Por gostar muito de crianças, José Coutinho Pereira resolveu se dedicar a um tipo de trabalho que, além de rendoso, permite um estreito contato com elas. Com um cavalinho de madeira, gasto pelo uso, percorre as ruas dos bairros periféricos de São José dos Campos, fotografando crianças pelo preço de 12 cruzeiros por foto. Um trabalho cujo apelo é inevitável. A maioria das crianças quer ser fotografada. Mas tudo começou por acaso. José trabalhava numa padaria em Aparecida do Norte e um amigo, ao perceber sua espontânea dedicação lhe incentivou para que adotasse este tipo de trabalho. Afinal Aparecida do Norte é uma cidade onde grassa uma enorme variedade destes profissionais. Tudo é motivo para uma foto de lembrança.
Abandonando o serviço na padaria, ao mesmo tempo em que a sua própria mulher fazia as trouxas, deixando com ele a tarefa de olhar seus filhos, José resolveu empenhar-se, de corpo e alma, à nova atividade. Com algumas economias guardadas comprou uma máquina fotográfica e montou um rudimentar laboratório de revelação nos fundos de casa. E pôs em campo, isto é, começou a trabalhar nas praças, ruas e nas proximidades da nova Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, a Padroeira do Brasil. Não demorou muito para perceber que a praça estava saturada e pouca coisa lhe sobrava para fotografar.
A primeira cidade que lhe veio à mente foi São José dos Campos. A cidade estava crescendo e por isso ele resolveu tentar a sorte aqui. Faz 4 anos que mora aqui e todos os dias começa a sua peregrinação. Os filhos, já crescidinhos, “se viram” enquanto ele sai para ganhar o pão de cada dia. Adoração pelas crianças ele não sabe afirmar como começou. “Acho que é um dom, sei lá… Também não tive uma infância muito feliz… a gente era um pouco pobre, sabe como é, né… Então talvez esteja querendo compensar, agradando as crianças. Muita gente não paga, alegando qualquer motivo. Mesmo assim eu dou a foto, pois prejuízo não tenho, sempre dá para fazer isso.“
Levando o cavalinho de madeira amarrado numa bicicleta ele bate de porta em porta. Quando fica muito gasto ele compra outro cavalinho e prossegue. Consegue faturar mais nos meses de férias, em dezembro, janeiro, e fevereiro e julho. Chega a fazer cerca de 70 a 80 fotos por dia. Em outras épocas, de baixa, consegue quando muito, 10 a 20 fotos por dia. Por isso sua renda varia de 3 a 6 mil cruzeiros.
– Dá para viver. Sem luxos, é claro. Faço tudo em casa mesmo e não tenho grandes despesas. Nunca teve grandes aborrecimentos, pois gosta muito do que faz. Só evita o centro da cidade, onde tal atividade é proibida pela fiscalização. “Fotografar na Praça Afonso Pena e no Parque Santos Dumont seria bom, mas não é permitido, então fazer o que?! As fotos lembranças que faz ele devolve num binóculo pequeno com muitas cores. Sempre anda com um monte deles amarrado num fio. E de longe a criançada já o identifica. E mesmo aqueles que já tiraram fotos, querem tirar de novo. Ficam contentes e isso faz a alegria diária de José Coutinho Pereira, que procura fixar com sua máquina fotográfica um instante da infância que fica eternizada na recordação.
Jornal Valeparaibano, 1978
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