Paulo Leblon e a Atlântida (1985)

Lemos, com emoção, a reportagem deste jornal sobre a antiga Atlântica, uma “escola de rádio”, que marcou época na vida santista.

Nomes conhecidos e estimados desfilaram nesse trabalho jornalístico, digno de encômios, mas notamos a ausência, entre as intérpretes do “Romance para Você”, de Amelinha, que, segundo a rota comum dos artistas de seu tempo, seguiu para a Record, a caminho do sucesso nacional. Também nos parece omitida a figura da cantora Romilda. Coisas…

Queremos, porém, falar de Paulo Leblon, daqui, de São José dos Campos, onde, filho de família tradicional (seu pai foi jornalista e literato, seu avô Antero Madureira manteve jornais no princípio do século e escreveu, até, romances), gozava de muito prestígio. Era Paulo diretor da P L-1, serviço de alto-falantes que batia longe as emissoras, com programações variadas, conjuntos próprios, calouros, tudo sob a batuta do locutor, cantor, poeta, jornalista, ator Paulo Lebrão, nome que Caldeira Filho substituiu pelo do bairro carioca, mais eufônico.

Um dia o jovem joseense abandonou o cargo de secretário da Escola Normal, a sua “propagadora”, o grupo “Ases do Samba” – tudo – para tentar a vida em Santos, como secretário do Sindicato do Comércio Varejista, levado por mãos de Lúcio Machado, seu velho e dedicado amigo.

Dali para a Atlântica foi um pulo. Paulo dentro de pouco tempo, isto no ano de 1940/41, impunha-se como um “factotum” competente e esforçado. Quantas vezes, nos bailes da Humanitária, íamos vê-lo, noite alta, batendo a máquina e preparando os programas do dia seguinte. E, à tardinha, tornada horário nobre por causa da novela, era ainda de se ver o moço dedilhando a Remington ou dirigindo Xisto Guzzi e outros francanos, no dito “romance”, que eram adaptações de livros populares, em sua maioria traduções, muito deles pedidos pelos ouvintes, que remetiam dezenas de cartas diárias à emissora, os chamados “conhaques”, porque estimulavam a produção…

De Santos Paulo seguiu para a Record, a Tupi e dali ganhou o Brasil, tendo inaugurado algumas emissoras de TV, no Nordeste, sob o comando de Chateaubriand. Quando faleceu sua primeira mulher, Cidinha Lebrão, foi ela inumada em jazigo da família de Homero Silva.

Tivemos a felicidade de conviver com Paulo Lebrão, conhecer sua inteligência luminosa, sua palavra fácil, suas qualidades de cantor, de rádio-ator, de pessoa de muito caráter, muita coragem, participante que foi da Revolução de 32, na frente da Sorocabana, embora fosse ele valepa-raibano de primeira água.

Paulo preencheu um largo período da vida de São José, como líder dos estudantes, orador, patriota, organizador de festivais de teatro, de excursões musicais às emissoras de São Paulo. Onde ele estava, estava a alegria, o entusiasmo, o comportamento impecável de quem vivia a sua idade, mas era ordeiro, honesto, digno.

Estas recordações nos ocorrem, quando lembramos o quanto fez esse jovem, por sua terra e por seus amigos. Por exemplo, incentivou Thesis Gaia (filho do famoso maestro Gaia e irmão de Ranchinho) e Euclides Costa a formar a dupla Brinquinho & Brioso, aos quais abriu as portas da Atlântica, onde, por muito tempo, tiveram audiência matinal, além de participação nas tardes de domingo, quando Paulo apresentava um programa humorístico digno de Chico Anísio.

Mas havia um outro Paulo, o Paulo Moreno, de versos maravilhosos, de grande inspiração, que todas as noites embalava Santos com seu apreciado “Alma de Boêmio”, sublinhado pelo famoso tango argentino. Era um Paulo doloroso, sofrido, maltratado pela vida e pela sorte, mas impávido em sua luta, que só terminou aí pelos anos 50, quando sucumbiu à doença e veio descansar, no jazigo dos Madueira e Lebrão, para onde se transferiu, também, há cerca de um ano, Aldo Madureira, primo de Paulo e seu irmão de talento, ex-integrante da velha Atlântica, cuja lembrança nos leva às lágrimas…
Altino Bondesan, Jornal A Tribuna, 22 de junho de 1985

Aos que não conhecem a P.L. 1, segue abaixo um texto do jornal Folha Esportiva sobre sua inauguração e outro sem identificação:

P. L. 1 – A voz do Comércio

Inaugurou-se nesta cidade, dia 27 do mês findo, um possante transmissor, instalado no prédio do Esporte Clube São José, com alto-falante para a rua 15 de Novembro.

Esse empreendimento, louvável sob todos os pontos, é devido a uma plêiade de esforçados jovens de nossa sociedade, contando com o valioso apoio do sr. Henrique Mudat, comerciante nesta praça o qual é um grande amigo de tudo quanto vise o bem de nossa terra.

A parte musical das audições noturnas, tem estado a cargo do Trio «B. A. W.» e «Bohemios do Samba», tendo comparecido á inauguração os hábeis musicistas, snrs. Ernesto Herculano de Souza e Oscar Antônio do Carmo, que deliciaram a grande massa de ouvintes com solos de violão.

Entre as atrações com que P. L. 1 deleitará os ouvintes, aos sábados e domingos, destacam-se a «Hora do compadre Salim», e o «Programa da Peneira», este em organização e que promete ser de arromba, já tendo inscritos diversos aspirantes ao microphone.-Aos mentores de P. L. 1, os nossos melhores aplausos.

NOTA: Para qualquer assumpto referente a P. L. 1, deverão os interessados dirigir-se ao phone 219, ou diretamente com o snr. Paulo Lebrão.
Folha Esportiva, abril de 1937

Natal das crianças pobres da P L 1

Finda a festa, quero apresentar os mais sinceros agradecimentos a todos os que, direta ou indiretamente nos ajudaram a levar a bom termo a nossa iniciativa.

Minha gratidão é endereçada especialmente ao Dr. Francisco José Longo, dd. Prefeito Sanitário, Drs. Ruy Doria, Nelson D’Ávilla, J. B. Soares, snrs. Bonadio & Cia. Ltda., e Miguel Aguiar, da Tecelagem Parahyba, pelo vulto de suas contribuições. Com o intuito de atender as crianças do município, que se achavam na P. L. 1 fugindo da chuva, iniciamos a distribuição de brinquedos as 3 da tarde de domingo, em vez de as 6, como tinha sido anunciado. Finda a chuva, acorreram igualmente os meninos da cidade, pilhando-nos sem as devidas garantias nossas e da po… (o recorte do jornal de 1939 se encerra neste ponto, infelizmente).

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