Em 1978, o extinto jornal Valeparaibano lançou um caderno especialíssimo sobre o an imversário do município, e esta interessante compilação será publicada aqui integralmente. Boa leitura!
O período de 1930, em diante
Como membro do Partido Democrático, em 20 de dezembro de 1931, o dr. Rui Rodrigues Dória assumiu a Prefeitura.
A euforia pela vitória da Revolução de 1930 foi por pouco tempo pois a 23 de maio de 1932 a população foi abalada pela triste notícia da morte do jovem Euclides Miragaia, que juntamente com seus colegas estudantes, Martins, Dráusio e Camargo, morria no comício da Praça da República, em São Paulo, quando protestavam contra os desmandos da ditadura Vargas, pedindo reconstitucionalização do Brasil.
Esses quatro moços foram metralhados pela Polícia, episódio que acabou deflagrando a Revolução Constitucionalista de 1932, quando todo o povo paulista se levantou como um só homem e só não conseguiu a vitória por causa da traição do governador Olegário Maciel, abrindo para São Paulo o imenso front de Minas Gerais.
Em São José dos Campos, com muito maior razão (a morte de Miragaia), o povo se mobilizou: foi fundada a Delegacia Técnica e instalada a Cruz Vermelha, sob a presidência do dr. Nélson D’Ávila e de dna. Elvira Moreira Chaves.
A Campanha do Ouro para a Vitória, tinha à frente o juiz de Direito, dr. Luiz Morato Gentil de Andrade, o dr. João Batista de Souza Soares, o padre José Francisco Monteiro e tantos outros.
Houve campanhas de fundo para ajudar os soldados: sessão do Teatro São José (Prefeitura velha), recolhimento de óbulos no Klaxon Clube, na Cruz Vermelha, chás beneficentes e senhoras costurando para os soldados; houve a campanha do ferro velho para fabricação de capacetes de aço, munições e armas.
Um batalhão de voluntários, composto de várias centenas de jovens joseenses seguiu para o front no dia 30/8/1932.
Mas São Paulo foi derrotado. A Revolução terminou em outubro, abatendo o coração de todos.
Durante todo esse tempo esteve como prefeito o cel. José Domingues de Vasconcelos, que a 17/4/1933 foi substituído pelo dr. Rodolfo dos Santos Mascarenhas.
Estrada de Campos do Jordão
Em 1935 iniciou-se a construção da estrada São José a Campos do Jordão, que beneficiaria sobremaneira o município, que já tinha sua condição de estância climática, com a presença de muitos sanatórios e de grande número de médicos especialistas dessa moléstia.
II Grande Guerra
Em 1939 eclodiu a II Grande Guerra e todo o Vale começou a sofrer as consequências do racionamento da gasolina e de gêneros alimentícios; o Brasil se mantinha neutro, mas quando os Estados Unidos entraram na luta a favor dos aliados (França e Inglaterra), cedeu bases no Norte do País para os navios e aviões que atacavam as tropas nazistas (Alemanha) que lutavam na África.
Os alemães começaram a hostilizar os navios brasileiros em alto mar quando seus submarinos puseram a pique muitos deles, passando depois a afundá-los nas próprias costas marítimas do Brasil, provocando ondas de protesto do povo, principalmente dos estudantes, que em São Paulo e demais capitais fizeram passeatas pedindo vingança.
Pressionado assim, o governo declarou guerra aos países do “eixo” Roma-Berlim-Tóquio, provocando a discriminação contra alemães, italianos e japoneses, ocasionando frequentes agressões a esses cidadãos estrangeiros, principalmente porque entre eles haviam os chamados “quinta-colunas”, pessoas que faziam a espionagem a favor dos nazistas.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) começou a ser formada, a qual contou com mais de 300 joseenses, na maioria reservistas do Tiro de Guerra 45, local.
A FEB embarcou seu primeiro escalão, composto do 6° R.I. de Caçapava e de outras tropas, o qual
embarcou no dia 29/6/1944 e retornou em 18/7/1945. O retorno foi de festa para os pracinhas joseenses, realizado no largo da Matriz, onde vários oradores falaram.
Dos expedicionários joseenses morreram na Itália os seguintes: tenente Névio Baracho dos Santos, Laudelino Nogueira, Sebastião Felício, José Leite da Silva, Geraldo Augusto dos Santos, e Vicente Batista, os quais denominam ruas do Jardim Bela Vista, por lei de autoria do dr. João Batista de Souza Soares, vereador à Câmara Municipal de então.
Finda a guerra, o município retomou o seu ciclo de progresso, vindo se juntar à Fábrica de Louças Santo Eugênio, Tecelagem Parahyba e Cerâmica Weiss, a indústria de grande porte, a antiga Rhodosá de Rayon, hoje Rhodia.
O Ministério da Aeronáutica, obtendo a doação dos Campos dos Alemães no Bairro do Putim, iniciou a construção do Centro Técnico de Aeronáutica (hoje Centro Técnico Aeroespacial), para dar funcionamento ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica ITA.
Quem iniciou as construções foi a COCTA (Comissão Organizadora do CTA), presidida em São José, pelo coronel Eurico Costa Souza.
O ITA foi inaugurado em 1950 e tudo sobre o assunto está narrado em outras páginas deste trabalho.
Concomitantemente se inaugurava em 1950 a Rodovia Presidente Dutra, com uma só pista, encurtando a distância entre São José e São Paulo-Rio.
Todas essas obras fizeram afluir para São José dos Campos grande número de trabalhadores de outras cidades e regiões, inclusive do Norte e Nordeste e do Sul de Minas, iniciando-se o rush da construção civil, pois de meia dúzia de bairros que a cidade possuía, passou, dentro dos anos de 1946 a 1959, para mais de cem, sendo os primeiros a Vila Progresso, o Jardim Paulista, o Jardim Osvaldo Cruz, a Vila São Bento e a Vila Industrial.
Estimulados pelas vantagens da Via Dutra, grandes fábricas vieram para São José, entre elas, a Ericsson, a Eaton, a Alpargatas, a Johnson, a General Motors e a Bendix (atual Bundy).
O comércio cresceu, a rede bancária decuplicou, mas os grandes estabelecimentos comerciais só vieram no final da década de 60 e início da de 70, com a instalação dos supermercados (Dias, Pão de Açúcar, Superbom, Peg-Pag, etc.).
Antes as fábricas tinham armazéns de abastecimento, como a Tecelagem Parahyba, General Motors e Rhodosá, muitos dos quais fecharam, após a inauguração dos supermercados.
Vale afirmar aqui, que o sistema de supermercado do tipo pegue e pague, foi de iniciativa pioneira da Tecelagem Parahyba. Foi essa indústria que montou o primeiro supermercado do Brasil, ideia que depois se alastrou por São Paulo e pelo resto do País.
Com a Revolução de 31 de Março, governo Castelo Branco, o sistema tributário foi mudado, tendo sido criado o ICM (Imposto de Circulação de Mercadorias), do qual 20% cabia aos municípios, de acordo com a arrecadação verificada em cada um deles, o que fez crescer abruptamente o orçamento de São José dos Campos, proporcionando um grande volume de recursos para obras públicas, principalmente pelo fato de tais recursos, como aconteceu no princípio, serem liberados rapidamente, regalia que durou pouco, surgindo as restrições que quase anularam os efeitos salutares dessa medida que cheirava à autonomia municipal, dando às comunas certa euforia financeira.
Em vista dessa euforia de recursos, São José pôde realizar várias obras de infraestrutura e isto se pode verificar quando se viu a cidade ganhar mais redes de esgotos e de água, de iluminação pública e de águas pluviais, melhoramentos que foram acompanhados de pavimentação de muitas ruas, multiplicando-se também a iluminação a vapor de mercúrio.
Em vista da nova sistemática tributária, São José dos Campos assumiu irreversivelmente a dianteira no Vale do Paraíba, quanto ao volume orçamentário.
Mercê dessa abundância de recursos, a cidade pôde comemorar de modo magnífico o seu II Centenário de emancipação política, em 27/7/1967, conforme noticiário que se encontrará em outras páginas deste trabalho.
Em 1969 assumiu a Prefeitura o coronel reformado da Aeronáutica Sérgio Sobral de Oliveira, que montou a administração em bases empresariais, fazendo com que a cidade andasse a passos de gigante, tendo não só promovido o progresso dos serviços públicos, principalmente de infrestrutura (água e esgotos), como atraído grandes indústrias, especialmente Petrobras, cuja refinaria está sendo construída às margens da Dutra, imediações da Cidade Vista Verde, que irá empregar milhares de profissionais qualificados e que, pelo volume de dinheiro que irá movimentar com suas vendas de combustíveis, deixará para o Município, em termos de ICM, uma fábula em recursos financeiros. E como essa refinaria será a terceira do Brasil, São José dos Campos poderá suplantar várias cidades e se tornar o maior orçamento do Estado, depois de São Paulo e Santos.
Foi também nesse governo do município que se inaugurou o progresso na construção civil, com o surgimento de dezenas de aranha-céus. Outro acontecimento verificado nessa gestão, foi a inauguração da Embraer, a grande fábrica de aviões, que lançou e popularizou o avião Bandeirante e que depois passou a fabricar outros tipos, como o Xavante por exemplo.
Essa fábrica deu a São José dos Campos o cognome de “Capital do Avião” tendo, juntamente com o Instituto de Pesquisas Espaciais INPE, projetado a cidade internacionalmente, frisando-se que a instalação do INPE foi obra do cel. Sobral, muito antes de assumir a Prefeitura.
Outro ponto alto da administração Sobral foi a ampliação da rede escolar municipal, assentada em padrões pedagógicos modernos e excelentes, que fizeram dessas escolas exemplos para o ensino do País. Para que tais escolas funcionassem plenamente,” foram construídos prédios funcionais nos bairros, arejados, dotados de piscinas, de praças de esportes, de salas de pesquisas, de oficinas para sondagens das tendências profissionais dos alunos.
No setor viário o progresso foi grande nessa administração: construiu-se dois viadutos sobre a Dutra (Jardim da Granja e Vista Verde) e os viadutos “Raquel Marcondes” e “Everardo Passos”, obras de arte vitais para a interligação de bairros e fluidez do trânsito, bem como de sua segurança.
No setor de água, foi construída a nova captação e se deixou armada a possibilidade do aproveitamento da água da represa do Jaguari.
Quatrocentos quilômetros de canos para galerias de esgotos e de águas pluviais foram adquiridos e parte implantado.
Ainda no setor de ensino, a administração Sobral conseguiu a implantação das escolas profissionais “Santos Dumont”, do SENAC e o CPMOE, o primeiro em Santana e o segundo na Vila Industrial.
A solidariedade comunitária nos bairros foi criada e dinamizada e como colaboração construíram-se praças de esportes e a Casa do Jovem.
No setor do comércio varejista, promoveu a vinda do Peg-Pag. das Lojas Americanas, do Superbom e da Loja Marisa.
Ampliou a rede de iluminação pública e promoveu outros melhoramentos como implantação de meios fios, sarjetas, etc.
Para fazer face às despesas desse progresso, criou taxas sobre esgotos, sobre conservação de serviço de água, sobre iluminação pública e tomou medidas para aumentar a arrecadação do Imposto sobre Serviços de qualquer natureza, medidas impopulares que acabaram criando-lhe antipatias. É um governo municipal que só será admirado daqui a uma década. Terminado o mandato do governador Laudo Natel e com a ascenção do dr. Paulo Egydio Martins ao Governo do Estado, cessou o mandato do sr. Sérgio Sobral, que foi substituído, pelo Eng. Ednardo José de Paula Santos, que fazia parte da URBAM (Urbanizadora Municipal), o qual vem administrando o Município no mesmo ritmo dinâmico, dando continuidade à obras de fôlego como a construção da Avenida Fundo do Vale, a implantação do Pronto Socorro da Vila Industrial, etc.
Rua Direita, hoje rua XV de Novembro
Da carta dirigida pelo comendador Jairo César de Siqueira, pesquisador da história de São José dos Campos, em 6 de junho de 1977, inserida na ata dos trabalhos da Câmara Municipal do dia 14 do mesmo mês e ano, transcreve-se o seguinte:
Que segundo o historiador Affonso A. de Freitas, que foi governador do Estado de São Paulo e historiador ilustre e autor de “Geografia do Estado de São Paulo” – edição de 1906 das Escolas Salesianas, página 91 a Aldeia de São José do Rio Comprido foi fundada pelo venerável Padre Anchieta, em 1564, com o nome de “Fazenda de São José da Ordem de Cristo”.
Que a Rua XV de Novembro, chamou-se Rua Direita; a Rua 7 de Setembro (ora transformada em Calçadão) chamou-se rua do Fogo; a Rua Vilaça não existia no começo do século, surgindo na primeira década com o nome de Rua Nova; que a atual Rua Francisco Rafael recebeu o nome de Rua do Cemitério a partir de 1886; que o antigo cemitério ficava na quadra delimitada pelas atuais ruas Rubião Júnior, Francisco Paes, Floriano Peixoto e Praça Afonso Pena, sendo a capela de São Miguel remanescente dessa época; a Praça Afonso Pena chamou-se Largo da Cadeia; a Rua Floriano Peixoto foi Rua Alegre e tinha um pequeno viaduto na esquina com a Avenida dr. João Guilhermino, sobre um córrego que ali existiu que seguia em direção da Rua dos Bambus (antigo nome da Av. 24 de Outubro, hoje trecho da Avenida Dr. Nélson Silveira D’ávila);
Avenida Dr. João Guilhermino chamou-se Rua da Estação; a Rui Barbosa chamou-se “Descida de Santana” e mais tarde Rua Paraíba; a atual Sebastião Humel chamou-se Rua da Quitanda; a Rua Rubião Júnior foi conhecida por Rua do Cristo (por causa da máquina de beneficiar café de João Cristo) e Rua da Coletoria Federal e da Padaria (por causa da Padaria Estrela) e que a Praça João Mendes já se chamou Largo da Variana e Jardim do Sapo. Informa ainda que da Avenida São José quando se chamou Rua de Trás, saía em direção do Banhado, o Beco do Cotovelo, o Beco do Vento, o Beco da Coruja e o Beco do Sapateiro, além da Ladeira Dona Glória, quando a avenida São José tinha uma só pista, a de mão esquerda atual.
Valeparaibano, quinta feira, 27 de julho de 1978
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