foi o desgraçado que comprou tarvão! Não ta vendo que ta sovendo!” E voltou para “A Fortaleza” com o carvão derretido pelas águas da chuvas.
O mais curioso de todos os tipos de minha infância, no entanto, foi o Pedro Créo. Quando jovem, eu era levado pelo meu pai para assistir aos comícios do Adhemar de Barros, Lucas Nogueira Garcez, Getúlio Vargas, Benedito Matarazzo Filho, Elmano Ferreira Veloso, e pela minha tia para assistir aos comícios do brigadeiro Eduardo Gomes, Juarez Távora, Onadyr Marcondes, acostumei a frequentar a Praça da Matriz.
Ali, no meio da semana, quando não tinha comício dos candidatos oficiais, o Pedro Créo é que fazia os seus comícios, muitas vezes mais concorridos do que os comícios dos candidatos da UDN, PSP, PTB, PSD. Pedro Créo, ou Pedro Lemes, de numerosa família joseense, não sabemos por qual motivo, enveredou-se pelo descaminho da bebida. Quando o conheci morava nos fundos da sapataria do Norberto, na rua Rubião Júnior, quase esquina com a Francisco Rafael, a rua do cemitério.
Ganhou o apelido de Pedro “Créo” justamente por causa da bebida. Chegava no bar e ia logo pedindo: “Põe um créo aí!” Créo era sinônimo de cachaça, pinga, branquinha, que ele bebia de um só golpe. Embriagado, fazia os seus discursos. Em vários lugares como na Sinuca do Miro, mas principalmente na praça da Matriz, onde se armava o palanque para o período da campanha eleitoral e ali ele ficava à disposição de todos. Durante o dia, era palco para as brincadeiras da criançada! E à noite, quando não tinha comício oficial, Pedro Créo pontificava:
“Vocês votem em mim porque eu vou acabar com as subidas. As ruas da cidade vão ter só descidas! Para o pessoal de Santana prometo pavimentar o rio Paraíba.” E de repente mudava de assunto: – “Meu irmão, Zé Lemes, subia a serra de Caraguatatuba com o caminhão em ponto morto, na reduzida e na marcha-ré.”
– “O”seo” Veloso (o saudoso coletor estadual Elmano Ferreira Veloso, operoso prefeito por quatro vezes, duas eleito e duas nomeado) calçou a rua Sebastião Hummel. Mas colocaram a parte lisa do paralelepípedo pra baixo! Se for eleito eu vou botar a parte lisa pra cima. Vai ficar tudo lisinho, uma beleza!”
E quando observava algum candidato na plateia ia logo falando:
– O “Matarazinho” (o inesquecível Benedito Matarazzo Filho, um dos maiores políticos joseenses de todos os tempos. Vereador, Deputado Estadual, Secretário Estadual do Trabalho.) falou que é também pra votar nele. Vocês precisam votar no Matarazinho! O Matarazinho é meu amigo, é gente boa!“
O “Chapéu Velho” era a casa das “prostitutas respeitosas”. Para chegar nele era preciso enfrentar uma íngreme descida por estreita trilha de terra no meio do mato da encosta do “Banhado”, na
rua São José. Quando chovia arriscava-se a escorregões e a banho de lama. Não é que o Pedro Créo aproveitou-se deste fato e nos seus comícios da praça da Matriz arrancava muita gargalhada dos presentes lançando uma grande promessa e novidade na época para atrair os eleitores:
“Se eu for eleito vou botar escada rolante no “Chapéu Velho”! Ninguém vai escorregar mais no tempo de chuva!”
A morte de Pedro Créo me entristeceu tanto quanto antes a morte de Getúlio Vargas e depois a morte do brigadeiro Eduardo Gomes, personagens que povoaram a minha infância em São José dos Campos! (2001)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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