Homenagem Póstuma a Olivo Gomes (1882-1957)


Cessou de bater um grande e generoso coração

A morte, na sua impiedosa, mas inexorável missão, acaba de fazer cessar de bater um grande e generoso coração. O coração boníssimo de um homem profundamente compassivo para com as dores e os sofrimentos alheios.

Um cidadão que foi bom pai, bom esposo, excelente chefe de família dessa grande família que eram os seus operários. Referimo-nos a Olivo Gomes, cujo corpo inerme por sua última vontade foi sepultado hoje em nosso chão, no solo de São José dos Campos, terra que ele tanto amou e de cujo progresso industrial foi um dos baluartes. São José dos Campos perde, portanto, com a morte de Olivo Gomes, um dos seus mais queridos e diligentes filhos adotivos.


Um elemento cuja capacidade de trabalho invulgar, cuja devoção aos seus semelhantes, muito o elevaram no consenso de São José, da nossa sociedade inteira que nele via um elemento utilíssimo enfim uma individualidade admirável, de quem dependia o bom estar de tantas e tantas famílias, dos seus operários que muito antes de serem seus operários eram seus diletos amigos.

Nós aqui do Diário de São José dos Campos cujo alicerce foi assentada a base do espirito, de cooperação do ilustre morto nos sentimos profunda e naturalmente compungidos com a sua morte. E finalizando genuflexo num profundo gesto de tristeza e de consternação, pedimos ao Altíssimo que conserve no Rei no dos Céus, quem como Olivo Gomes viveu para distribuir o bem, a mão cheia. À sua ilustre família pois apresentamos as nossas mais sentidas condolências pelo golpe que a nós todos atingiu.


Há muitos anos desde quando ocorreram falecimentos de personalidades como o Cônego Lima, os Drs. Ivan de Souza Lopes e Nelson d’Avila – não vê São José dos Campos uma tão unânime demonstração de solidariedade humana e compulção, como a notada ontem, por ocasião do sepultamento do sr. Olivo Gomes.

Nossa cidade, praticamente em peso, esteve presente ao enterro do ilustre extindo. Todas as classes sociais ali estavam representadas, desde políticos destacados, industriais, comerciantes, representantes das classes liberais, até humildes trabalhadores braçais.

Via-se nas faces, estampando o sentimento de tristeza, pela perda irremediável que sofreu a nossa sociedade. Desaparece de fato, com o sr. Olivo Gomes, uma figura exponencial de nossa vida, seja pelo progresso que imprimiu à Tecelagem Paraíba S/A, da qual era diretor superintendente, seja pelo incentivo dado à lavoura e pecuária, como lavrador e criador do mais distinguidos, seja pela obra social que realizou.


É nesta parte, justamente, que reside o principal mérito do morto. Olivo Gomes sempre entendeu a indústria não como um meio de fazer lucro e expandir a produção, mas no seu sentido altamente social, encarando a fábrica como um imenso lar. Imenso lar, onde havia que atender às necessidades físicas e espirituais. Onde ao lado do «super-mercado», o primeiro da América do Sul, onde se vende produtos muito abaixo do custo, ao lado do grupo escolar modelar, do estádio digno de menção, do refeitório, da sala de espetáculo, da assistência médica e dentária – onde ao lado de tudo isso havia a compreensão pelos problemas humanos, o sentimento da solidariedade social.

O supermercado da Tecelagem Parahyba, onde alguns apontam como um dos primeiros da América Latina, foi pioneiro no modernismo ao estilo norte-americano de “pegue e pague” no Brasil, com as mercadorias em gôndolas prontas para serem retiradas, revolucionando os sistemas antigos das Vendas e Armazéns. Em princípio ele atendia apenas seus funcionários, sua primeira versão sofreu um incêndio na década de 1950, onde ocorreu uma grande mobilização para salvar os produtos. O estabelecimento funcionava onde hoje é a sede da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.


Por compreenderem tudo isso, os operários da Tecelagem compareceram em massa ao sepultamento de seu Chefe, não como ato de presença e um dever, mas com a espontaneidade dos que perderam um verdadeiro amigo.

São José lá esteve chorando, compungidamente, aquele que muito mereceu nossas lagrimas. Esteve lá e não escondeu sua magoa, ao ver partir quem tanto bem espalhou na terra.

Nas lutas cívicas de nossa terra, Olivo Gomes foi combatente destacado, esforçado, digno, que sempre encarou a democracia como nosso verdadeiro caminho eis que sua vida dedicada à democracia e respeito à dignidade humana.


Deixa o sr. Olivo Gomes (Eposa da. Maria Fagundes Gomes e os seguintes filhos: Dr. Clemente Fagundes Gomes, Dr. Severo Fagundes Gomes, Dr. Antônio Fagundes Gomes, Sra. Eloisa Gomes Rodrigues Alves e srta. Maria Izabel Fagundes Gomes.

O Cte. Onadir Marcondes, num gesto sobremodo feliz e de justiça, acaba de indicar ao Poder Executivo, seja adotado o nome de (Olivo Gomes) á uma das ruas de nossa cidade. Assim, a nossa terra, perpetuará na lembrança da geração atual e provindouras, um nome de uma individualidade que soube engrandece-la, que soube quere-la ao ponto de recomendar que seu corpo inerme fosse sepultado em nosso chão, que ele já considerava o seu próprio chão. Não podemos, pois deixar de externar, os nossos mais comovidos aplausos á feliz iniciativa do Cte. Onadir Marcondes, o qual como filho desta terra, soube também compreender, soube sentir a gratidão de sua gente, para com um homem que de tal maneira, se integrou conosco, que tornou um dos mais dilétos filhos por adoção deste rincão bandeirante.


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