O Mário Ottoboni é uma das pessoas mais versáteis que conheço. De entregador de compras de armazém, chegou aos mais altos cargos públicos da cidade e se notabilizou em inúmeras e diferenciadas atividades humanas e intelectuais. E sempre enfrentou as situações mais difíceis com um incrível bom humor. Nunca o vi triste. Sempre alegre e de bem com a vida. Pessoa séria e responsável, marcou a sua passagem pelas atividades que desenvolveu com vários episódios pitorescos e que arrancam gargalhadas, quando contados por seus amigos.
Diretor Geral da Câmara Municipal de São José dos Campos um dia recebe em seu gabinete o jovem suplente de vereador, Sebastião Teodoro de Azevedo, que iria assumir a cadeira do titular de seu partido, a extinta UDN União Democrática Nacional. Teodoro lhe pediu que fizesse algum requerimento que tivesse repercussão, em sua curta permanência como vereador. Recebendo o requerimento produzido por Mário Ottoboni argumentou que o mesmo não deveria ter a repercussão que ele buscava. Entretanto, quando começou a ler o requerimento da tribuna, criticando o atendimento do Béquinho no Cartório de Registro de Imóveis, vê levantar-se de sua cadeira no plenário, o enorme vereador Donato Mascarenhas Filho, que foi até a tribuna e arrancou de suas mãos o requerimento, com tanta força que resvalou até em sua orelha. Donato era o dono do Cartório de Registro de Imóveis e o Béquinho era seu funcionário…No dia seguinte, Teodoro aparece na Câmara de Vereadores com a orelha um pouco inchada pelo esbarrão de Donato e enfia a cara na sala do Mário Ottoboni que, levantando os olhos atrás de seus óculos, diz: “Você não queria um requerimento que repercutisse?!” A manchete do jornal “Valeparaibano” estampava, na primeira página, a briga de Donato com Teodoro.
Luiz Paulo Costa – Jornalista
Bang-Bang
O Esporte Clube São José disputava, em 1966/67, o Campeonato da 2a Divisão Profissional da Federação Paulista de Futebol, depois de uma campanha vitoriosa na 3a Divisão. Os gastos aumentaram e o clube passava por dificuldades. O presidente Mário Ottoboni, usava a sua influência como diretor da Câmara Municipal, para convencer os vereadores a solicitarem uma ajuda financeira ao prefeito Elmano Ferreira Veloso, de quem era amigo e, em muitas oportunidades, até correligionário.
O vereador José Gomes Luz Filho era um dos que batiam à porta do gabinete do prefeito Veloso, quase todos os dias, para pedir ajuda ao EC São José. Veloso atendia e ligava em sua frente ao diretor financeiro Jair Ferreira Santos: “Jair, como está a situação das finanças da Prefeitura?” Não demorava muito, virava-se para o Zé Gomes e dizia: “É, não dá! Não tem dinheiro!” E Zé Gomes saia sem ver atendido o seu pedido.
Até que um dia, Mário Ottoboni “armou” com o vereador Argemiro Parizotto de Souza, seu compadre e também companheiro de martírio no EC São José, um pedido de impeachment do Veloso. Logo foram contar ao prefeito, que havia recebido de presente de aniversário de seu irmão, Coronel do Exército, um belo revólver 45, que guardava em sua gaveta, sem balas. Quando soube pelo informante do pedido de impeachment não teve dúvida, abriu a gaveta, pegou a pistola e exclamou: “Olha aqui para o Mário Ottoboni!”
Tanto a Prefeitura como a Câmara funcionavam no mesmo prédio da rua Sebastião Hummel (hoje Biblioteca Pública Municipal Cassiano Ricardo). Não demorou muito para o Mário Ottoboni ficar sabendo do que aconteceu, quando o Veloso soube do pedido de impeachment. Ele voltava da Casa Diamante, onde havia comprado um revólver de brinquedo, todo niquelado, marca Estrela, para o seu filho Marquinhos (Júlio Ottoboni). Pegou o revolver de brinquedo, encheu com as espoletas, colocou na cintura e foi até o gabinete do prefeito. Lá chegando, encontrou com da Elzira, a secretária, que tentou impedi-lo de entrar, argumentando que o prefeito estava muito nervoso. Mário não teve dúvida, abriu a porta, viu Veloso sentado em sua mesa conversando com o vereador Mário de Paula Ferreira. Tirou o revólver de brinquedo da cintura e falou: “Então você disse que vai resolver o meu problema à bala?!”. E começou a disparar para todo lado. Mário de Paula Ferreira correu e foi se abrigar num canto. Veloso agachou atrás da mesa e quando viu que era só fumaça, pegou o seu revólver de verdade da gaveta e apontou para o Mário Ottoboni:
“E se eu resolvo responder daqui?!”
E foram só gargalhadas dos dois, que sempre foram bons amigos. Só o Mário de Paula Ferreira teve de tomar um copo d’água com açúcar, tamanho foi o seu susto…
Luiz Paulo Costa – Jornalista
“Família Pobre”
Como principal mentor da Associação Joseense de Teatro, Mário Ottoboni chegou a conseguir a doação de uma área de terra (onde hoje fica a Casa do Médico da Associação Paulista de Medicina) para a construção do teatro municipal e realizou uma série de Festivais de Teatro. Aliás, Mário Ottoboni é autor de uma série de peças teatrais. A carreira de dramaturgo foi interrompida em 1964. A sua peça “Família Pobre” estava sendo encenada em São Paulo, com algum sucesso.
Desta peça cheguei a publicar uma crítica no jornal “Diário de São José dos Campos”, do Nenê Cursino, que o próprio Mário Ottoboni dirigia, na qual destacava o seu caráter idealista de querer resolver a questão social, casando os filhos das famílias pobres com os filhos das famílias ricas. E concluía: o Mário Ottoboni não vai encontrar tantas famílias ricas para casar com os filhos de milhões de famílias pobres…
Mas a peça “Família Pobre” foi considerada subversiva pelos golpistas de 64 e sumiram até com os cenários da peça no teatro da capital… É que não se podia falar em pobre naqueles tempos!
Luiz Paulo Costa – Jornalista
A mudança do cemitério
O Prefeito José Marcondes Pereira, no início da década de 60, encontrava-se em dificuldades financeiras para o pagamento dos servidores municipais, que estavam recebendo em vales. Precisava aumentar o IPTU, mas isto, explorado pela oposição, poderia se transformar numa revolta na cidade e os munícipes poderiam não recolher o imposto, piorando ainda mais a situação da Prefeitura.
Chefe de Gabinete, Mário Ottoboni inventou o boato de que o Prefeito queria mudar o cemitério da rua Francisco Rafael, provocando enorme revolta na cidade, principalmente entre as beatas do Padre João Marcondes Guimarães: “Onde já viu mexer com os nossos entes queridos?!” E um abaixo-assinado contra a mudança reuniu milhares de assinaturas. Padre João pede uma audiência com o Prefeito para a entrega do abaixo-assinado. Mário Ottoboni compromete-se em marcar mas vai adiando. É que o IPTU com aumento já tinha sido lançado e estava para vencer a data de pagamento. Nas filas de recolhimento do tributo na Prefeitura, as críticas maiores eram contra a mudança do cemitério. Mas todos pagaram o IPTU. Dias depois o Prefeito José Marcondes Pereira recebe uma comissão liderada pelo Padre João, recebe o abaixo-assinado e anuncia: “Enquanto eu for Prefeito de São José, ninguém muda o cemitério onde estão os nossos saudosos e queridos entes! Podem voltar para suas casas tranquilos e sossegados!” E, com o aumento do IPTU, conseguiu, no final do mês, resgatar os vales de pagamento dos servidores municipais. E todos ficaram felizes!
Luiz Paulo Costa – Jornalista
Pagamento com homenagens
Uma das maiores façanhas de Mário Ottoboni foi a de, como presidente do Esporte Clube São José, construir o Estádio Martins Pereira sem dinheiro. Fez das tripas o coração, mas construiu e inaugurou! O prefeito Ednardo de Paula Santos, em 1975, no entanto, teve de intervir e adquirir o Estádio Municipal porque, com a dívida não paga, ele foi a leilão…
Aliás, o impecável gramado do Estádio Martins Pereira tem um dos melhores sistemas de drenagem. Garantido por centenas de caminhões de pedras que ali foram depositadas. Quando da inauguração, Mário Ottoboni convidou o empresário Martelo, de Guarulhos, que havia fornecido os caminhões de pedra. Este ficou muito contente, pensando que iria receber o pagamento pelas pedras. Quando chegou no Estádio Martins Pereira, foi chamado por Mário Ottoboni para descerrar uma placa em sua homenagem pelo fornecimento das pedras para drenagem do gramado. E ficou só nisso!
Mário Ottoboni e o compadre Argemiro Parizotto de Souza, outra pessoa versátil e notável, já não eram mais recebidos pelos gerentes de banco da cidade. O EC São José devia e não conseguia resgatar os títulos bancários. Os gerentes estavam esgotados com os pedidos de prorrogação do vencimento das dívidas. O próprio patrimônio familiar do Mário, do Argemiro, do Nadim Rahal e de tantos outros amigos estava ameaçado pelas dívidas do EC São José. Um belo dia, Mário Ottoboni pega o Argemiro Parizotto e diz: “- Quer saber de uma coisa, compadre? A gente já tá devendo tanto, que uma dívida a mais não vai fazer diferença! Vamos até a Capri Magazine, do Hélio Del Chiaro, comprar roupa.” E saíram de lá, nos trinques, de terno, gravata, meia, sapato, tudo novo! Não é que quando apareceram nas agências bancárias, os gerentes foram logo recebendo os dois bem vestidos dirigentes do EC São José! E eles conseguiram mais uma prorrogação do prazo de vencimento de alguns títulos bancários…
Luiz Paulo Costa – Jornalista
Pulando de contentamento!
A luta de Mário Ottoboni pelo EC São José começou no antigo campo da rua Antônio Saes. Aliás, ali o próprio Ottoboni havia defendido as cores alvinegras (não era ainda o azulão de hoje) como goleiro do São José. Como presidente, deu início à trajetória que acabou levando o EC São José à divisão especial do futebol paulista. Mas, nos primeiros campeonatos que o time disputou aconteceram muitas e boas… Um dia, vitorioso em uma partida, Mário Ottoboni chegou a ser carregado pelos torcedores! Parecia que ele havia gostado, mas não! É que um dos torcedores começou a enfiar o dedo em sua bunda e ele começou a pular! Mas não era de contentamento. No jogo seguinte, também vitorioso, os torcedores ameaçaram carregá-lo nas costas! Ele prontamente virou-se para os torcedores e disse: “- Hoje a vez é do doutor Fauze Métene, o médico do time, ser homenageado!” E lá foi o Fauze nos braços dos torcedores, pulando de contentamento! (2001)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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