No fundo, uma fonte praticamente desconhecida da nossa população
A fonte Canindu foi a grande divisora de águas da política de São José dos Campos, ou seja, do palco político do próprio Vale do Paraíba, por causa do maior colégio eleitoral regional concentrar-se na localidade.
Já em 74, fruto da polêmica acirrada, o prefeito Sérgio Sobral de Oliveira queria preparar a fonte para exploração, não política, mas turística. Nessa época, a água era motivo da classificação de São José dos Campos como estância hidromineral, fator de profundas implicações políticas e administrativas e praticamente desconhecida pelo povo e seu manancial de 24 mil litros por dia, segundo a administração municipal da época, jamais tinha sido explorado comercialmente, apesar do teor de radioatividade superior ao de muitas marcas dominantes no mercado.
E a partir do segundo semestre de 74, a fonte Madre Teresa, ainda de acordo com informações da prefeitura, em 75, lugar onde jorra a água Canindu, começou a ser preparada para exploração turística ou, pelo menos, para uso da população de São José dos Campos que, na afirmativa de Sérgio Sobral de Oliveira, naquele tempo, “poderá abastecer-se de água radiativa gratuitamente” e noticiou-se muita coisa, como a urbanização da área que circunda a fonte, na Vila Cândida, a substituição da ponte sobre o rio Buquira, a pavimentação das ruas e a construção de alguns quiosques nas proximidades.
Falava-se na qualidade da água: mantendo temperatura constante de 21 graus, a água Canidu aparentaria teor de radiatividade de 16 maches, superior às águas de Cambuquira (0,2 maches), São Lourenço (2 maches), Lambari (3,1 maches) e Lindóia (3,3 maches), o que a caracterizaria como portadora de amplas propriedades terapêuticas.
Laudo de 25 de abril de 1928 do Laboratório de Análises de Águas e Minérios de Adelino Leal e H. Potal informa: “Água de fonte, pura. O resíduo mineral é composto, principalmente, por bicarbonato de cálcio magnesiano“. A radiatividade de 16 maches é comprovada por certificado do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado, de 1940.
O proprietário das terras onde se localiza a nascente, eng. Antônio Alves de Almeida, apresentou trabalho sobre as propriedades de água no II Congresso Nacional de Hidro-Climatismo e chegou até a preparar os rótulos para explorá-la comercialmente, o que nunca, todavia, concretizou.
A polêmica em torno da fonte Canindu, ou “a fonte dos sonhos”
A Fonte dos Sonhos de muitos políticos, prós e contra ela, continuou a dar trabalho. Em abril de 75, enquanto o Instituto Adolfo Lutz condenava o laudo técnico fornecido à Câmara Municipal de São José dos Campos, a água da fonte Canindu, que deu à cidade, desde 1934, a condição de estância hidromineral, a CETESB garantiu à Prefeitura que a água possuía propriedades minerais de alto teor, além de ser quimicamente pura. De qualquer maneira, o engenheiro Antônio Alves de Almeida decidiu pedir à Prefeitura uma indenização de um milhão de cruzeiros por ter descoberto a fonte.
Mas a Prefeitura definia que poderia discutir apenas a questão de propriedade porque o problema da descoberta da fonte é da responsabilidade do Ministério das Minas e Energia. Em conversa, então, com o prefeito Sérgio Sobral de Oliveira, naquele tempo, o engenheiro Antônio Alves de Almeida garantia que “a água é de procedência profunda, classe ignea e pirogênica, e tem sua origem em estado de vapor“.
Segundo o engenheiro, à medida que a água busca a superfície, os vapores se condensam quando alcançam as fendas, acompanhados de gases e emanações radiativas”. Para garantir a validade desse argumento, Antônio Alves de Almeida explicava que o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, em certificado dato de 1940, assinalou que a fonte apresentava “radioatividade 16 maches”. Além disso, o engenheiro garantia que a fonte podia apresentar uma vazão várias vezes superior ao volume de 96 mil litros diários, marca estabelecida por lei para o reconhecimento de um município como estância hidromineral.
Na época, o MDB resolveu convocar o engenheiro para explicações na Câmara e a Arena argumentava que o MDB incidia em erro tático, pois negava a existência de água mineral em São José dos Campos e com o pedido, acabava reconhecendo a presença do lençol em terras do município. A atitude do MDB diante do problema explicava-se pelo fato de as estâncias hidrominerais estarem sujeitas à nomeação de prefeitos pelo Governo do Estado e desse modo, se fosse constatadas não existências de propriedades na água da fonte Canindu, esse sistema seria substituído pela eleição direta, o que acabou acontecendo. O fato era acompanhado muito de perto pelo deputado estadual Robson Marinho.
E muita água, por causa da Fonte dos Sonhos, ia rolar por baixo da ponte.
Matéria escrita por Romeu Garcia na década de 1970. Infelizmente sem identificação do jornal através do recorte encontrado.
Abaixo algumas imagens da fonte entre as décadas de 1930 e 40 sem identificações
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