Nelson Martins Pereira tem 77 anos, foi suplente de vereador em 45 e exerceu a vereança até 49. Sempre foi um apaixonado pelas coisas e histórias de São José dos Campos. Trabalhou como administrador da Fazenda Santana da Tecelagem Paraíba durante 19 anos. Atualmente está aposentado.
Quem se lembra que a Rua 7 de Setembro já foi conhecida como a “Rua do Fogo”, ou que a Praça Afonso Pena tinha os casarões mais bonitos da cidade? Provavelmente bem poucos. “Há 70 anos São José era uma cidade industrial como hoje. Em 1917 possuia apenas duas máquinas de café e uma de arroz e não mais que 20 mil habitantes.” Quem relata um pouco de história da cidade é Nelson Martins Pereira, um dos fundadores do Esporte Clube São José e do Tênis Clube, que chegou na cidade em 1916, mas que ainda tem vivos na memória os fatos, datas e até mesmo os antigos nomes das ruas, e seus personagens.
Nelson Martins Pereira contou que seu pai era negociante em São Paulo, mas como diziam que no Vale do Paraíba não havia muitas máquinas para beneficiar arroz, ele resolveu tentar a sorte pela região. “Seu destino era Taubaté, pois lá existiam grandes plantações, mas sentou-se ao seu lado no “expressinho” (como era conhecido o trem que fazia São Paulo-Rio), o prefeito de São José na época, Coronel José Monteiro, que após ouvir a história de meu pai, convidou-o para ficar na cidade e montar a máquina de arroz terreno que ele iria arrumar”.
E assim, em 1916, a família de Nelson se transferia para São José dos Campos. “Primeiro veio meu pai que arrumou a casa, montou a máquina e depois é que foi buscar minha mãe, eu, que na época tinha 6 anos, e meus três irmãos.”
Naquela época, lembra Martins Pereira, a entrada da cidade era pela rua Serimbura, que começava onde é hoje a estrada velha Rio-São Paulo e terminava nos trilhos da Central do Brasil, no terreno onde hoje está instalado o Tênis Clube. Esta mesma rua seguida pela atual Euclides Miragaia, onde ficava também a Estação Ferroviária, bem em frente a avenida Dr. Guilhermino: o cartão de visitas da cidade, toda arborizada com palmeiras magnólias.
“A praça Afonso Pena tinha as casas mais bonitas de São José, entre elas a do Dr. Mário Galvão e a da família Ricardo, fazendeiros do município. A esquerda da praça havia uma rua muito estreita onde ficava a Santa Casa, onde está instalado hoje o estacionamento do Bradesco“, recordou.
Segundo Nelson Martins Pereira, a rua XV de Novembro, a principal da cidade, era onde mocidade, aos domingos, fazia o “footting”. A rua 7 de Setembro, era conhecida como a “Rua do Fogo” porque era muito estreita e as casas muito baixas. Para suportar o frio meses de inverno, famílias faziam fogueiras nas calçadas onde se aqueciam e conversavam com os amigos e vizinhos.
O bairro de Santana, contou Martins Pereira, era repleto de fazendas, assim como a Vila maria era campo, até que em 1924 foi construída a nova estação da Central do Brasil. No bairro dos Pinheiros concentravam-se as grandes produções de cereais do município.
“São José nesta época não possuía mais que 20 mil habitantes e possuía apenas duas máquinas de café e uma de arroz, que foram montadas em 1917. Em 22, instalou-se a fábrica de louças Bonadio e a Tecelagem Parahyba, que deram início ao processo de industrialização no município”, ressaltou Martins Pereira lembrando que naquela época a Prefeitura conseguiu fazer a ligação de água do Ribeirão da Senhorinha, que ficava onde hoje está a fábrica Kanebo. “Foram construídas duas caixas na avenida que hoje se chama 9 de Julho. No dia da inauguração, houve muita festa, mas a água que deveria vir por gravidade, não chegou. A caixa ainda se encontra no local e a outra, menor, foi demolida“.
Em 1924, segundo Martins Pereira, foi inaugurado o Sanatório Vicentino Aranha, “com a presença do Presidente do Estado (pois naquela época não se dizia governador e sim presidente), o nosso saudoso! Washington Luiz“. Nessa época começaram a chegar também os médicos da cidade, como dr. Nelson D’Avila, Ruy Rodrigues Dória, Ivan de Souza Lopes e Jorge Zarur.
“Já foi muito difícil governar este município, pois a renda era pequena e os prefeitos tinham muitos problemas a resolver. Em 45, por exemplo, o prefeito Elmano Veloso, teve que administrar a cidade com um orçamento onde funcionalismo consumia 81 por cento da renda total do município. As coisas só melhoraram com a chegada do Centro Técnico Aeroespacial – CTA, que trouxe em seu rastro indústrias.”
Mas Martins Pereira também teve uma participação em todo este crescimento e desenvolvimento social da cidade. Em 13 de agosto de 1933 fundou o Esporte Clube São José, que funcionava na época onde hoje está instalado o Jumbo Eletro. É um dos fundadores também do Tênis Clube. Durante muitos anos trabalhou com beneficiamento de arroz e a seguir com fábrica de farinha de mandioca. Também foi fazendeiro e suas terras pertencem hoje a Severo Gomes.
Em 37, Martins Pereira casou-se com Sílvia e neste mês estão completando “bodas de ouro”. Ela era de São José e também tinha Pereira como sobrenome e deu tudo certo a começar do nome”, comenta brincalhão.
Mas São José também era uma cidade muito festiva, conta Martins Pereira. “Os carnavais de rua eram famosos e os bailes eram no Teatro São José (onde agora se entregam agasalhos aos pobres).
“Em São José morou também um cidadão com rara inteligência. Ele construiu certa vez uma máquina para fabricar discos e, com uma massa especial, foi o pioneiro a fabricá-los. Inventou ainda uma asa voadora e fez um de seus filhos saltar de cima da farmácia Madureira, na rua 7 de Setembro. Mas a asa não abriu. Esse homem foi também um ótimo relojoeiro, juntamente com seus três filhos“. Martins Pereira lembra ainda que como esse cidadão gostasse muito de música, seus três filhos foram batizados com nomes de músicos famosos: Rossini, Wagner e Mozart. “No conserto dos relógios, no entanto, todos tinham que aguardar na própria oficina, pois se fossem embora, o senhor Miguel Alfa os transformava em pinga“.
Jornal Perfil Mulher, julho de 1987
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