Espionagem na Câmara

Uma articulação dos vereadores José de Castro Coimbra (que, embora ainda presidente da Câmara, iria renunciar a um ano de mandato de vereador pela Arena para poder se filiar ao MDB) e Toru Sanefuji (que continuava vereador da Arena, mas era independente do bloco situacionista que apoiava o prefeito nomeado Sérgio Sobral de Oliveira) garantia a eleição do presidente da Câmara, em 1972. Desde que conseguissem trazer dos Estados Unidos o vereador Sebastião Teodoro de Azevedo, licenciado para cursar Teologia. A proposta era irrecusável:-“Volta que o elegemos presidente da Câmara!”, disseram em telefonema internacional os vereadores Toru e Coimbra. E este sempre tinha sido um sonho de Teodoro.

Sebastião Teodoro voltou e foi eleito presidente da Câmara Municipal. Mas isto nunca foi assimilado pelo prefeito nomeado, iniciando-se um período de turbulência entre os Poderes Executivo e Legislativo. O presidente da Câmara não era recebido pelo Prefeito. O secretário da Câmara, o funcionário Mário Ottoboni, que também presidia o EC São José, não conseguia o apoio da Prefeitura para manter o Estádio Martins Pereira e o time de futebol, aproveitou a situação para aumentar a pressão contra Sobral.

Por ser o município estância hidromineral natural em lei estadual, o prefeito de São José era nomeado pelo governador do Estado. Este, no entanto, por se tratar de uma área de interesse da segurança nacional pela presença do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), consultava as Forças Armadas. O prefeito nomeado não tinha mandato, mas como adotado a nível nacional, os militares preferiam a alternância de seus escolhidos no poder.

Telegramas e mais telegramas foram preparados e enviados em nome de cidadãos joseenses ao governador do Estado e ao presidente da República denunciando arbitrariedades do prefeito Sérgio Sobral de Oliveira. A campanha obviamente iniciada por Mário Ottoboni, contava com o apoio do presidente da Câmara, vereador Sebastião Teodoro, que era frequentemente chamado ao quartel do 6° RI de Caçapava para dar explicações de seus atos. Mas como não havia a utilização de recursos da Câmara e nem as digitais do Ottoboni ou do Teodoro, as pressões eram desconsideradas.

Depois das sessões legislativas, costumava-se bater um papo na sala da Assessoria Jurídica da Câmara Municipal (na época ocupando o seu prédio original, onde hoje se localiza o Espaço Mário Covas e a Sala Veloso, na praça Afonso Pena). E o bate-papo, muitas vezes, ia até altas horas da noite. Conversava-se sobre tudo, sem qualquer preocupação com censura, muito comum na época.
Luiz Paulo Costa – Jornalista

Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Mídias Sociais: sjcantigamente
WhatsApp: (12) 99222-2255
e-mail: sjcantigamente@gmail.com

Comente se há informações extras, escreva suas recordações ou mesmo o que achou desta publicação. Agradeço por sua participação!