A Praça: Um Lugar, Muitas Histórias – Maluco da BR

“Hoje em dia ninguém vive mais de Paz e Amor.”


Denis Jorge teve seu primeiro emprego aos 16 anos, trabalhava uniformizado e batia cartão de ponto, ganhava um salário mínimo.
Seu pai faleceu, ficou ele a mãe e o irmão. Denis cansou e achava que o mundo grande demais pra ficar num lugar só. Sem dinheiro e com a mochila nas costas foi embora em busca de uma vida descomplicada e sem autoridades, aí, sem medo algum, estendeu o dedo na estrada e hoje vive de um canto para o outro.


Na vida nômade, aprendeu a viver em comunidade, lhe ensinaram a cuspir fogo e a fazer pirofagia com as tochas nos semáforos de trânsito pra descolar uma grana. Sua casa? Ele responde: “A estrada, a BR.”
Vive em busca de ser alguém além dele mesmo. Na vida sem rotina e desregrada ele procura seu papel no mundo, teve que  provar que o queria era a liberdade. O cabelo cresceu e a barba vive por fazer. As roupas são naturalmente rasgadas e o casaco camuflado proclama o “paz e amor”, do estilo hippie dos anos 60.


Este Denis não é hippie, é maluco de BR, o que é diferente, porque o maluco de BR não tem mesada pra viajar. Ele me explica. Ele não viveu a guerra do Vietnã e nem o movimento livre do Woodstock, ele vive o agora, vive o século XXI, tem e-mail e tem orkut, é bem informado e diz que não vai votar em ninguém nas eleições políticas desse ano porque não achou nenhum candidato digno de seu voto.

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Com os amigos das andanças aprendeu tudo que sabe. Seu trabalho é independente, faz artesanato, corre dos fiscais da prefeitura e pela rua arranca os fios dos postes telefônicos pra ter matéria prima. A vida é louca.


“Desbaratino demais, já perdi minha mochila com tudo. Uma vez também perdi minha mulher”
– Perdeu como?
“Perdi, tava doidão e larguei ela em algum lugar”
– E não encontrou?
“Encontrei e depois perdi pra sempre”
– O que é ser maluco pra você?
“Maluco é risco de vida, maluco é atitude, não é trampo, não é tempo, é um cidadão como qualquer outro”
– Existe preconceito?
“Preconceito demais, aqui não somos enxergados como artesãos. É por causa dessa malucada “troncha” que usa crack. Já vi muita coisa rolando, a droga destrói tudo, qualquer coisa”
– Você ganha dinheiro?
“Ganho, mas não tenho controle, to sempre sem dinheiro”
– Já passou fome?
“Como qualquer coisa, não sou hipócrita”
– O que é importante pra você?
“Nada é mais importante do que viajar”
– E o futuro?
“O futuro é mais experiência, mais vivência, mais responsabilidade, quem sabe um lugar fixo”
Dois jovens se aproximam de Denis, e perguntam:
– Você tem maçarico aí?
– Pra fumar tranquilo?
– É esse mesmo, tem não né?
– Não tenho, mas eu faço um agora pra você?
– Quanto custa?
– R$ 7,00, cinco minutinhos, faço um estilo chaveiro pra não dar bandeira
– Beleza! Eu espero!


Denis, tirou rapidamente seu alicate e vários fios de metais da bolsa e começou a construir o maçarico. Enquanto fazia o trabalho me explicou que aquele ali era fácil, dava pra fazer na hora, mas que tem alguns pontos que são mais trabalhosos e quem faz artesanato tem que saber a raridade da pedra ou da semente, trocar ideia com outros malucos e se qualificar. Essa foi a sua primeira venda do dia.
Você vai pra onde depois?
– Não sei, talvez Mato Grosso do Sul e depois Bolívia, quer ir?


20 de junho de 2010

Texto e fotografia: Nádia Alcalde
Revisão ortográfica: Miriam Puzzo
Diagramação: Rodrigo Schuster
Unitau – 2010


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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente

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