Altino Bondesan o mais velho jornalista é o mais novo Cidadão Joseense. Nasceu em Bento Quirino, São Simão.
O jornalista Altino Bondesan recebe hoje, do povo joseense, todo o reconhecimento pelos seus inúmeros serviços prestados à coletividade, desde que aqui chegou, em 31 de agosto de 1935 para tentar a cura de moléstia pulmonar que o afetara em Campinas, quando exercia o cargo de chefia na indústria de “Chapéus Curi”. Toda uma existência ligada aos meios culturais, vai ser traduzida numa justa homenagem através de um projeto do suplente de vereador Lauro Gilberto Pereira (Arena) que a Câmara em solenidade, logo mais, às 20 horas, estará prestando ao intelectual de Bento Quirino – município de São Simão e, há mais de 45 anos radicado entre nós.
Meus Senhores, Minhas senhoras, colegas e autoridades aqui presentes:
“Coube a mim, nesta oportunidade memorável, a ideia de distinguir Altino Bondesan com esta honraria: Cidadão Honorário de São José dos Campos. Mas para falar algo sobre esta figura singular, precisamos nos reportar ao passado. Retrocedendo no tempo e, numa visualização, veremos o distrito de Bento Quirino. Sim, senhores e senhoras. Lá abria os olhos para este mundo, naquele modesto mas querido rincão próximo a São Simão, aquele que, anos mais tarde, viria, por uma graça Divina, a ser considerado como um dos seus mais eminentes e notáveis filhos, nos campos do saber e das letras. Depois de amanhã, justamente no dia 15 de maio, ele estará festejando mais uma gloriosa passagem na primavera da vida, aos sessenta e dois anos que completará nessa segunda feira, histórica. Como que antecipando ao presente que, todos nós, daríamos ao intelectual, ao jornalista, ao consagrado mestre causídico e escritor, nós, nascidos em São José dos Campos, reconhecidos ao extraordinário trabalho desta personalidade marcante, condecemo-lhe, na qualidade de representantes do povo nesta Casa, o Título muito justo e de que ele há tempos se fez merecedor Mas reportemos então aos seus primeiros verdes anos…
Aprendeu a conhecer as letras que tanto o consagraram, nas Escolas Reunidas de sua terra natal, nos idos de 1924, concluindo brilhantemente o curso primário, no Grupo Escolar Simão Silva” ainda existente em São Simão. Cor 11 anos de idade, ingressou na Estrada de Ferro São Paulo e Minas, no almoxarifado, passando depois à telegrafista, indo finalmente exercer suas atividades na contabilidade daquela ferrovia. (Formou-se contador em 1932, no Instituto Comercial de São Simão). Transferiu-se para São Paulo, onde trabalhou no comércio atacadista, da Rua Paula Souza, próximo onde se localizava naquela época, a Rádio Bandeirantes. Em 1933, mudou-se para Campinas, onde, na Fábrica de Chapéus Curi, trabalhou até 1935, época em que, tendo atingido o cargo de chefia, viu-se forçado a procurar o clima de São José dos Campos, face a moléstia pulmonar que o acometera. Já naqueles idos dias, Altino ao aqui chegar, tornou-se um joseense por adoção. Hoje, há o reconhecimento público, ao longo de tantos anos convividos entre nós.
Altino, herdou suas qualidades intelectuais do pai, Ricardo Bondesan, natural de Rovigo na Itália, que foi poeta e homem de letras. Daí o pendor natural pelas letras e pela cultura. Começou, ainda impúbere, com 13 anos colaborando em jornais cariocas, publicando contos e poesias infantis.
De então para cá, seu nome tem figurado em dezenas de jornais e revistas, assinando crônicas, artigos, reportagens, etc.
Seus contos correram mundo, após publicados em revistas como as antigas existentes e hoje, deixadas de circular: “Alterosa” de Belo Horizonte”, “Revista da Semana” e “Carioca” que circulavam, também, na cidade maravilhosa. Foi durante muito tempo correspondente do “Estado de São Paulo”. No “Estadão” dos Mesquita, foi pioneiro em falar do nosso clima, bem como, propaganda para a vinda de indústrias e casas comerciais de prestígio para a nossa cidade. Fundador do “Jornal da Semana” e do “Centro de Cultura” que existiram como precursores culturais de nossa terra. Um dos pioneiros da radiofonia local, como diretor do serviço de alto-falantes, Paulo Lebrão I que existia na Rua XV de Novembro, ao lado do serviço de alto-falantes de José Antônio Cursino – o “JAC” – No rol extenso de suas atividades figuram a de ex-diretor da Liga de Assistência Social e de Combate à Tuberculose e, ainda, gerente da antiga Agencia “Ford” de Henrique Mudat. O infindável número de jornais em que colaborou, demonstra o quanto nosso homenageado, na noite de hoje, é capaz.
Militou em jornais que já não mais circulam, bem como naqueles em que sua pena deixou escritos trabalhos antológicos. Eis a síntese de apenas alguns dos jornais de que Altino colaborou: “Tribuna” de Santos, “Diário” também de Santos, “Correio Popular” de Campinas, “A Tarde”, de Ribeirão Preto. “O Trabalho”, de São Simão. “O Jornal” do Rio de Janeiro, “Vamos Ler”, também do Rio. “Folha da Manhã”, “Diário de São Paulo”, “Correio do Vale do Paraíba”, “A Cidade” de Campos do Jordão, que mais tarde lhe valeriam galardões.
Dentre os galardões mais significativos na trajetória de vida do nosso ilustre homenageado, figura o ter recebido em 1976, a “Pena de Ouro”, como o mais antigo militante da imprensa joseense, desde os idos de 1936. Correspondente do “Estadão” de 1949 a 1972 por vinte e três anos consecutivos, sempre soube corresponder aos anseios coletivos, enviando mensagens de nosso progresso a todos os povos, onde o jornal tradicional da imprensa paulista atinge.
Ultimamente, vem assinando a coluna “Dia a Dia” no “O DIÁRIO de São José dos Campos”, jornal esse a que se dedicou anos a fio e onde vem colaborando e escrevendo desde a “Folha Esportiva”, de José Antônio Cursino.
Nosso homenageado ainda é vencedor de diversos concursos literários. Destacou-se com vários prêmios nas revistas: “Manchete”, “Alterosa”, “Vamos Ler”, “Boa Nova”, “Carioca”, “Joia”, “O Malho”… Altino Bondesan, como obras de sua autoria, tem os seguintes livros que, através do tempo cada vez mais, estão marcando seu estilo de escritor voltado para as letras e para um grande público. “Um Praci- nha Paulista no Inferno de Hitler” que, trás um impressionante relato do soldado da FEB, Eliseu de Oliveira, nosso conterrâneo; “Estados Unidos, Milagre do Trabalho”; “São José em Quatro Tempos” e “Brasil Bicampeão”. Aqui é formado bacharel em Direito, através da Primeira e inesquecível Turma da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, na qual é professor de diversas matérias ali lecionadas, desde 1962. É ainda, professor da Faculdade de Serviço Social “Ministro Tarso Dutra”.
Na Faculdade de Direito recebeu o Premio Medicina Legal, Medalha de Ouro e é detentor da Comenda “Medalha Pedro Alvares Cabral” e por outorga do Centro Academico “2 de Janeiro” é “Professor Emérito”. Atual membro da Sociedade Joseense de Cultura, ex-presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio, com curso de Direito do Trabalho no Saint John’s College, Annapolis, nos Estados Unidos. Musicista, colaborou ainda no “Valeparaibano” assinando artigos.
Este é apenas um perfil de nosso homenageado que nesta noite, recebe a honraria. Salientamos, entretanto, que Altino Bondesan é um pioneiro de nossa radiofonia, com apresentações em espetáculos e no rádio, na década 1930. Autor, com Renato Barreto Ramos, da composição premiada em 1o lugar, em concurso instituído pela Prefeitura Municipal, desde 1954. É casado com dona Irene Bondesan, possuindo os seguintes filhos: Amilcar, Irene Josefina (casada com Maurício Neves de Oliveira), Diomar e Ana Maria: São seus netos: João Marcelo Maria Letícia, Ana Carolina e Luiz Otávio, todos joseenses.
Eis pois, em rápidas pinceladas, senhoras, senhores, autoridades e colegas vereadores, algumas das muitas razões porque ALTINO BONDESAN é digno dessa tão elevada honraria”.
E o mais antigo jornalista em atividades em São José dos Campos.
Altino, Parabéns! e minha imensa gratidão pela sua generosidade, dedicando a minha cidade, que agora também é sua, tanto carinho, afeto, ternura e amor. Nossa Câmara Municipal reconhecendo o mesmo que os joseenses, não fez mais que a obrigação, laureando-o com o Título de Cidadão Joseense, para minha alegria e orgulho de tê-lo como conterrâneo.
Fiquei feliz com o convite para a cerimônia e é bem provável que não somente eu, mas a família Cesar de Siqueira, compareça, em memória do Prof. Afonso que tanto o admirou como nós o admiramos.
O convite recebido desencadeou uma série de lembranças registradas na minha sensibilidade desde a distante mocidade, quando era meu costume ir comprar alguma mercadoria na Casa Diamante, encomendadas da minha esposa que apreciava tudo quanto aquela casa vendia. Não foram poucas as vezes que encontrei ali o loirinho risonho, magro e alto, bem falante, de São Simão (de nascimento) e já então quase joseense. Era o Altino. sua extraordinária biografia, para divulgar com detalhes a simplicidade de um ser privilegiado, que tem o coração tão grande como o nosso Banhado e uma afeição sincera por tudo quanto é de “nossa” terra, servindo de exemplo à grande maioria de “formigueiros” natos.
É hora de lembrar o derradeiro parágrafo da crônica de fls. 50 do seu livro “São José em Quatro Tempos”:
“E quando me escrevem, perguntando pela volta, digo em poucas palavras ao que de há muito adivinhava. Não voltarei. Serei joseense. Aqui viverei. Aqui terei família, se Deus assim consentir. Aqui quero morrer. E um dia, se tiver forças, publicarei um livro contando minha vida, da minha experiência. Quem sabe alguém aproveitará alguma coisa! Ou sentirá, pelo menos, minha gratidão!”
Premonição confirmada poucos anos depois por muitos artigos seus na imprensa local, menos quanto ao desejo de ingressar no nosso Campo Santo para onde eu também irei, quando chegar a hora.
Caro amigo, a nossa Câmara Municipal tem demonstrado em nome dos joseenses a gratidão da cidade aos que aqui chegaram e acabaram ficando, enfeitiçados pela beleza natural da conformação das nossas vias públicas; pela natural ingenuidade caipira de nossa gente que é simples; pela riqueza de oxigênio num ar singular; pelo encantamento grandioso do Banhado em cada ocaso policrômico; ou pela naturalidade com que cada um ingressa definitivamente na nossa sociedade e dela fica fazendo parte integrante.
Assim sucedeu com personalidades que fizeram a nossa Historia, que para aqui vieram em busca de saúde ou de interesses profissionais e aqui ficaram para nossa alegria e felicidade.
O Altino, foi dos que nos compreenderam e dos que perdoaram nossos defeitos e aceitaram nossas limitações de cidadezinha humilde e pobre. Foi daqueles que se integraram na família joseense, e a cidade não pode esquecer o amor que você lhe dedica desde seus primeiros tempos entre nós. A gratidão se impôs.
Hoje, nossa cidade está muito diferente daquela que o recebeu na década de 1930-1940, e em muitos aspectos nem parece a mesma. O progresso explosivo evoluiu a cidade em todos seus quadrantes. Deu-lhe um arzinho de importante bairro da capital e, em determinados ângulos, igualou á a qualquer cidade grande, de qualquer nação, como, por exemplo, no setor de Aviação, que é o mais completo do mundo atual! Existem em alguns lugares, grandes e magníficas Escolas de Aviação, mas em nenhum deles um complexo Universitário tem ao lado, Fabricas de Aviões e Radares e implementos, com ambiente de Pós-Formatura. É a única!, fazendo parceria com o Banhado que, na área Geofísica é também singular.
Não há semelhantes.
A população atingiu, dos trinta mil habitantes do tempo de sua vinda, para mais de trezentos mil na atualidade.
O Ensino, desde o Pré-primário até o Universitário acompanhou o gigantismo que envolveu a Indústria, o Comércio, a Economia e as Finanças, como decorrência natural. A cidade passou do nível medíocre para o superlativo em todos seus setores. O Altino é testemunha porque participou desse acontecimento. É por isso que os joseenses da minha geração, os que fizeram ou estão por fazer os setenta anos de idade, são os que mais reconhecem, e agradecem, o esforço e a dedicação de todos que para nossa cidade trouxeram sua cultura, sua cooperação, com afeto e trabalho.
Um Título de Cidadão Joseense não paga quanto o Altino fez por merecer de nosso povo, mas reflete um reconhecimento sincero que fez jus, indiscutivelmente. O Cassianinho, nosso poeta, achou, simbolicamente, que o progresso lhe roubara a “flauta” da simplicidade ingênua:
“A flauta que me roubaram”
Era em São José dos Campos
Quando caía a Ponte
eu passava o Paraíba
numa vagarosa balsa
como se dançasse valsa.
O horizonte estava perto.
A manhã não era falsa como a da cidade grande.
Tudo era caminho aberto.
Era em São José dos Campos
no tempo em que não havia comunismo nem fascismo
pra nos tirar o sono.
Só havia pirilampos
imitando o céu nos capos.
Tudo parecia certo.
O horizonte estava perto.
Havia erros nos votos
mas a soma estava certa.
Deus escrevia direito
por estreitas ruas tortas.
A mesa era sempre lauta.
Misto de sabiá e humano
o meu vizinho acordava
tranquilo, tocando flauta.
Era em São José dos Campos.
O horizonte estava perto.
Tudo parecia certo. Admiravelmente certo…
Querido e saudoso Cassianinho!
Parabéns, Altino!
Parabéns à família e à Câmara Municipal! Deus o conserve sempre como é e lhe dê toda Felicidade, que você bem merece. Do amigo e admirador Jairo Cesar de Siqueira.
Jornal O Diário, sábado, 13 de maio de 1978
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