A Praça: Um Lugar, Muitas Histórias – O Vendedor de Colher

“O futuro é uma necessidade maior que a gente não espera”

José Custódio Cardoso Cantanhede, nasceu na cidade de Mirizão no Maranhão que só é grande no nome, pois a cidade de tão pequena fez a família Cantanhede, preocupada com o futuro dos filhos, mudar logo para a cidade vizinha de Pinheiro, a “princesa da baixada”, da região norte do Maranhão. Cidade célebre a mesma onde nasceu José Sarney. Cidade com rios de água transparente, de peixes em fartura, dos porcos, das galinhas, cidade onde ainda tinha terra pra plantar.

Filho sétimo de uma família de meia dúzia, como todos os outros onze, José trabalhava e estudava. Entusiasmado com o conterrâneo, logo se fez a encantar com política e a sonhar um dia em ser vereador na cidade. Sonho esse de que desistiu porque achou que mexer com política não era coisa boa, podendo até ser um pouco perigosa e no fim então foi melhor não se misturar com a tal corrupção que tanto via nos jornais.



Tempo bom esse que vivia em Pinheiro

Estudou até a 4ª série, aprendeu a ler, arrumou emprego de representante de remédio de uma firma grande, tinha uma namorada e fazia prece na igreja todo sábado. Vida que foi tomada por um novo sonho. O sonho que só virou seu, de tanto que ouviu falar. O da terra de oportunidades. Largou tudo. Deixou a família, deixou a roça, o arroz e o milho. José mais o amigo pegaram um ônibus e foram embora pra São Paulo, para a “tal” terra prometida, cidade dos sonhos e das riquezas.

A aventura durou pouco, o dinheiro economizado acabou rápido, não tinha mais emprego e tudo era caro. Arrumou “bico” de carpinteiro, ganhava um salário que perdia pra alguns impostos e o que sobrava ainda mandava pra família.

Já cansado mas com boa matemática na cabeça, comprou a barraca de um baiano que queria ir para Portugal ganhar a vida. Ao seu um bom negócio porque não precisava ter patrão. Na “cachola” de José, trabalhar de carteira assinada não adianta. “Não tem renda e dali você não passa. Não se pode crescer, luta o resto da vida e não passa disso.”

100% artesanal

A barraca nova de José é dessas que dá pra carregar nas costas, igual a que vemos montadas por aí cheias de bugigangas pra vender.

Saudoso expôs seu mundo para o mundo e coloriu a cidade com o ar de homem puro do campo. José com toda sua classe, vende colher, das que não se encontra em supermercado.
De madeira, feita da árvore de Maçaranduba, árvore alta que dá “de monte” na Bahia. A colher surge do toquinho que é lapidado manualmente lasca por lasca, até ter seu formato entregue para a lixadeira. Não é José que faz não, ele encomenda.

Faz as contas como um homem de negócios, se arrisca e viaja pelas feiras do estado a fora pra melhorar nos lucros.
Queria comprar terreno em São Paulo, mas o amigo falou que o outro baiano tinha comprado um e não estava conseguindo vender e então decidiu também não comprar com medo de passar pela mesma situação.

Mesmo esgotado da cidade grande, não falta um dia ao trabalho porque não se permite o descanso. “Pra quem é acostumado a trabalhar desde pequeno como eu, não consigo me sentir bem sem trabalhar”. Assume José.

Ele promete pra si mesmo que só vai ficar por aqui por mais um ano, e depois voltar pra vida no Maranhão. Uma vez a saudade da família era tanta que pegou toda a sua economia da poupança e pagou R$400,00 em uma passagem de ônibus de 50 horas pra viajar para Pinheiro. O que era muito dinheiro e só passou a ir todo ano depois que descobriu o ônibus dos sacoleiros que saí todo dia de São Paulo pra lá. Faz em 48 horas e 20 minutos e é pela metade do preço.

Agora que é mais vantagem ta dando pra matar a saudade quando o coração aperta. Certa vez em uma feirinha que vendia suas colheres em São José dos Campos, ele conheceu a mulher. Já faz sete anos e dois filhos, um menino de cinco e uma menina de um ano e três meses. Pra vender aqui teve que dispensar a barraca porque não conseguiu a licença da Prefeitura, então coloca tudo em uma bicicleta e saí pedalando por aí.

De segunda a sexta-feira fica na praça, sem um lugar fixo , lê um livro enquanto espera seus clientes e estaciona sua bicicleta onde bem entende. Voltou a frequentar a igreja aos sábados e dia 17 de julho agora vai completar 45 anos de idade. E antes mesmo que eu  pergunte, com suas palavras rápidas e cantadas que vão além do seu pensamento ele me responde. “Não vou comemorar não, é um gasto desnecessário, agradeço a Deus e tá tudo bom. Besteira, bobeira fazer festa pra ter 15 minutos? Comer bolo e acabou só pra fazer bonito para se mostrar para os outros?

Se eu ganhasse 18, 20 mil reais aí sim eu comprava um refrigerantezinho para o pessoal se divertir”.

E José, depois de começar a construir no meio lote que comprou pra mulher e os filhos, volta a sonhar. Quer viver na roça de novo. A mulher não aprova, mas ele sonha mesmo assim e diz que para ser feliz só lhe falta uma coisa, voltar para a terra, a terra de que ele nunca deveria ter saído.

29 de junho de 2010


Texto e fotografia: Nádia Alcalde
Revisão ortográfica: Miriam Puzzo
Diagramação: Rodrigo Schuster
Unitau – 2010

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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente

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