Parahyba responde à crise com democracia

A política econômica de desastre nacional continua fazendo suas vítimas. Os jornais publicam que as insolvências bateram recordes de 25 anos. O número de concordatas requeridas no município de São Paulo, em 1983, foi de 456, recorde desde 1958. Os protestos contra pessoas físicas aumentaram no ano passado em 48,6% em relação a 1982 e as informações negativas, do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), cresceram em 1983 num total de 3,2% em relação ao ano anterior. O número de falências decretadas no Estado de São Paulo foi de 1.077.

Entretanto, apesar de todos esses resultados negativos, o Governo Federal persiste com o propósito de manter a atual política econômica. Isto, de um lado, robustece cada vez mais a campanha pelas eleições diretas para presidente da República, a melhor maneira de o povo intervir no processo de decisões e, consequentemente, respaldar mudanças substanciais na situação nacional. De outro lado, entretanto, nos faz enfrentar, no dia a dia, situações cada vez mais tristes e dolorosas. Tanto em relação a empresas concordatárias e falidas como e principalmente em relação a pessoas, notadamente a multidão de desempregados.

No caso de São José dos Campos, a situação da Tecelagem Parahyba é a que mais comove e chama a atenção de todos. Depois de mais de meio século de atividades industriais pioneiras na cidade, abarcando, com seus afamados produtos, 60% do mercado nacional, não suportando as altas taxas de juros bancários (e as maxidesvalorizações do cruzeiro em relação ao dólar), a empresa entrou com pedido de concordata preventiva, para evitar a sua própria falência. Aliás, o setor têxtil, por ser mais sensível às alterações no poder aquisitivo do mercado consumidor e, no caso da Parahyba, por trabalhar com produtos de estação, é um dos setores industriais mais atingidos pela crise atual.

Não querendo simplesmente encerrar suas atividades, preservando seu patrimônio acumulado ao longo de mais de 50 anos de trabalho, mas se descompromissando com a própria geração de empregos no município, a Tecelagem Parahyba vem articulando uma proposta alternativa para enfrentar a crise e criar condições de pagamento dos salários dos trabalhadores, através da retomada da produção. Esta proposta vincula pelo menos 50% das duplicatas, resultantes das vendas, ao pagamento dos salários até sua liquidação final, concede crédito alimentação de Cr$60 mil mensais por trabalhador, corrige os salários em atraso com base nas ORTNs e, principalmente, estabelece a participação dos trabalhadores no acompanhamento e fiscalização do exato cumprimento do acordo junto à administração da empresa.

Como se constata, embora não resolva de imediato a situação dos salários em atraso, a proposta articulada pela empresa abre reais e seguras perspectivas para normalização dessa situação e age no sentido da democratização da Tecelagem Parahyba, como resposta à crise por ela enfrentada. Ora, se a democratização é a solução para o País (Diretas, já!) por que também não pode ser para a Tecelagem Parahyba ou para qualquer outra fábrica, mesmo em crise? De qualquer forma, por menos que a gente perceba ou premedite, o processo de democratização do Estado e da sociedade continua. E, consequentemente, esse processo passa não só por eleições diretas para presidente da República, como também pela democratização das fábricas. Portanto, ao invés de “pau na crise”, democracia na crise! (1984)
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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