Minha memória mais antiga da Feira da Barganha é no Jardim do Sapo (Praça João Mendes), bem no início dos anos 80. Minha mãe levava algumas coisinhas pra vender e trocar, enquanto eu me aventurava em meio as quinquilharias expostas. Em uma ocasião, encontrei uma revistinha dos Smurfs e pude compra-las com as moedas em meu bolso, devorando o quadrinho debaixo de uma das frondosas árvores da praça.
Segundo informações, seu início foi na lateral do Mercadão, passando pelo estacionamento do Jumbo Eletro, Praça do Sapo, rua do Paço Municipal, lateral do Martins Pereira e hoje, na área ao lado do terminal intermunicipal.
A matéria a seguir foi extraída do Jornal do Comércio, lançado em julho de 1988. Ao final, você verá alguns dos comerciantes da feira, que imagino que muitos ali já não estejam entre nós.
Um exemplo de exercício democrático e participação dos setores da comunidade na tomada de decisões administrativas. Assim pode ser definido o acordo firmado entre as lideranças do comércio de São José dos Campos e representantes da Feira da Barganha em junho, permitindo a comercialização de produtos de pontas de estoque na feira realizada todos os domingos em frente ao Paço Municipal. Após três rodadas de negociação, Sindicato do Comércio Varejista, Associação Comercial e Industrial (ACI) e barganheiros, fecharam um termo de compromisso que acabou transformando em projeto de lei, aprovado por unanimidade pela Câmara e sancionado pelo prefeito Antônio José. Além disso, o comércio teve nesse episódio uma grande vitória — o debate sobre a Barganha abriu discussões sobre a existência e localização de todas as feiras e pontos de barraqueiros do município, que o Sindicato e a ACI querem levar adiante.
A participação das lideranças empresariais foi decisiva para solução do problema. E aconteceu pela união do Sindicato e da ACI. Até então, o assunto era tratado de maneira atropelada, com a utilização de reivindicação dos barganheiros para fins políticos, em razão do ano eleitoral. Assim, tentou-se atropelar o comércio, com uma decisão tomada na base da pressão e da força. Um projeto de lei foi apresentado pelo vereador Benedito Siqueira (PMDB) para ser aprovado de roldão, e chegou-se ao extremo de se marcar reuniões e reclamar a presença de entidades representativas do comércio, sem que elas nem tivessem sido convidadas.
Frente a essa armadilha política, Sindicato e ACI reagiram. Mas com direção e determinação. Os presidentes do Sindicato e ACI, Flávio Moura e Maurício Peneluppi, foram acompanhados de membros das duas diretorias a uma reunião com representantes da Feira da Barganha e propuseram que o problema fosse tratado de maneira ordenada, através de um grupo de trabalho que reunisse todas as partes interessadas. A ideia foi bem aceita, e teve início uma conversação objetiva sobre o assunto, na sede da Associação Comercial e Industrial. Era o início da solução democrática — ordeiramente, representantes do comércio e barganheiros sentaram-se para discutir e buscar soluções sobre um problema comum.
Sobressaltos
Os integrantes da Feira da Barganha reivindicavam o direito de comercializar produtos novos na Feira, além da tradicional troca de objetos que caracteriza a verdadeira barganha. O empresariado acreditava que o assunto deveria ser discutido antes de uma decisão apressada. Com os grupos reunidos, entretanto, um sobressalto — enquanto se tentava uma decisão, a Prefeitura liberava para funcionamento em diversos locais da cidade feiras e pontos de barracas, por pressão do vereador Benedito Siqueira.
-Isso é traição, molecagem — protestou Flávio Moura em reunião com os barganheiros. E aconteceu um dia antes da assembleia convocada pelo Sindicato para que os associados aprovassem que a diretoria negociasse com livres poderes com a Feira da Barganha. A reação do empresariado foi tão forte, que o prefeito Antônio José telefonou ao presidente do Sindicato para explicar que a liberação das feiras fora um ato do escalão inferior, e que havia sido tomada sem seu conhecimento. E que já havia proibido o funcionamento dos pontos de barraqueiros.
Contornado outro empecilho político, lideranças do comércio e barganheiros sentaram-se uma terceira vez e firmaram um acordo, transformado em projeto de lei e aprovado pela Câmara. Sancionado pelo prefeito, uma nova Barganha funciona a partir de 3 de julho. Na opinião de José Maria de Faria, presidente em exercício do Sindicato do Comércio Varejista, que assinou o acordo pela entidade, “o comércio conseguiu uma vitória, regularizando uma feira indisciplinada, enxugando-a e dando parâmetros para que a Prefeitura possa fiscalizá-la com maior rigor”.
– O problema do comércio joseense não é a Barganha. Ela funciona aos domingos, das 7 às 13 horas, fora da área central, e tem um público já cativo. Nosso problema é o barraqueiro, espalhado pela cidade e que atrapalha nosso comércio, enfeia a cidade e precisa ser melhor analisado – afirmou ele. Com José Maria de Faria concorda o presidente da ACI, Maurício Peneluppi. “Nossa briga é com os barraqueiros. A Barganha não atrapalha. E nela, através de trabalho honesto, está aberta a possibilidade de pequenos comerciantes de pontas de estoque se tornarem empresários estabelecidos”, disse ele ao Jornal do Comércio.
Lado Positivo
O debate sobre a Feira da Barganha teve consequências positivas. Alertou o empresariado do comércio para as armadilhas que podem ser armadas em um ano de eleição, e abriu um espaço que Sindicato e ACI pretendem ampliar para discutir a situação das barracas de quinquilharias espalhadas pelo centro e pontos de movimento da cidade. As duas entidades querem agora discutir de modo organizado e propor uma mudança global nas feiras de São José dos Campos, exceção feita às feiras tradicionais, de hortifrutigranjeiros.
Assim, as barracas de quinquilharias da Praça João Mendes, a Praça do Sapo, na opinião dos dirigentes do Sindicato e ACI, não devem permanecer naquele local. Idêntico tratamento deve ser dado para outras barracas na área urbana. “Em São José dos Campos, os barraqueiros têm um ponto fixo para vender suas bujigangas em espaço nobre, sem pagar aluguel e concorrendo na frente da loja de um comerciante estabelecido. Isso é concorrência desleal”, afirmou José Maria de Faria. “Esse é o verdadeiro problema nosso”, acrescentou. Sindicato e ACI elaborarão um projeto comum sobre o assunto, que será encaminhado para a Prefeitura.
Na discussão sobre a Barganha, alguns outros pontos de vista acabaram revistos. A ideia do comércio de pedir a mudança para domingo da Praça da Cultura, que se realiza nas manhãs de sábado na Praça Afonso Pena, recebe algumas críticas, que serão melhor analisadas no global. A principal é a função que a Praça executa no centro da cidade — ela é mais um chamariz para a região, auxiliando de certa forma a atrair pessoas para o centro, auxiliando indiretamente o comércio. Esse ponto de vista foi colocado pelo presidente em exercício do Sindicato. — A Praça da Cultura tem servido para contrabalançar o polo de atração que é o CenterVale Shopping. Mudá-la para domingo pode acabar esvaziando a área central, em detrimento do próprio comércio. Essa é uma questão a ser bem debatida — afirmou José Maria de Faria. A Prefeitura, segundo afirmou o secretário de Governo, Carlos Sebe, no próprio Sindicato, assumiu o compromisso de adotar como proposta oficial o resultado das discussões das entidades representativas do comércio sobre o assunto.
Saiba o que diz o acordo firmado sobre a Barganha
O acordo firmado entre empresários do comércio e representantes da Feira da Barganha, posteriormente transformado em projeto de lei, aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito Antônio José (PMDB), previa principalmente uma regularização do número de feirantes e o estabelecimento de um porcentual máximo para venda de produtos de ponta de estoque. Pelo acordo, a Barganha passa a ter 260 participantes, e os comerciantes de ponta de estoque não poderão ultrapassar 23% do total da Feira.
O acordo firmado, na íntegra, é o seguinte:
A Feira da Barganha terá 260 participantes, com um limite de participação de até 23% para aqueles que comercializarem pontas de estoque.
Além dos produtos de troca ou barganha propriamente dita, a comercialização só poderá ser feita com produtos de pontas de estoque, mesmo assim com notas fiscais. Os barganheiros se comprometeram a adquirir, dentro do possível, produtos de pontas de estoque do comércio de São José dos Campos. Foi proposta a criação de uma cooperativa de pontas de estoque entre barganheiros e comerciantes, para colocação de saldos do comércio regular.
Os barganheiros aceitaram as proibições e demais disposições da lei 3.270/87, inclusive dando prioridade a deficientes físicos, sexagenários e desempregados.
Será realizado um novo e geral recadastramento dos feirantes, dando prioridade aos atuais participantes, e excluindo pessoas residentes em outros municípios. Serão cobrados impostos e taxas a critério do Poder Público.
A atividade da barganha, troca de produtos, será incrementada para conservar e aumentar o sentido folclórico da Feira, mantendo sua atração e valorizando o espaço.
Os barganheiros utilizarão crachás pessoais e para as barracas, identificando por cor os feirantes de produtos de pontas de estoque. Isso facilitará a ação dos fiscais da Prefeitura. O crachá da barraca terá dimensão de 20 x 20 centímetros. As barracas de produtos novos terão toldo de cor diferente das barracas de barganheiros. A identificação visual será um elemento importante na nova Feira.
E proibida a participação de comerciantes já estabelecidos na Feira da Barganha. Exceto para aqueles que já vêm desenvolvendo uma atividade no espaço — esses têm direito adquirido.
A Feira da Barganha funcionará somente aos domingos, das 7 às 13 horas, na Rua José de Alencar, em frente ao Paço Municipal.
Algumas das muitas pessoas que já fizeram parte da Feira da Barganha no início dos anos 80:
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