A história de São José pt.5 (1978)

Em 1978, o extinto jornal Valeparaibano lançou um caderno especialíssimo sobre o an imversário do município, e esta interessante compilação será publicada aqui integralmente. Boa leitura!

A primeira estação ferroviária foi na praça Cândido Dias Castejon

A estrada de ferro, em São José, foi inaugurada em 18 de janeiro de 1877, quando chegou o primeiro comboio, vindo de Jacareí e tinha o nome de EF Norte de São Paulo (dá o nome de Estação do Norte, pela qual é conhecida a Estação Roosevelt, da capital). A estação primitiva, ficava no local onde hoje está a Faculdade de Direito, na praça que antes se chamou Almirante Barroso e hoje se chama Candido Dias Castejón. A Avenida João Guilhermino se chamava Rua da Estação e a Rua Antônio Domingues, Rua da Estação de Cargas.

Não há dúvida de que a ferrovia veio por causa do café e como Eugênio de Melo era mais próximo das fazendas cafeeiras, a estação desse distrito era, do ponto de vista de embarque de cargas, mais importante do que a da cidade e de Martins Guimarães, todas em território joseense. Hoje a estação de Eugênio de Melo está desativada, mas presume-se que venha a ser reativada, como terminal de embarque da Refinaria da Petrobras, que está em construção no Município (Bairro Vista Verde).

Sobre o assunto ferrovia em São José dos Campos, há mais os seguintes fatos pesquisados no Arquivo da Câmara Municipal:

Em 1891, no dia 12 de abril, chegaram a São José os engenheiros da EF Central do Brasil, para proceder vistoria na estação local, pois a estrada de ferro São Paulo-Rio havia sido cedida à empresa federal, cuja linha tronco era a Rio-Belo Horizonte.

Em 1897, no dia 2 de novembro, o Intendente Municipal de Paraibuna acusava o recebimento da Circular da Câmara Municipal de São José dos Campos, que pedia apoio para que se construísse uma estrada de ferro de São Sebastião a Minas Gerais, passando por São José.

Oficio da Delegacia de Polícia de São José dos Campos, datado de 14/05/1902, falava sobre o morro que existia no Lavapés, precedendo a estrada de ferro, “havendo iminente perigo de vida dos transeuntes e principalmente daqueles que conduzem ou guiam carros de bois ou qualquer outra espécie de veículos”. Por esse motivo pedia à Câmara providências junto à direção da ferrovia para a colocação de duas porteiras no local.

Em 1o de agosto de 1902, a EFCB, respondendo ao ofício da Câmara joseense, pelo ofício no 24, dizia não ser possível o transporte gratuito do material destinado à canalização de água da cidade, mas prometia conceder descontos nos fretes. Assinava o sr. Augusto da Silva.

BILHETES DE EXCURSÃO

A Câmara pleiteou a venda de bilhetes de excursão em São José, mas Lauro Müller, que era procer do Ministério da Viação, negou-o, dizendo que “o movimento de passageiros de 1a classe, em São José, em 1902, tinha sido menor do que o das estações que emitiam tais bilhetes. O ofício tinha o número 13 e estava datado de 03/06/1903.

Em 29 de abril de 1905, inaugurou-se a bitola larga da EF Central do Brasil, até à estação da Praça Almirante Barroso, que anteriormente chegava até Eugênio de Melo, importante estação de embarque de café.

Em 05/06/1913, assinado por Joaquim Huet de Bacellar, Pelopidas de Toledo Ramos e Paulo Orozimbo de Azevedo, a Câmara Municipal recebeu circular em que era juntada petição que apresentariam ao Congresso Nacional, solicitando concessão para a construção de uma estrada de ferro ligando São Sebastião ao Vale do Sapucaí ou zona do Sul de Minas e ao Vale do Paraíba.

Em 7 de março de 1919 a Câmara Municipal expediu seguinte ofício: “Ilustre Sr. Dr. Diretor de Viação da Secretaria da Agricultura: Venho, de ordem do sr. presidente da Câmara Municipal, atendendo a pedido da Comissão de Justiça, consultá-lo se a Municipalidade pode conceder privilégio dentro do Município, para a construção de estrada de ferro projetada de São Sebastião a São Bento do Sapucaí, sendo essa concessão pelo prazo de sessenta anos conforme pedido do eng. Carlos Martins Houck.

Assinava o secretário Luiz Jacinto de Medeiros, pelo presidente.

Assinado pelo Diretor Geral Eugênio Lefèvre, em data de 05/05/1919, a Câmara recebeu o ofício no 1407, da Secretaria da Agricultura, no qual essa repartição admoestava e solicitava “as pro- vidências de V. S. a fim de que essa Câmara, nas concessões que houver de fazer, dentro de sua alçada, para construção e exploração de quaisquer vias de comunicações, como linha de ferro, navegação e estradas de rodagem, obrigue sempre o respectivo concessionário a transportar gratuitamente as MALAS DO CORREIO”.

VARIANTE DE ESTRADA DE FERRO

Requerimento do vereador Eliziário Guimarães Claro e Antônio Fernandes Cruz, datado de 17 de abril de 1922, endereçado à Estrada de Ferro Central do Brasil, resolvia:
“a) agradecer ao Diretor da ferrovia a construção da nova variante, (eliminando o traçado do Lavapés), e consequente construção da estação nova (na Av. Sebastião Gualberto); b) solicitar os bons oficios para que, por conta do Governo Federal, fossem executados os seguintes serviços: 1 – drenagem de uma lagoa próxima à nova estação; 2 – abertura de uma avenida em ligação com a Rua 7 de Setembro: 3 – desapropriação dos terrenos necessários a essa ligação: 4 – calçamento a paralelepipedos de uma ala da nova avenida e 5 – alargamento da Rua Paraíba (Av. Rui Barbosa), com desapropriação dos prédios” (o que não aconteceu). Somente a ligação com a cidade foi atendida, com a construção da Avenida Dr. Mário Galvão. O requerimento pedia também que a localização da nova estação, fosse feita de acordo com o sr. Prefeito. Pelo ofício no 56. de 17/04/1922. o prefeito cel. João Cursino se dirigiu à Câmara dizendo que já era do conhecimento dos vereadores que o governo federal resolvera construir a variante da Central, com a construção das estações de passageiros e de cargas, cujas obras já tinham sido iniciadas.

A mudança de local da estação iria produzir sensível modificação na vida urbana da cidade, “com o deslocamento forçado do movimento da Avenida Dr. João Guilhermino e Rua Major Antônio Domingues” para o ponto diametralmente oposto. Como isto afetaria reais interesses da cidade e da população. foram reclamadas medidas por parte da Municipalidade. e que competiam à Câmara, vinha propô-las o prefeito, para resguardar a sua responsabilidade. As medidas solicitadas referiam-se ao seguinte: acautelamento da linha adutora de água (que corria pela Av. Rui Barbosa), abertura de novas ruas, acautelamento das antigas fontes de água potável, existente na encosta da cidade, que eram usadas quando o abastecimento sofria interrupção, acautelamento da saúde pública quanto à Exumação Necessária dos Despojos dos Variolosos sepultados há mais de 20 anos nos terrenos de Honorato da Costa Araújo (Vila Guarani) se disso não resultar perigo para a população; estudar a melhor localização das estações de passageiros cargas; estudar a melhor maneira do cruzamento com a Rua Paraíba (Av. Rui Barbosa); desapropriação de imóveis para a construção de novas ruas, custeada pela Estrada de Ferro, construção de passeios e pavimentação dessas ruas. Pedia urgência.

ESTAÇÃO NOVA

No dia 19/09/1925, foi inaugurada a nova estação da Central, à Avenida João Gualberto (nome dado ao eng. que construiu a variante e a Avenida Dr. Mário Galvão), com a presença do Ministro da Viação, sr. Paulo Sá e do representante do Governo do Estado, cap. Tenório Brito.

A linha da Central (hoje Rede Ferroviária Federal S/A-REFESA) cruzava a Avenida Rui Barbosa. O viaduto foi construído depois. Na década de 50 construiu-se a Variante do Parateí, que encurta a distância São José-São Paulo, passando pelo meio do Banhado e eliminando o traçado Jacareí-São Paulo.

Outra demonstração de regozijo

Em 1808 houve festejos em São José, em regozijo pela chegada da família real de Portugal.

Em 17/01/1876, o presidente da província, dr. Sebastião José Pereira, esteve em São José e foi carinhosamente recebido pelo povo e pelas autoridades, quando era presidente da Câmara, o dr. Francisco Rafael da Silva Júnior, pai do dr. Francisco Rafael de Araújo Silva.

Em 11/09/1878 passaram pela cidade suas majestades D. Pedro II e a Imperatriz.

ESCOLAS

As vilas e principalmente as aldeias, como se pode verificar pela história, tinham pouca gente letrada. Geralmente sabiam ler e escrever apenas os vigários e os escrivães. Quando a Vila de São José do Paraíba foi ereta, nem escrivão ou pessoa alguma do povo que soubesse ler e escrever existia, tanto que o ouvidor geral Salvador Pereira da Silva, notando essa carência, pediu que se arranjasse um na vila de Jacareí, para servir à nova vila, em suas necessidades de fixar no papel os atos das autoridades, bem como corresponder-se com as autoridades da Província.

A primeira escola na vila, que se pode documentar, surgiu em janeiro de 1828, tendo como regente a Diogo de Araújo Ferraz, que foi vereador e depois escrivão de paz. Foi indicado para esse mister pelos edis joseenses, ao governo.

Em 16 de julho de 1845, de acordo com a publicação existente, o sr. José Ferreira das Neves foi nomeado interinamente mestre-régio para ensinar grande número de alunos matriculados.

Em 1872, começou a funcionar na atual Av. São José (antes conhecida como Rua de Trás), num prédio pertencente a Francisco Leite Machado, o primeiro colégio, dirigido pelo professor espanhol d. José Ovídio Borches, que era casado com a filha do proprietário do imóvel, da Etelvina Leite, tendo como professor de Latim o velho Francisco dos Anjos Gaia (que era maestro).

O problema do prédio foi contornado com a cessão da residência da família Mascarenhas, no Largo da Matriz, que ficava no local onde hoje está o Hotel San Remo.

O grupo escolar foi instalado em 1896 e é o mesmo que hoje se denomina “Olímpio Catão”, em homenagem ao inspetor escolar que serviu na região e que morava em São José. (Em 1971, quando o referido grupo completou 75 anos, a efeméride foi festejada, ocasião em que estiveram na cidade vários descendentes de Olímpio Catão).

Depois desta data surgiram as Escolas Reunidas, mas as autoridades joseenses lutavam pela implantação do grupo escolar, cuja instalação esbarrava no óbice da falta de prédio apropriado, cuja vantagem era acolher maior número de alunos, além de conceder diploma, documento que traduzia uma grande conquista.

Fizeram parte do corpo docente em 1896, os professores José Antônio de Paula (diretor), Adelaide de Azevedo Trigo, Artur Augusto Jardim, Antônio Bento Justino da Silva, Eusébia Pereira Ramos, Fidêncio Lopes Trigo, Januária Basilides de Andrade, João Galvão de França Rangel, José Francisco Marcondes Domingues e Maria Teresa Marcondes de Jesus.

A alegria durou pouco, isto é, até 1899, quando o governador do Estado transformou o grupo em escolas reunidas, sob os protestos das autoridades e do povo.

Um documento do arquivo da Câmara nos demonstra que o problema da manutenção do grupo se prendia à falta de prédio apropriado. Trata-se do ofício no 62, da Secretaria do Interior, na qual o secretário-geral, dr. Dino Bueno, afirmava ter recebido o ofício da Câmara, datado de 18 de agosto de 1896, informando que o governo do Estado não estava em condições de comprar o prédio onde o grupo funcionava e muito menos de construir um novo no terreno ofertado pelas autoridades joseenses.

Outros ofícios vieram, entre eles o de n° 267, de 05/04/1898, comunicando a remessa de material escolar para o grupo.

Uma das consequências da extinção do grupo escolar, pode-se verificar pela carta datada de 16 de março de 1899, em que a professora Palmyra Santana dizia: “Em vista da transformação pela qual passou esta escola, com a dissolução do Grupo Escolar, e não tendo esta escola o material necessário para o bom desenvolvimento das diversas disciplinas, venho pedir-vos o fornecimento desse material, de acordo com a lista inclusa”. A carta está endereçada ao inspetor municipal Joaquim Silvério dos Reis Neves. Encerrado o grupo, foi feito o levantamento do material existente na sala no 1, que possuía 54 livros de leitura de Tomás Galhardo; 4 tinteiros de vidro “para tinta”; 9 coleções zoológicas; 4 caixas de giz; 42 canetas e cinco resmas de papel para ofício.

A Câmara Municipal em 8 de setembro de 1900, endereçou ofício ao secretário do Interior, no qual seu presidente, vereador Francisco Alves Fagundes dizia que “vinha respeitosamente solicitar-vos a reabertura do Grupo Escolar desta cidade, o qual foi inopinadamente dissolvido por motivos alheios à população deste município e antes por motivos desconhecidos, da exclusiva vontade de um só cidadão, um intruso conseguiu, apesar de viver no sejo desta população, privá-la daquilo que ela mais desejava: a instrução proveitosa e metódica de seus filhos”. Dizia existir número legal de alunos, de acordo com reaseamento feito em 9 escolas existentes e quanto ao prédio, a Câmara oferecia o mesmo em que o grupo funcionara, quando foi dissolvido, o qual tinha sido aprovado pelos inspetores do Estado.

Era assistente do secretário do Interior, o sr. Bento Bueno e o presidente da Câmara, para lisonjeá-lo, pedia que o grupo, restabelecido, tivesse no frontespício a denominação “Grupo Escolar Bento Bueno”. Prova dessa homenagem foi a denominação do Largo da Matriz (que tinha a denominação de Praça 19 de Março, homenagem ao patrono São José) que foi mudada para Praça Bento Bueno, até a morte de João Pessoa, presidente do Estado da Paraíba, e companheiro de chapa do sr. Getúlio Vargas, quando houve nova mudança de nome.

A resposta veio em 2 de fevereiro de 1901, pelo ofício número 6, da Secretaria do Interior, o qual dizia: “Tendo o Governo do Estado resolvido restabelecer o Grupo Escolar dessa cidade, conforme vontade manifestada em ofício de 8 de setembro do ano findo, solicito remessa urgente da cópia do contrato de arrendamento do prédio em que funcionava o dito estabelecimento e a de seu ato pondo à disposição do Governo. Comunico-vos também que nesta data comissiono um inspetor escolar para verificar o estado do prédio e dar seu parecer. Saúde e fraternidade, a) Bento Bueno”.

Um mapa de 1904 dizia que no “Olímpio Catão” estavam matriculados 188 meninos e 144 meninas, num total de 332, dos quais 311 eram brasileiros e 21 estrangeiros, sendo 6 abaixo de 7 anos, 278 de 7 a 11 anos e 48 acima de 11 anos, os quais aprendiam em 5 classes, em dois turnos, provavelmente, uma vez que os meninos não estudavam juntamente com meninas.

Por ofício de 4 de abril de 1906, o cel. José Domingues de Vasconcelos, presidente da Câmara, informava ao governo do Estado a aquisição de terreno no centro da cidade, para a construção do prédio para esse grupo escolar.

A solução para o problema do prédio só veio em 1910, quando o governo adquiriu o palacete do dr. José de Paiva Baracho, na Rua 15 de Novembro, realizando as devidas reformas, cuja inauguração ocorreu no dia 14 de setembro de 1910. Esse prédio foi demolido para se construir o atual, no mesmo local, tendo o terreno acima citado revertido ao patrimônio municipal.

Muitos lamentam a demolição do prédio antigo, pois era um dos únicos monumentos da época do café, exprimindo sua abastança. Era uma residência senhorial, em estilo inconfundível e tão vasto, que abrigou um grupo escolar de modo a contentar, quanto ao aspecto de espaço.

Valeparaibano, quinta feira, 27 de julho de 1978

Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Mídias Sociais: sjcantigamente
WhatsApp: (12) 99222-2255
e-mail: sjcantigamente@gmail.com

Comente se há informações extras, escreva suas recordações ou mesmo o que achou desta publicação. Agradeço por sua participação!