Ao assumir a administração da cidade como prefeito nomeado, em 1975, o eng° Ednardo José de Paula Santos (1975/78) tinha uma difícil tarefa pela frente. O prefeito nomeado, Sérgio Sobral de Oliveira, deixou a Prefeitura com ótima avaliação da população joseense. Tanto que, em 1982, o então deputado estadual Robson Marinho, que liderou a oposição na Câmara Municipal, chegou a cogitar o seu nome para candidato a prefeito pelo PMDB. E teria sido eleito, certamente!
Com a perda de mandato de dois vereadores emedebistas, por infidelidade partidária, em 1974, porque eleitos pelo MDB se aliaram em 1973 à Arena na eleição do Presidente da Câmara, e a posse dos suplentes emedebistas, a oposição voltou a deter a maioria legislativa. E elegeu o vereador Tertuliano Delfim Júnior (Dr. Tuta), promotor público aposentado, para completar o mandato até 1974. Para o biênio 1975/76 o MDB elegeu para Presidente da Câmara o combativo vereador Mário Scholz, histórico militante político da cidade e que já tinha sido vereador pelo extinto Partido Socialista Brasileiro.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
Laços de amizade
Um laço de amizade de vizinhança na rua Antônio Saes, no entanto, unia Ednardo a Mário Scholz. Ednardo precisava manter uma ponte para o diálogo com a Câmara e Mário Scholz, experiente político, sabia que a radicalização da oposição naquele momento poderia fortalecer ainda mais o ex-prefeito nomeado Sérgio Sobral de Oliveira. E a conjuntura política nacional começava a ser dominada pelo projeto de distensão lenta, gradual e segura do general Ernesto Geisel.
Contando com a boa vontade do vereador Mário Scholz na presidência da Câmara, o prefeito nomeado Ednardo José de Paula Santos conseguia a aprovação de projetos importantes para a administração municipal e para a cidade. Foi o caso da concessão do serviço de água e esgoto para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo S/A SABESP.
O projeto dividiu o MDB, inclusive os seus deputados estadual e federal. Enquanto o deputado estadual Robson Marinho não se opunha à concessão, o deputado federal Joaquim Bevilacqua chegou a propor a abertura do capital da Companhia Municipal de Água e Esgoto S/A COMAE para superar a alegada falta de recursos municipais para ampliar e melhorar o serviço público.
A eleição de 1976 afastou da Câmara Municipal os vereadores do MDB que tinham mais interlocução com o prefeito Ednardo, entre eles o vereador Mário Scholz. Com a maioria legislativa e os novos vereadores, o MDB buscou uma atuação mais fiscalizadora dos atos da administração municipal, embora também propositiva na ação política.
Com a experiência política adquirida principalmente como secretário do MDB de 1970 a 1975, assumi a vereança apresentando uma série de projetos para a cidade, mas também com o ímpeto de não esmorecer a ação fiscalizadora do Poder Legislativo. A principal bandeira oposicionista era a luta pela reconquista da autonomia política. Portanto, o MDB não podia deixar de ser crítico em relação à administração da ARENA, produto da nomeação do prefeito municipal.
O deputado estadual Robson Marinho apresentara projeto de lei complementar alterando a Lei Orgânica dos Municípios para permitir a eleição direta dos prefeitos das estâncias hidrominerais naturais e precisava do apoio da Câmara Municipal para enfrentar esta batalha. O deputado federal Joaquim Bevilacqua também defendia a autonomia política do município no Congresso Nacional, onde já começava a se destacar com a apresentação de inúmeros projetos de lei e uma firme atuação nas CPIs da indústria nacional e da especulação imobiliária.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
Entreveros com Ednardo
Tive vários entreveros com o prefeito Ednardo. Os mais pitorescos ocorreram com a visita do governador Paulo Egydio Martins e em debate radiofônico. Na visita governamental estava em meu gabinete quando pela janela percebi que assessores da prefeitura pregavam nos postes de iluminação da Praça Afonso Pena alguns cartazes. Fui até lá ver e verifiquei que eram de propaganda do Governo do Estado. Não titubeei. Eles seguiam na frente pregando os cartazes e eu ia atrás arrancando um a um. Onde já se viu sujar a cidade com cartazes pregados nos postes?!
A jornalista Suely Gonçalves do jornal “Agora” viu a minha ação e pediu ao repórter fotográfico Ernesto de Souza que registrasse. E foi entrevistar o prefeito Ednardo, na Associação Comercial e Industrial, onde estava acontecendo uma recepção ao governador Paulo Egydio Martins. No dia seguinte, li no jornal: “Ednardo diz que Luiz Paulo é comunista!”. Com a notícia publicada na mão, a jornalista Suely veio me entrevistar sobre as declarações do prefeito Ednardo. No outro dia saiu a manchete: “Luiz Paulo diz que Ednardo é coió de mola!” E nada mais foi publicado sobre o assunto!
O jornalista Antônio Leite provocou um debate meu com o prefeito Ednardo, em seu programa da Rádio Piratininga, ainda no prédio da Praça da Matriz. Eu apresentava as minhas críticas, Ednardo se defendia e também atacava. Eu me defendia e voltava atacar. E assim foi até que se sentindo acuado, Ednardo desferiu: “Você é comunista!” Neste momento, apesar de vereador, senti que podia sair da Rádio Piratininga com a Polícia, o Exército ou a Aeronáutica à minha espera. Fiz que não escutei e pedi que ele repetisse e ele repetiu: “Você é comunista!” Retruquei: “Prefeito, o senhor está me ofendendo!” E ele: “Não, Luiz Paulo, chamar de comunista não é ofensa!” “Não é ofensa, tem certeza?” “Sim, não é ofensa, tenho certeza!” “Então, comunista é a tua mãe!” E o Antônio Leite encerrou o programa.
O entrevero mais sério com o prefeito Ednardo, no entanto, ocorreu com o envio de um projeto de lei autorizando a contratação de um empréstimo de Cr$200 milhões com o Banco do Brasil para investir nas obras de abertura da Avenida Fundo de Vale. A Bancada de Vereadores do MDB resolveu apresentar um substitutivo, destinando Cr$140 milhões para as obras viárias (que era o valor previsto para a abertura da Avenida do Fundo de Vale) e o restante Cr$60 milhões como contrapartida social para a construção do Pronto Socorro Municipal, escolas e creches municipais.
O prefeito Ednardo desconsiderou o substitutivo aprovado pela Câmara e sancionou o projeto original do Poder Executivo. Divulgamos uma nota à imprensa, da Bancada de Vereadores do MDB, ameaçando entrar com mandado de segurança com pedido de liminar contra a sanção do projeto de lei não aprovado. O jornal “Agora” soube explorar o impasse e fez publicar em suas duas páginas centrais, a defesa do projeto do Executivo feita pelo assessor Moisés da Costa Oliveira e o substitutivo do MDB feita por mim.
Diante do impasse e da batalha que passaria da esfera política para a jurídica, entraram em cena pelo Executivo o assessor jurídico Bráulio Novaes de Castro e pelo Legislativo o assessor jurídico José Rubens Barbosa. Ao final, foi acertada a elaboração de dois projetos de lei. Um prevendo a autorização de empréstimo no valor de Cr$140 milhões para as obras de abertura da Avenida do Fundo de Vale e outro com autorização de empréstimo no valor de Cr$60 milhões e mais Cr$80 milhões em dotação própria nos orçamentos dos três próximos exercícios para a construção do Pronto Socorro Municipal, escolas e creches municipais, entre outras obras de caráter social. E assim foi resolvido, de maneira positiva para a cidade, o impasse entre o Executivo e o Legislativo.
Tive a oportunidade de participar do secretariado do prefeito Emanuel Fernandes (1997/2000) juntamente com o vice-prefeito Ednardo José de Paula Santos como Secretário da Fazenda e Secretário do Desenvolvimento Econômico. Mesmo antes já havíamos superado as divergências ocorridas naqueles tempos bicudos. “Vários projetos deixei de enviar à Câmara pensando nas críticas que você poderia fazer.”, frase que recebi dele como elogio importância da oposição. O que retribui, até publicamente, reconhecendo a importância das obras realizadas durante sua passagem pela prefeitura.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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