O nome Basílio Baranoff, antigo morador da rua Mário Sampaio Martins e falecido em 2008, não é nenhuma unanimidade em termos de popularidade atualmente no município, mas desde que eu o conheci no início da década de 1990, percebi que ele tinha muito conhecimento a oferecer e era uma mente que merecia publicações eternizadas, mas até onde sei, ele não chegou a escrever nenhum livro.
Entre o ano de 1994 e 1996 tive a oportunidade de fazer parte do grupo astronômico ABOEB (Associação Brasileira de Observadores de Estrelas Binárias) com o professor Diomar Cesar Lobão, Capitão Basílio Baranoff, Valério Weber e outros aqui em São José. Uma sala do ITA era utilizada para as reuniões diurnas e a área externa do Observatório (hoje administrado pelo IAE) para a montagem dos telescópios para a navegação celeste noturna.
O evento astronômico mais importante que já pude acompanhar aconteceu durante a colisão dos fragmentos do cometa Shoemaker-Levy 9 como a atmosfera de Júpiter. Na área externa pudemos observar através do refletor do Lobão, dia a dia a evolução destes fragmentos e os buracos que surgiam após o rompimento da atmosfera pelos fragmentos.
Apesar de ser da geração Halley, o cometa mais fascinante que já observei foi o Halle-Bopp em 1996, era possível observá-lo a olho nu em evolução diária durante o poente.
Fascinante também era ouvir as histórias do Baranoff enquanto se comunicava com o mundo na estação de Rádio Amador (PYZ-CTA) ao lado do Observatório, em uma época que a comunicação instantânea como temos hoje ainda engatinhava.
O texto a seguir abordará sua história por ele mesmo aos 78 anos de idade em 2006, compilado de algumas folhas redigidas por ele para um material sobre aa árvore genealógica de sua família. Na matéria seguinte abordarei mais sobre suas atividades militares, aeroespaciais e ufológicas.
Relato sobre a chegada de minha família ao Brasil
Meus pais eram imigrantes, chegaram ao Brasil, Rio de Janeiro em 04 de Abril de 1926. João Guerassimovitch Baranov (pai), tinha 16 anos quando chegou ao Brasil juntamente com meus avós. Nasceu na cidade de Vosnisenka, Ukrânia, próxima à Moldávia, em 08/05/1909, faleceu em 31 de Janeiro de 1978 na cidade de Itatinga -SP. Agripina Kondratnovna Baranova (mãe), tinha 10 anos quando veio ao Brasil, com o pai Kondrat Baltava e a madrasta, que não sei seu nome. Nasceu na cidade de Kishenev – Ukrania, em 08/02/1914, faleceu em 11 de maio de 1985, na cidade de São José dos Campos – SP.
Meus pais conheceram-se no Brasil e casaram-se em 28 de Fevereiro de 1932. Tiveram 6 filhos, todos homens. Minha mãe era analfabeta, meu pai tinha apenas o 2o ano primário (fundamental).
Meus avós paternos eram Guerassim Yokhanovitch Baranov e Domna Maximovna Baranova, eram excelentes agricultores. Tinham a religião Ortodoxa, e meus avós maternos eram Condrat Baltava e Solonia Baltava.
Como surgiu a ideia de meus avós virem ao Brasil
Após a revolução de 1917, a União Soviética sofreu um bloqueio econômico internacional e pressão de diversos países vizinhos. Meus avós residiam na época próximo a Romênia, que perseguiram os russos e exerciam pressão sobre os cidadãos que residiam na vizinhança.
Meu pai e seu irmão Zacharias Guerassimovitch Baranov deveriam ser convocados para servir o exército. A Romênia pressionava para que os jovens daquela região servissem o exército romeno. Um dia meu pai passando pela estação da estrada de ferro, viu um cartaz do Brasil, em que o governo brasileiro oferecia terras para plantio de café. Era o ano de 1926, o governo brasileiro abriu a imigração para diversos países, Japão, Ukrania, Alemanha, Itália, Moldávia, etc. Meu avô entusiasmado com a oferta de terras pelo governo brasileiro, realizou uma reunião com a família e empreenderam viagem para o Brasil. Vieram para o Brasil meus avós, meu pai, o irmão Zacarias. Um dos irmãos, Vladymir Yokhanovitch Baranov, resolveu ficar.
Viajaram de trem até o porto de Hamburgo. Em Hamburgo embarcaram de navio (não sei o nome), viajaram durante 3 meses, chegando no Rio de Janeiro em 04 de Abril de 1926, no dia da páscoa. Não sei quem pagou as despesas. Foram alojados na Ilha das Flores, juntamente com muitos imigrantes, onde permaneceram durante uma semana. Posteriormente meus avós com sua família e muitos imigrantes foram embarcados em um trem com destino para São Paulo e distribuídos por várias fazendas. Meus avós foram enviados para uma fazenda em Botucatu (não sei o nome dela). Meu pai comentou que na época chegaram cerca de 100.000 imigrantes ao Brasil.
Chegaram na fazenda, não receberam as terras para o plantio de café conforme promessa do governo brasileiro. Receberam casa, alimentação e um salário mensal. Era uma época do coronelismo, capataz, etc. A frustração foi muito grande, soube que minha avó chorava dia e noite. Como não tinham saída tiveram que permanecer. Após 3 anos, meu avô conseguiu pequena economia, viajou para a cidade de São Paulo, tentando um passaporte para voltar para a Rússia. Viu com surpresa que um grande número de imigrantes de outras nacionalidades, também faziam o mesmo. Meu avô entregou o dinheiro ao despachante, que fugiu com todo dinheiro e de muitos imigrantes. Meu avô foi preso e recambiado para a fazenda de Botucatu.
Meus avós, meu pai e meu tio Zacharias trabalharam mais 2 anos na fazenda de Botucatu. Durante uma noite, decidiram fugir. Foram até a estação de ferro de Botucatu, tomaram um trem e viajaram até Jacarezinho – PR, onde desceram. Todos foram trabalhar carregando vagonetas com terra, pois estava sendo construída uma estrada de ferro. Não sei por quanto tempo trabalharam nessa atividade.
Após algum tempo decidiram residir na cidade de Buri – SP, que fica na região de Itapetininga. Lá construíram uma casa de pau a pique e barro, alugaram uma área e começaram cultivar algodão, milho e feijão. Quando eu tinha 9 anos aproximadamente, meu pai contou-me, desejava que seus filhos estudassem, decidiu deixar a lavoura e mudou-se para a cidade de São Paulo, mesmo não tendo profissão.
Meus avós retornaram, voltaram a residir na cidade de Kishinev, pois não tinham vendido suas propriedades. Atualmente Vosnesenka é capital da Moldávia.
Vassili Feodorovitch Bicov, nascido também em Vosnesenka, grande amigo de infância e de adolescência de meu pai, veio ao Brasil também em 1926. Casou-se com Motia Lisnicenko Bicov, (falecida).
Em 1968, Vassili Feodorovitch Bicov e sua esposa visitaram como turistas, sua cidade natal e diversos parentes. Permaneceram durante 6 meses. Informaram-me que ainda temos parentes por lá. Consta que Serguei Yokhnovitch Baranov, irmão de meu avô Guerassim, residiam na Ulitsa Bagataya (nome antigo), na entrada de Vosnesenka e outros parentes residem na cidade de Tamur a 5 km de Vosnesenka.
Lembro-me que durante a 2a guerra meu pai recebia correspondência dos parentes de Vosnesenka. Perderam vários parentes na 2a guerra. De repente as correspondências cessaram, a partir de 1946, perdemos totalmente os contatos.
Sem ter profissão, meu pai mudou-se de Buri para a cidade de São Paulo, onde passamos a residir. Meu pai conseguiu trabalho em uma empresa, carregando sacos de café, feijão, arroz que eram transportados para o porto de Santos. Eu fui matriculado no primeiro grau, comecei meus estudos.
Minha mãe e meu pai aprenderam fazer manualmente flores artificiais com uns amigos, usando ferramentas manuais. Não sei qual o motivo, meus pais, mudaram-se em 1941 para Belo Horizonte. A viagem foi noturna. Até hoje lembro-me da música da rodas do trem nos trilhos, pois eu dormia no piso do vagão. Meus pais já tinham 4 filhos, eu, Waldemar Baranov, Júlio Baranov e Roberto Baranov que tinha alguns meses. Veja que sou o único registrado como “Baranoff”, meus pais não sabiam falar corretamente o Português, quando me registraram.
Passamos a residir na Rua Baependi número 99, no Bairro do Bonfim. Nós sobrevivíamos da fabricação e venda de flores artificiais. Fabricávamos e vendíamos no mercado, e na rua oferecendo de casa em casa. Eu continuei meus estudos, terminei o primário (fundamental). Meu pai matriculou-me no antigo Ginásio, hoje de 5a a 8a série. Em Belo Horizonte consegui cursar apenas o 1o ano do 2o grau, quando em 1953, com 20 anos fui convocado pela Aeronáutica para o serviço militar como soldado.
Conversávamos em casa na linguagem familiar russa. Quando brincávamos com outras crianças falávamos o Português. Quando começamos estudar na escola, nos tornamos adolescentes, deixamos de falar a língua russa.
Nota: há um salto em sua história neste ponto, já que ele não escreveu seus histórico na força aérea, mas este será apresentado na segunda parte desta matéria.
Em 1995, trabalhando no Centro Técnico Aeroespacial (CTA), cheguei ao posto de Capitão, tendo ido para a Reserva da Aeronáutica em 1983. Já como civil fui contratado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Em 1995, apresentaram-me no CTA 3 pesquisadores russos de Moscou, que vieram trabalhar durante 2 meses no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Dei a eles apoio extra missão, em consequência fizemos um excelente relacionamento. Lendo o Jornal Valeparaibano de São José dos Campos, vi um anúncio de que uma professora nativa de Moscou ensinava a língua russa. Altamente motivado, iniciei o estudo da língua russa com a Profa. Liudmila Grigorievna Komiran, que veio ao Brasil em 1982. Hoje falo razoavelmente. Nenhum dos meus irmãos fala o idioma russo.
Em 1996 fui convidado pelos pesquisadores russos, a quem dei apoio extra para visitar Moscou. Já estive em Moscou em 1996, 1998 e 2002. Entretanto, devido a extinção da União Soviética e o tempo disponível, e ainda a separação em diversos outros países, não consegui visitar Vosnesenka nem Kishinev.
Imagens de Baraboff na Rússia
Dados e informações sobre meus 6 irmão, por ordem de nascimento e antiguidade
Basílio Baranoff, nasci em 12 de Janeiro de 1933 na cidade de São Paulo.
Voltando um pouco, em 1953 fui convocado para o serviço militar pela aeronáutica. Antes da convocação, havia feito o curso de Rádio Técnico por correspondência no Instituto Monitor. Ao terminar o período de mobilização, vislumbrei uma porta para crescer. Convidei meu irmão, Waldemar Baranov, fizemos um cursinho fizemos um cursinho preparatório, fomos aprovados, conseguimos a classificação para realizar o curso de Sargento, na Escola de Especialistas da Aeronáutica, na cidade de Guaratinguetá.
Concluímos o curso de Eletrônica após 2 anos, devido nossa excelente classificação, fomos selecionados para trabalhar no Departamento de Eletrônica do CTA. Tive oportunidade de trabalhar com um italiano Vicenzo Kalenda di Tavani, discípulo de Guglielmo Marconi, quem iluminou o Cristo Redentor, enviando um sinal de rádio da Itália. Cheguei apenas ao posto de Capitão, devido a casuísmo e acidente de percurso muito forte que sofri.
Waldemar Baranov, nascido em 17 d Julho de 1935 na cidade de Buri. Ingressou em 1953 comigo na Escola de Especialistas da Aeronáutica. Foi também classificado no CTA, no mesmo departamento. Ele foi mais feliz, chegou a Ten. Coronel e ainda conseguiu realizar o curso de Engenheiro Civil durante a noite. Reside em um sítio, na cidade de Jambeiro de 5.000 habitantes, a 28 km de São José dos Campos.
Julio Baranov, nasceu em 1937 na cidade de Buri. Trabalhou como Gerente da concessionária da Volksvagen, faleceu em 02 Jan de 1980 em ão José dos Campos
Salvador Baranov, nasceu em 16 de novembro de 1945 na cidade de São Paulo. Quando criança teve uma grave acidente de percurso, como consequência não teve um desenvolvimento físico normal. É casado e tem 3 filhos. Reside em ão José dos Campos.
Roberto Baranov, nascido em 1941 na cidade de São Paulo. Atuou na área de comércio. Chegou a ingressar na área de Direito. Faleceu em 1970.
João Baranov Filho, o caçula, nasceu em 15 de março de 1945, em Belo Horizonte – MG. Concluiu o curso do Senai como Torneiro Mecânico, posteriormente concluiu o curso de Engenheiro Civil. Trabalhou muitos anos na Usina Siderúrgica de Barra Mansa. Está aposentado, reside na cidade de Jambeiro.
Finalmente aqui termino meu relatório com as informações sobre a família Baranov, que consegui obter. Lamento que muita informação foi perdida. Apesar de ter viajado para Moscou 3 vezes, não tive a oportunidade de visitar a cidade onde nasceram meus pais e ainda existem parentes.
Nota: provavelmente o restante do conteúdo deverá ser publicado em mais duas partes devido ao volume. Acompanhe o São José dos Campos Antigamente!
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