A Praça: Um Lugar, Muitas Histórias – Joyce Martins

“O que a sociedade quer? É que a gente tenha dinheiro?”


Joyce Martins é mãe de dois filhos e cidadã de Mogi Mirim desde que nasceu. Quando casada era uma dos 650 moradores do CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano da cidade. Morava em uma casa de 50 m2, aquela com dois quartos, um banheiro e uma pequena cozinha com a área de serviço agregada.

Despertava ainda de madrugada pra aprontar os filhos e entregar na creche, depois corria pra pegar o ônibus e ir trabalhar. Passava o dia inteiro ao telefone em uma empresa de telemarketing. Seu trabalho era ser simpática, ouvir e anotar as reclamações dos clientes do outro lado. Estudou até o terceiro colegial, frequentava a igreja evangélica e sempre se esforçou para ser uma boa esposa e boa mãe.


O nome de Joyce estava na lista dos outros vários que foram mandados embora da empresa há dois anos. Joyce tinha ouvido falar da crise de economia mas não achava justo o que estava acontecendo com ela. Só o marido Sérgio Souza que também foi seu primeiro namorado não dava conta das despesas com o dinheiro que conseguia vendendo bala no trem da cidade. Sem comida em casa e vendo o marido preferindo ir jogar bola por a ter que trabalhar a relação foi ficando cada vez mais difícil até que não suportaram mais e o rapaz abandonou a família e voltou a morar com sua mãe.

Desempregada e sem dinheiro ela tinha uma amiga prostituta que tirava uma boa grana fazendo programas. Convencida pela moça resolveu tentar uma vez e desde então não parou mais. Ser profissional do sexo virou o novo ofício da jovem.




Ela sai na quinta-feira à noite de sua cidade para vir até São José dos Campos trabalhar. Depois de dirigir 3 horas ela se instala em um hotel no centro da cidade bem perto de seu ponto de trabalho.

No dia seguinte se caracteriza. Coloca uma calça colada, salto alto, blusa decotada, arruma o cabelo, passa batom, lápis no olho, perfume e saí a caminho de seus clientes. Na esquina da Praça Afonso Pena, ela espera e não é preciso se insinuar muito para aparecer o primeiro interessado. Ela chama a atenção e é cantada por onde passa o que provoca um intenso ciúme nas outras garotas da praça.

Tudo é acertado ali na hora. Custa R$50,00 por 30 minutos. O cliente escolhe se vai querer penetração ou sexo oral, os dois ela não faz. Não tem beijo na boca, não tem abraço e também não pode pegar nos seios e fica certo também que o cliente arca com o custo do quarto do hotel.

Joyce garante que nunca leva meia hora, sempre acaba antes. “Os mais velhos são os mais rápidos, já os jovens “bombadinhos” de academia adoram se mostrar e se acham os “caras“. Esses dão mais trabalho”. Tudo é feito com preservativo ela diz. “Somos muito mais limpas do que essas mulheres baladeiras que fazem sexo casual. É profissional”. “Claro, tem as barraqueiras que fazem sexo pra ter dinheiro pra droga, o que não é o meu caso. Eu estou aqui pra comprar comida para os meus filhos e dar uma boa educação pra eles”, ela completa.

Joyce conseguiu se mudar para um apartamento em um bairro melhor e colocar as crianças em escola particular. Só anda de carro zero e trabalha bem menos, explica. “Se a sociedade quer que a gente tenha dinheiro. Pois bem, eu estou trabalhando para ter dinheiro, para ter uma condição melhor e não vou passar pelo que passei de novo”.

Ela vem trabalhar em São José dos Campos porque não quer ser conhecida na cidade onde mora. Quando chegou aqui foi falar com a cafetina da praça para poder ser aceita. A “dona do pedaço” exige R$30,00 por dia de cada prostituta e em troca fornece a segurança para as meninas, quando preciso até bate no cliente.

As primeiras vezes Joyce trabalhou para ela, mas não aguentou depois que a mulher a fez transar 3 vezes mesmo menstruada. Saiu no tapa com a cafetina e foi para o outro lado da praça onde conquistou seu espaço sozinha.

Esperta, fez amizade com vários policias que a respeitam e não interferem no seu trabalho. Por algum tempo, fez anúncio de seus serviços em um site da internet, mas cancelou o registro depois que marcou encontro com um desconhecido que reclamou que não conseguiu gozar e por isso não iria pagar. Ela então ameaçou riscar o seu carro e ele reagiu tirando uma faca do bolso dizendo que ia cortá-la inteira. A amiga que estava por perto a socorreu, as duas fizeram escândalo e chamaram a polícia. O cara pagou e fugiu antes que os policiais chegassem.


Algumas “meninas” utilizam de alguns artifícios para conseguir mais dinheiro do homem que, dependendo da vulnerabilidade emocional, muitas vezes chegam a pagar mais que o combinado, a chamada gorjeta. Joyce já conseguiu R$ 700,00 em um só programa e só o que fez foi ouvir um desabafo de um marido desiludido.

Ela ganha R$2 mil por semana e só trabalha quinta, sexta, sábado e domingo. Está satisfeita com a sua vida e diz que só o que é constrangedor é encontrar com pessoas que já serviu antes.

“Ás vezes eles estão com a mulher, a esposa e é horrível, você olha pra ele e pensa. Nossa esse, cara já me comeu antes”.

Vestida no dia a dia com roupas normais, usa óculos e tênis e nada a impede de frequentar shoppings centers e restaurantes com seus filhos.

A família não sabe da escolha da garota e ela ainda também não pretende contar o seu segredo. Joyce por enquanto prefere continuar levando as duas vidas no anonimato.

Um ex-cliente virou seu namorado e quer que ela agora saia dessa vida, mas ela reclama.

“Não vou sair não, se ele não for pagar as minhas contas, eu não saio. Ele tem que me dar tudo que eu quero”.


09 de Outubro de 2010


Texto e fotografia: Nádia Alcalde
Revisão ortográfica: Miriam Puzzo
Diagramação: Rodrigo Schuster
Unitau – 2010 


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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente

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