A projetada mudança do Cemitério
O Prefeito Dr. José Marcondes Pereira incluiu no seu programa de governo a mudança, do Cemitério da Cidade, para, os lados da Vila Santa Teresinha, ou seja adiante, da Rodovia Presidente Dutra, nas proximidades do C.T.A., segundo divulgação feita pelo próprio chefe do executivo. municipal através da imprensa falado e escrita.
Admitimos, e esta uma realidade, estar o Cemitério local inteiramente lotado, sendo mesmo difícil a aquisição de terreno para sepultura, principalmente, nas quadras próximas à entrada, tornando-se, ao mesmo tempo, um problema cruciante para os que preferem por motivos óbvios, que seus entes queridos ali repousem.
Dentre as razões, é natural que se de preferência, na maioria dos casos, àquela necrópole, de vez que ali já se encontrar aqueles que lhes foram caros em vida e cujas memórias, reverenciam num preito de saúde. Pais, filhos, esposos, irmãos ou outros saudosos entes que repousam no campo santo, ronde todos se igualam.
Porque não deixar em paz os mortos onde se encontram?
Porque não poupar aos vivos o sofrimento de contemplar constrangedor espetáculo da remoção dos restos mortais de queridos parentes ou amigos? Quebrando uma sagrada tradição que deve ser digna do maior respeito!
Somos Contrários a infeliz inovação por princípios sentimentais e, também, por amor, às nossas tradições, tanto mais quando elas, como no caso presente falam aos nossos corações como filhos desta, querida terra.
Ali temos, como muitos outros, guardados como relíquias os corpos inanimados, os ossos ou as cinzas, daqueles que foram em vida, elos sagrados de uma família, elos sagrados que não se rompem após a morte, pois vivem em nós através da saudade, da gratidão e do respeito.
Deixemo-los em paz, pelo amor de Deus!
Argumentos os mais absurdos, pela falta de lógica e de bom senso, estão sendo apresentados como razões, positivas prática dessa inovação, que reputamos um sacrilégio e, mesmo, choca-se com o espírito de religião, pelo respeito que devotamos aquele Campo Santo.
Terrenos existem em nossa cidade para a criação de outro cemitério.
Tudo é tão somente, uma questão de boa vontade e de respeito aos mortos e aos vivos, pois, estes desejam continuar cuidando das campas onde dormem o sono eterno de seus entes queridos.
Anunciam se, por exemplo, que naquele local seriam erigidos edifícios para escolas, repartições públicas, etc.
Alegam-se, ainda, que as necrópoles devem ficar afastadas do centro urbano, Admitimos esta solução como certa, mas, somos contrários a uma providência violenta, que somente trará magoas, e sofrimentos. Proíba-se novos sepultamentos no Cemitério atual, como já providenciou a Prefeitura local, exceto os que tem sepulturas perpétuas. Construa-se o novo Cemitério e deixe ao tempo o encargo de resolver o problema como já aconteceu com a antiga necrópole da Praça Afonso Pena antigo Largo da Cadeia, onde hoje se localizam, o Cine Paratodos (Cine Palácio?), Hotel Castilho e outros edifícios. Ali, com o passar de gerações, ficaram abandonadas as sepulturas, ruíram os túmulos e já não havia nenhum parente ou amigo para conservá-los. A essa altura, foram removidos os restos mortais, que alio ainda permaneciam, para o ossário do atual Cemitério.
Naqueles remotos tempos, também surgiu o problema da falta capacidade do Cemitério. Aconteceu o que hoje se repete, a cidade progrediu, a população aumentou e a necrópole se tornou pequena.
Entretanto, houve uma solução humana e lógica para problema, sem que fosse necessário recorrer a afronta aos nossos sentimentos violando sepulturas.
O Dia de Finados é uma prova exuberante e um documentário eloquente de como Cemitério local se mantém, bem tratado pelos que ali possuem os restos mortais de entes queridos.
Façamos aqui o que foi feito com o Cemitério da Consolação, em São Paulo, que fica localizado, praticamente, no centro da cidade. Ali, somente são sepultados os mortos em jazigo perpétuo, por não comportar mais a construção de novos túmulos.
Para corrigir esse problema na Capital, os Prefeitos de então, de diferentes épocas, fizeram construir dezenas de Cemitérios ao redor da cidade, em lugares distantes e já populosos, o Cemitério da Consolação guarda os despojos daqueles que ajudaram construir a grandeza de São Paulo, do mesmo modo que o Cemitério local guarda os restos inanimados daqueles que construíram a nossa querida São José dos Campos.
Oportunamente, voltaremos ao assunto para apreciá-lo sob outros aspectos.
Correio Joseense, 07 de abril de 1963, Num. 1907
A projetada mudança do Cemitério II
Estamos satisfeitos. Os comentários feitos por nesta folha contrariando e discordando da projetada mudança do cemitério municipal para as bandas da Vila Santa Teresinha, depois da Via Dutra, tiveram grande ressonância em todos os meios, desde o mais modesto ao, mais elevado, ou seja, desde o mais pobre ao mais rico; que se irmanaram nos sentimentos, condenando a projetada mudança dos restos mortais dos seus entes queridos, na pratica do mais condenável ato de profanação aos mortos e de vilipendio aos vivos que têm na necrópole local sepultados os seus familiares ou amigos.
A verdade é esta: tal projeto encheu de indignação, dizer, quase a totalidade da comunidade joseense.
E o sr. Prefeito está certo, ou pelo menos deveria estar, desse repudio que tem tido conhecimento através de protestos que lhes tem sido feitos pessoalmente, mas que deles não tem tomado conhecimento, ao contrário, tem se mostrado irredutível.
Dissemos em os nossos comentários que oportunamente faríamos outras considerações sobre o importante problema em pauta.
E aqui estamos, de novo, não só para ratificarmos o nosso pronunciamento, mas para oferecermos outros elementos que reputamos de grande valia, por se enquadrarem no caso presente os exemplos que iremos citar dos governos “novayorkinos” e de São José dos Campos, sobre os aspectos sentimentais e de respeito às tradições.
Argumenta o autor do projeto, neste caso o Prefeito Dr. José Marcondes Pereira, que constitui uma necessidade, afastar o cemitério para longe -cidade, atendendo não só ao crescimento desta, mas a precariedade de espaço, ainda a conveniência de se construir naquele local várias instituições educacionais. Muito bem: Contestando tais argumentos, no que infere a mudança da necrópole em razão de se achar a mesma muito próxima da cidade, vamos opor as suas objeções um acontecimento histórico verificado em uma das maiores cidades do mundo: Certa vez o embaixador e jornalista Assis Chateaubriand, que pode ter todos os defeitos que quiserem lhe atribuir, mas que é um historiador e um pensador, em um dos seus memoráveis artigos referiu-se ao seguinte fato, que admitimos servir de exemplo aos que teimam em desrespeitar e quebrar as nossas tradições respeito e veneração aos mortos. Há muitos seculos, o tempo não importa, importam os fatos; quando os jesuítas vieram para o Brasil, temendo a perseguição destes, um pugilo de judeus que residia em um Estado Nordestino, fugiu do Brasil instalando-se em outro pais, em uma pequena cidade de cultura e renome. Nessa mesmíssima cidade, em sua rua principal construíram o cemitério dos Judeus, nu- ma pequena gleba que lhes foi cedida pelo então governo da pequenina comunidade. Aconteceu que essa pequenina cidade prosperou, cresceu e tornou-se uma das maiores dos Estados Unidos da América do Norte, quiça do mundo. Mas, com todo o seu progresso, com todas as suas riquezas para ali transplantadas, os americanos conservaram o cemitério dos Judeus, no mesmo local, out seja no coração da grande metrópole de Nova York, em sua não menos grande e não menos empolgante QUINTA AVENIDA, onde ainda se encontra dentro da mesma área cercada dos enormes arranha céus dos Estados Unidos!
E de ver-se que naquele país existe uma circunstância notável, aliás, de não prevalecer ali princípios judaicos dentro do aspecto religioso. Sabe-se que naquela grande nação prevalecem as religiões católicas e protestantes, mas nem por isso os Judeus tiveram os restos mortais, dos seus antepassados mudados para local distante da cidade. Assim, aquele povo civilizado respeitou e ainda respeita até hoje os princípios e convicções dos judeus, dentro dos dois aspectos que reputamos de vital importância: sentimento e tradição!
E então a grande cidade Nova York conhecida em todo o mundo como uma das mais adiantadas e próspera em todos Os seus setores, mantém na sua principal via publica o tradicional cemitério dos judeus, exemplo profundo, dado pelos americanos contra o espírito materialista. Lá, como aqui, prevalece, em verdade, o cristianismo.
Quanto tempo precisará para a integral mudança do cemitério? cinco, dez ou vinte anos? Quanto custará a construção do novo cemitério, que deverá ter em tamanho, nada menos de duas vezes a capacidade do atual, ou seja, 160 mil metros quadrados térreos e cerca de 2.200 metros quadrados de muro, com alicerces reforçados, colunas em distância mínima de oito metros, muro de um ou de um e meio tijolo, na altura de dois metros no mínimo de altura, com uma cinta de cimento armado em todo o seu contorno, necrotério e capela para o seu funcionamento normal? Onde irá o executivo conseguir tanto dinheiro? Com os impostos e taxas arrecadados, constante de verbas já comprometidas para os serviços de água, esgotos, calçamentos, iluminação e tantas obras mais necessárias, inclusive, o funcionalismo? Nos aventuramos prever que, incluindo-se as tremendas despesas com os deslocamentos dos atuais túmulos, transporte e reconstrução dos mesmos será empregada nessa mudança chocante sob todos os aspectos, não milhões de cruzeiros mas BILHÕES!
Onde pensa o poder executivo conseguir dinheiro, para uma obra e um trabalho que todo inexequível? Aumentando impostos sacrificando outros serviços públicos de absoluta necessidade e inadiáveis, impondo aos pagantes maiores sacrifícios? Não, não acreditamos sejam adotadas tais medidas com as quais aumentaríamos sofrimentos do povo.
Os srs. Juscelino, Jânio e Jango Goular, poderiam fazer esse milagre, com a fabricação de dinheiro de que lançaram mãos para as suas aventuras, levando-nos a atual situação. Mas, felizmente, acontece que o poder executivo municipal não dispõe dessa máquina, maquiavélica…
Correio Joseense, 11 de abril de 1963, Num. 1908
A projetada mudança do Cemitério III (a fala do sr. prefeito)
E com satisfação que registramos, neste comentário, a fala do sr. Dr. José Marcondes Pereira. prefeito municipal, quando da sua entrevista a uma emissora local.
De inicio, declarou não ter até aquele momento afirmado estar certa a mudança do cemitério. O problema está sendo estudado em todos os seus aspectos, e oportunamente dará conhecimento à população das medidas que adotará sobre o momentoso assunto. Declarou ainda, não pretender contrariara opinião pública, que está sendo consultada, mesmo porque, eleito democraticamente. pelo povo, com este, quer governar, quer ser o executor de sua soberana vontade.
Muito bem: gostamos dessa sua afirmação, porquanto a opinião pública por todas as suas classes sociais, desde a mais humilde à mais elevada, já se pronunciou de maneira desfavorável a mudança do cemitério da cidade.
E, pode estar certo o sr, Prefeito; que a população recebeu com alegria o seu pronunciamento, destancando nesse momento as lágrimas que então vinham sendo vertidas pelas mães, esposas, filhos e parentes dos entes queridos, que ali repousam. Tão convencidos estão todos de que cerca de noventa por cento da população desaprova a mudança do cemitério que, ante o seu feliz pronunciamento, guardam o cancelamento da iniciativa que teve como resultado quase que os efeitos de um terremoto.
Gesto que o elevará no conceito público, sem dúvida, mesmo porque errar é humano. Todos nós erramos. Mas, o belo, o edificante, está justamente na razão de se reconhecer o erro em obediência ao pronunciamento, da população que vetou por todas as classes a provável mudança do, atual, cemitério.
Orações e novenas estão sendo feitas para demovê-lo. E, essas orações e novenas reverterão em seu favor na hora em que o senhor anunciar outra solução para a construção de outro cemitério sem o sacrifício do atual. Isto feito, terá o sr. Prefeito se curvado ao imperativo democrático da vontade do povo, em sua maioria absoluta, quase total.
Correio Joseense, 21 de abril de 1963, Num. 1909
A projetada mudança do cemitério IV (a população desapontada)
Casou profundo sentimento de mágoa, em toda a população, a deliberação do dr. Prefeito, no sentido de fazer uma consulta ao povo, sobre a aprovação ou não da mudança do cemitério para a Vila Santa Terezinha, através de plebiscito. A medida a ser adotada poderá parecer, a primeira vista, que se trata de uma solução de alto sentido democrático.
Contudo, segundo notícias do conhecimento público, o critério que irá orientar o malfadado plebiscito não atende à realidade da conjuntura, comprometendo, antecipadamente, a autenticidade do veredictum popular.
Segundo publicação feita, naturalmente autorizada pelo sr, Prefeito, serão portadores das cédulas de votação os funcionários municipais ou pessoas contratadas para esse fim, por tanto, dependentes de uma das partes interessadas, no caso o Chefe do Executivo Municipal.
Há ainda, um agravante, mais sério, quando se sabe que as referidas cédulas de votação, para terem validade, receberão a assinatura do votante, o que resultará em temor de pressões ou represálias por parte do poder público, uma vez que o voto é descoberto.
Ora, diante dessa possibilidade é fácil de imaginar que o eleitor votará com o sr. Prefeito!
Recentemente foi feito em todo o país uma consulta sobre a conservação ou não do regime parlamentarista, procedendo-se com toda a honestidade e lisura nos trabalhos desenvolvidos em torno do grande problema, quando estavam em jogo os destinos políticos do Brasil.
Foi solicitado o pronunciamento dos que tinham condições para optar, isto é, os, eleitores regularmente inscritos, que se manifestaram livremente e sem as condições humilhantes da quebra do sigilo do voto, tendo como resultado, como era esperado, a volta do país ao regime presidencialista, com o dr. João Goulart a mandar e desmandar.
O processo foi licito, procedendo-se e reconhecendo-se honestamente o seu resultado apurado em torno da consulta aos eleitores, tão somente aos eleitores, é bom repetir.
Em face deste argumento, a nosso ver a consulta sobre a mudança do cemitério deveria restringir-se, por uma questão de lógica e de direito, tão somente as pessoas que possuem condicões para optar, fato é, aquelas que tem sepultados no Cemitério local, parentes ate 2o grau, ou melhor, avós, pais, esposos, irmão, filhos, netos e cunhados, durante o cunhadio.
A citação de parentes até 2.0 grau tem, apenas, por objetivo fixar um critério restabelecer um limite de votantes, que seriam os mais autênticos autorizados.
Esta solução poderá não ser a mais perfeita, contudo bastante justa e atende o lado humano da questão.
Quer nos parecer que o sr. Prefeito já conhece sobejamente o repúdio da população pela mudança do cemitério.
Mas, ele quer prevalecer-se de sua autoridade, recorrendo a uma consulta que leva no seu bojo dois graves erros: voto, a descoberto e a participação de pessoas completamente alhelas ao problema, uma vez que não possuem seus entes queridos sepultados no cemitério local.
Estas pessoas não estão interessadas no assunto e, salvo honrosas exceções, iriam ao lado de elementos residentes em outras cidades, decidir de um problema de ordem sentimental sem precedente em todo o mundo e em todos os tempos: violação de sepulturas, por parte da poder público, na concretização de um sacrilégio oficializado.
Se tal medida desumana prevalecer, não aconselhamos o alheiamento à a consulta popular, pois, em caso de resultado desfavorável a população, o voto de cada um valerá como um solene protesto contra o crime cometido, que avilta o sentimento da pessoa humana.
Correio Joseense, 28 de abril de 1963, Num. 1910
A projetada mudança do cemitério V
Depois da população permanecer por mais de um mês amargurada ante a deliberação do Sr. Prefeito mudar o cemitério da cidade para a Vila Santa Teresinha, transferindo, consequentemente os restos dos que ali repousam, eis que o senhor sentindo os efeitos da reação que se verificou em todos os setores, resolveu, após tantas celeumas e sofrimentos impostos em razão da sua irredutibilidade, face a impossibilidade econômica da Prefeitura e para uma ação de vulto financeiro que superaria a casa de um bilhão de cruzeiros, cedera ao imperativo do bom senso, declarando em reunião realizada no Cine Real, dia 1 de Maio, que não mais mudaria: o cemitério.
Ante o decreto firmado por ele proibindo o sepultamento no cemitério municipal, sem que a família do falecido firmasse, um documento autorizando a transferência do corpo do seu ente querido para o outro cemitério, ninguém de boa fé poderia admitir que o Sr. Prefeito estivesse tão somente fazendo estudos sobre o importante palpitante assunto.
Esse documento firmava o seu propósito da mudança do cemitério sem mais delongas, e estudos, daí resultando o incremento do combate à infeliz iniciativa. Entretanto, por esta ou aquela razão, ele resolveu em momento inspirado por um poder superior transigir com os sentimentos humanos do povo e cancelou a sua anunciada deliberação da mudança do cemitério. Toda a cidade recebeu com a mais viva simpatia a sua decisão, com a qual todos os espíritos voltaram-se para agradecer à Deus, a sua decisão, encerrando, o assunto, mesmo porque o combate, feito, não visava a sua pessoa, mas a anunciada deliberação da transferência do cemitério.
E assim, nós que participamos dessa campanha dentro do nosso ponto de vista pela permanência do atual cemitério, damos hoje por encerrado o assunto, congratulando-nos com o sr. Prefeito Dr. José Marcondes Pereira, pelo acerto de sua decisão com a qual tranquilizou a população e reconduziu aos lares a sua situação normal.
Correio Joseense, 05 de maio de 1963, Num. 1911
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