Almanaque de São José dos Campos 1922 pt.1

A série a seguir traz as páginas do Almanaque de 1922 de São José dos Campos redigida e gramaticalmente atualizada, um deleite a estudiosos e interessados em nossa história.

Almanaque de São José dos Campos 1922

Desejando concorrer com o meu fraco e despretensioso concurso em favor da terra que me serviu de berço idealizei reunir tudo quanto ela tem de melhor e neste pequeno Almanaque incluir como uma lembrança e homenagem a todos quanto se fizeram dignos, concorrendo com o seu valor pessoal para o engrandecimento desta cidade de São José dos Campos.

Adiando a sua publicação, quis, concorrendo com este modesto trabalho comemorar o centenário da nossa emancipação politica. E assim venho, como brasileiro, prestar aos meus conterrâneos, um serviço que julgo de grande qual seja, o de mostrar aos que ainda desconhecem as nossas riquezas naturais e cativas, o quanto temos progredido, e o quanto ainda poderemos progredir, dadas as condições essenciais do nosso município. Terras férteis, malas abundantes, vastas pastagens, boas águas, clima salubérrimo, lugar alto e arenoso, vastos campos, boas estradas de rodagem, lavoura cafeeira bem desenvolvida, ótimas terras para plantações de arroz e outras tantas riquezas que a natureza nos concedeu de par com a obra das nossas administrações que tudo tem feito para o nosso crescente desenvolvimento.

Outras impressões o leitor as terá de viso ao folhear o Almanach de São José dos Campos, que apresento à crítica do público a quem o entrego.

Napoleão Monteiro
São José dos Campos, Janeiro de 1922

Coronel João Alves da Silva Cursino

Entre os filhos desta terra, que mais prestantes e solícitos têm se revelado prestando assinalados serviços á nossa cidade, indubitavelmente aparece como uma figura de brilhante destaque e relevo saliente, a pessoa do estimado cavalheiro sr. coronel João Alves da Silva Cursino, honrado prefeito municipal e prestigioso chefe do partido republicano local, postos á que ascendeu pelos seus méritos pessoais e pelo seu incansável labor em prol do progresso e do desenvolvimento de São José dos Campos, e como uma justa consagração publica de reconhecimento aos seus inestimáveis serviços ao nosso torrão.

O coronel João Cursino, desde muito moço se impôs á consideração dos seus pares pela correção do seu procedimento moral e exato cumprimento dos seus deveres sociais, granjeando pouco a pouco a estima geral deste povo, sendo espontaneamente indicado para ocupar na vida publica posições de relevo, como capaz de lhes dar o mais perfeito, honesto e cabal desempenho.

E assim, naturalmente foi exercendo uma benéfica atuação na vida local, cercado por uma corrente de gerais simpatias dos seus conterrâneos.

Dedicando-se á vida comercial, de há muito que é considerado o expoente dessa nobre classe, pelo conceito que merecidamente sempre gozou, de comerciante sério e honesto.

O coronel Cursino tem o seu nome ligado aos mais notáveis empreendimentos levados a termo nesta cidade, pondo sempre o máximo empenho na viabilidade das mais úteis realizações.

Provedor da Casa de Caridade, tem sido o mais forte sustentáculo dessa pia instituição. Não fora o amparo do coronel Cursino, e de há muito teríamos registrado com pesar a queda do benemérito instituto de beneficência pública.

Se receber o auxílio do povo na proporção dos eminentes serviços que presta a colectividade, a Casa de Caridade já teria cerrado as suas portas, si não tivesse tido esse braço forte a ampará-la, numa obra ininterrupta, continua, perseverante. E assim, com essa assistência desvelada e eficaz, e com o carinhoso amparo do chefe da clínica o benemérito Dr. Nelson D’Ávila, se vai mantendo em nosso meio a filantrópica instituição, em favor da qual, ainda não se registrou um ato de altruísmo dos nossos argentários.

Sabido quão valiosa função exercito no organismo social um estabelecimento desta natureza, prestando os mais nobres, comoventes e abnegados serviços aos pobres, por ai se poderá avaliar da grandeza da obra a que o coronel Cursino empresta o melhor do seu tempo, da sua atividade, do seu carinho e do seu entranhado desvelo, demonstrando o verdadeiro espirito de caridade cristã que o anima nessa cruzada santa, de cuidar da manutenção da Casa de Caridade.

Para o coronel Cursino como que não existe o impossível: espírito empreendedor, tenaz, não há obstáculos que o detenham no curso da realização concreta de uma iniciativa de progresso, quando concebe um melhoramento publico.

Contorna as dificuldades mais ingentes, remove os embaraços mais difíceis, vence emfim com denodo, transpondo os empecilhos que se lhe anteponham,

Haja vista a construção do belo edifício do 2.0 grupo escolar, realizado a custa da municipalidade.

No seu afã muito justo de contribuir para o adiantamento moral e material do bairro de Sant’Anna, resolveu essa construção e a levou a termo com gerais aplausos da população.

Um fato desta natureza, por si só, seria o bastante para elevar o nome do coronel Cursino como prefeito deste município.

Porém, a sua operosidade de administrador de vistas largas não se satisfaz somente com este atestado frisante da sua clarividência administrativa.

Ainda agora enceta uma grande obra, a ampliação do edifício do mercado municipal, que será dotado de um aparelhamento moderno consentâneo com o fim especial a que é destinado esse próprio.

Ainda neste caso, o coronel Cursino se nos revela o vigoroso administrador de envergadura máscula para os grandes tentamens.

A sua ação na prefeitura tem sido das mais benéficas e proveitosas ao município, multiforme e eficiente, exigindo capacidade e muito tino administrativo, o que o coronel Cursino tem demonstrado a par do notável critério e circunspecção com que gere os negócios do município.

Na suprema direção politica desta terra, contando, pela sua reconhecida influencia e pelo seu inegável prestigio com a quase totalidade do eleitorado, obediente ás normas de uma perfeita disciplina partidária, nem por isso o coronel Cursino deixou de ser um espirito liberal e tolerante, respeitador daqueles que porventura dissintam do seu credo político. Ainda neste particular o coronel Cursino demonstra a nítida compreensão que possui do verdadeiro regime republicano.

Calmo, ponderado, conciliador, o coronel Cursino tem dirimido questões de suma importância com a sua medianeira e oportuna intervenção, evitando muitas vezes, choques de consequências desagradáveis, contribuindo assim com a sua influência como elemento de ordem para a paz e o sossego da família joseense.

Tanto na vida publica como na particular, o coronel Cursino sempre se distinguiu por uma linha de conduta da maior correção, de perfeito cavalheiro, sendo conceituadíssimo o seu nome no seio da nossa mais elevada sociedade considerado como é, um dos ornamentos mais brilhantes que ela conta.

Com estas toscas linhas, prestamos uma singela homenagem de consideração e estima que devotamos ao nosso distinto conterrâneo.

O município de São José dos Campos – Seu presente e seu futuro

O município de São José dos Campos, situado entre 22:12 de latitude e 45’50’ de longitude compreende uma zona eminentemente temperada gozando por isso e por outros fatores inerentes a posição dos ventos dominantes e á natureza e topografia de seu solo de um clima justamente afamado pela sua comprovada salubridade.

Está pelo seu sistema orográfico dividido em três zonas bem caracterizadas: A primeira de esplêndida topografia, compreende as terras do vale do Paraíba, estendendo-se a Sueste (SE) em mansas ondulações até os contrafortes da Serra do Mar. Conhecidos por “Serrote” cobertas de campos naturais, serrados e capoeiras cujos madeiros e capões atestam sua antiga fertilidade. A segunda, mais montanhosa a SE e Leste, é a que se pode denominar propriamente Zona do Serrote; abrange diversos vales de ribeirões e regatos, apresentando-se em forma de varias bacias cujas montanhas possuem regular inclinação. A terceira, á margem esquerda do Paraíba, mais ou menos ondulada a principio, estende-se pelos quadrantes NO e NE em relevos cada vez mais abruptos até ás vertentes da Serra da Mantiqueira, em cuja crista confina-se com o Estado de Minas, terminando ai, em terrenos fortemente acidentados.

Esta parte é toda pertencente ás bacias dos rios Peixe e Jaguari, aquele tributário deste, os quais constituem os dois rios de maior percurso no município além do Paraíba que o atravessa duas vezes, e o do Buquira de nascente no município de Caçapava.

O vale do Paraíba propriamente dito é constituído quase todo de terrenos de aluvião riquíssimo em matéria orgânica e em alguns lugares turfoso, o que, não obstante aos defeitos inerentes, a turfa é muito favorável a diversas culturas.

Este vale pelos seus seixos rolados a grande distancia do Paraíba sugere a quem o estuda atentamente, uma observação aparentemente vulgar, mas não menos curiosa á luz da geologia.

Hipótese muito plausível sobre a formação da vargem do Paraíba.”

Camillo Flamarion em um do seus últimos trabalhos “Como acabará o mundo?”, faz notar que as águas tendem a diminuir consideravelmente em nosso globo assim como acontece aos planetas nossos vizinhos, Marte e Lua cujos vestígios irrecusáveis, de seus antigos mares, atestam que o precioso liquido esvaiu-se de sua face deixando após aquele globo frio e deserto à peregrinar pelo espaço. Em Marte a evaporação é muito menos que na Terra e ali as nuvens são raras o que prova que aquele planeta tem como a Terra o mesmo destino que a Lua. Em nosso globo, fenômeno idêntico não escapa aos olhos de quem observa as ações erosivas dos agentes terrestres. Onde está situado Paris em outros tempos, no período quaternário – diz C. Flamarion – estava quase por completo ocupado pelas águas, pois que a colina de Passey, a Mon Maitre, e a meseta de Montrouge ao Pantheon e a Vi Lefuit eram os únicos pontos salientes sobre o imenso lençol líquido. As alturas desses pontos não aumentaram, mas o leito do Sena tem descido gradualmente e a água tem diminuído.

O mesmo fenômeno observado em São José dos Campos.”

A bela colina em cujo dorso fica a cidade de São José dos Campos, ante a evidencia daqueles vestígios em ambas as suas margens, e ante a eloquência dos fenômenos silenciosos mas ininterruptos da natureza, diz-nos que ela já foi em outros tempos, barranca de um grande rio, de mais de 2 kilometros de largura, mais volumoso que o Sena e que hoje se afastou, nivelando o terreno e diminuindo-se n’uma progressão considerável. Quantos séculos, quantos milhares de anos não teriam sido necessários, dada a lentidão das operações químicas do hidrogênio e do oxigênio, elementos constitutivos da água, para se formar esse extenso vale, que, sob o ponto de vista do imediatismo monetário nos conduz a pensar tão somente na cultura do arroz no chamado Banhado?

O que serão essas planícies em futuro não muito remoto?”

Essas planícies que ai vemos laboratório de maravilhosas operações químicas e físicas trazem em seu seio riquíssimo, os germens de belas culturas, necessitando apenas de corretivos calcários agentes neutralizadores dos ácidos húmicos; veremos, então, depois que isso for compreendido e praticado, desse vale, hoje em sua maior parte inculto ou rudimentalmente cultivado, surgirem viçosas culturas evidenciando feracidade igual ou comparável á das famosas terras da Noroeste.

A ação absorvente de antigas lavouras cafeeiras.”

As adjacências do vale do Paraíba, têm a mesma natureza sílico-argilosa das outras duas zonas, diferenciando-se apenas, quanto ao grau de fertilidade; nestas, a ação absorvente de antigas lavouras cafeeiras, é notável. A rotina em matéria de cafeicultura, de mãos dadas á ambição mal orientada retirara da camada explorável pelo café todos os elementos fertilizantes que sob a forma de grãos rubiáceos converteram-se em milhares de contos de réis. E que os lavradores, nossos antepassados, ignoravam a lei da economia agrícola das necessárias compensações, de onde se tira e nunca se põe, cedo se chegará ao fundo.

A terra é um meio cheio de vida.”

A terra é como qualquer ser vivente uma máquina transformadora, e exige como qualquer outra máquina viva e motora, a força e combustível. O adubo e o amanho do solo são elementos indispensáveis a sua fertilidade. Os elementos fertilizantes dela retirados, as toneladas, sem a necessária restituição, convertidos em ouro imobilizaram-se em suntuosas cidades. Ou então, com seus proprietários, emigraram para outras plagas de virgem fertilidade.

Imprevidência de nosso tempo.”

Esta especie de agricultura cosmopolita se ante ela não se antepuser a ação dos poderes públicos caminhará pelos sertões em demanda das terras virgens, n’uma progressão devassadora. Cedo ou tarde o humus natural esgotado, as matas calcinadas. o Brasil esplêndido de hoje, nada mais será que um matagal açoitado continuamente pela inclemência do sol. E então que se compreenderá a incúria a imprevidência de nossos tempos preparando á posteridade um futuro e um ambiente verdadeiramente hostis.

Um projeto útil mas importuno.

Se o governo levasse avante o seu patriótico projeto de rebaixamento do Paraíba, prestaria ao País um grandioso trabalho. Essa extensa faixa de terras marginais de uma das mais importantes vias férreas, de topografia excelente para o trabalho mecânico do solo, converter-se-ia em eternas culturas de milho, de arroz e de outras plantas não menos importantes para a economia nacional. Dada a facilidade de transporte e a proximidade dos grandes centros consumidores, convergiriam para aqui fortes capitais, e uma população muito prospera impulsionaria as cidades atualmente estigmatizadas com o triste e injustificável epiteto de “cidades mortas”. Independente desta ação modificadora, os terrenos marginais, á vargem do Paraíba, têm em si esplêndidas possibilidades (a industria Pastoril) desde que, a cultura do café, mecânica e racionalmente explorada, ninguém se abalance aplicar seus capitais.

Um juízo que convida a refletir.”

“Os municípios de Barra Mansa, Resende, Campo Belo, Rio Claro, São João Marcos, Barra do Piraí, toda a zona do Canta Galo, S. Fidelis e todo o Norte de São Paulo, têm diante de si um futuro grandioso quando a classe produtiva, isto é a lavoura, tomar a resolução enérgica de despir-se dos andrajos do carrancismo e da politicagem e enveredar pelos trilhos dos progressos modernos no desenvolvimento, sobretudo, das industrias pecuárias e compreender que sob a crosta aparentemente estéril de suas terras, tesouros inesgotáveis existem que só frutificarão pelos esforços da inteligência humana”.

“Quantas vezes viajando por essas regiões, contemplando essas doces colinas, que por uma falsa compreensão foram julgadas só dignas de criarem “Cabras”, como já se disse pela imprensa, umas, ainda com seus esqueletos de cafeeiros, outras forradas com suas mantas de sapesais, dizíamos, quanta riqueza, quanto bem estar para as populações desses municípios estão ainda escondidos dentro dos cofres da ignorância”.

As outras duas zonas possuindo algumas culturas de café, em pequenas proporções, são caracterizadas pelas suas montanhas, recortadas de vales mais ou menos irregulares, gargantas e ravinas deprimidas que se abrem em algumas longas encostas, dirigem-se em sentidos opostos, uma, á margem direita do Paraíba, em direção á Serra do Mar, outra á margem esquerda, em direção à Mantiqueira. As montanhas de ambas, assemelham-se tanto na forma, como na estrutura, e isto denota que se formaram sob a influência dos mesmos agentes.

Quando contemplamos essas encostas e montanhas, ora regulares, ora recortadas de profundos vales, formando pirâmides ou cones, não raro de formas caprichosas, aqui desmudada pelo fogo, além com seus verdejantes mantos de matas e capoeiras, sentimo-nos pequenos e diminuídos para determinar a época em que se deram tão formidáveis convulsões plutônicas geradora dos acidentes do solo. A presença do granito em cimos elevados, e a sílica e quartzitos estriados de substâncias de colorações diversas e especiais, constituídas de moléculas que outra cousa não denunciam senão o resultado de grandes incêndios subterrâneos, conduzem-nos ante os espetáculos do presente, a rever, em épocas que se perdem na noite dos tempos, o cataclismo que transformou a superfície do nosso continente, e provavelmente de nosso globo. Pertencente aos terrenos paleozoicos e sob a influência de diversos agentes erosivos o solo de ambas estas regiões apresentam contexturas onde predominam a sílica e argila em proporções variáveis. A presença do carvão de pedra no vale do Paraíba, nos induz a crer que este vale seja uma ramificação dos terrenos carboníferos que, com os triásiacos, se estendem desde o Amazonas e seus afluentes, e pela lat. 20 30 em direção aos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O aspecto presente desta zona nos indica que sobre ela houve muitas por largo tempo, culturas anuais cujas queimadas invadindo matas, foram com o tempo mudando a flora silvestre, em fetonáceas e gramíneas invasoras.

Mudança de cultura é necessária, porque elementos desprezados por umas, aproveitam as outras.”

Causa-nos, no entretanto admiração, quando viajando por essas regiões encontramos algum habitante que com ar tristonho de quem recorda alguma historia, cara ao seu coração, aponta-nos certas bacias, marcadas pelas cristas das serras, vertentes e nos diz: nessas terras que o Senhor vê, F. colheu milhares de arrobas de café, e estas estradas tinham grande movimento. “As montanhas, de onde, extraídos pelas culturas, ou conduzidos pelas águas pluviais os elementos fertilizantes desapareceram, dando lugar aos mantos de sapeeiros e samambaias, indícios certos de queimas periódicas e de relativa pobreza do solo, mostram-se hoje aparentemente empobrecidas; é uma paralisia momentânea que nada mais significa, senão, um protesto veemente contra a incúria ou ignorância d’aqueles que os não souberam compreender. No entretanto, a natureza-mãe benigna tem recursos inesgotáveis. As plantas, possuindo faculdades de assimilação varias, umas delicadas e outras mais rústicas, não requerem os mesmos minerais, de que se alimentam. O café requer certos elementos que seria erro grave aconselhar sua cultura em solo acidentados, pelas dificuldades de tratos que lhe são indispensáveis como adubação e aração do solo. A mandioca justamente cognominada “o pão dos pobres”, dado o enorme consumo que vai tendo no mundo inteiro, e dada a sua extrema rusticidade e pouca exigência, aliada à suas propriedades de planta forrageira, rica em fécula, pode, em tempos não remotos, servir de matéria prima a poderosas industrias extractivas, farinha, amido, tapioca, álcool, etc. e como base alimentícia na engorda de suínos. Tem sobretudo a preciosa propriedade de assimilar, os sais das camadas mais profundas, inalcançáveis por outras plantas mais delicadas, como o milho e outras gramíneas. Quer como alimento para o homem, quer como valioso sucedâneo do milho na engorda de porcos, pela sua perfeita adaptabilidade a estas terras, bem merece que sobre ela se atendam com mais zelo e mais carinho.

Um dos mais graves defeitos desta preciosa “Euphorbiacea” é a sua relativa pobreza em substancias azotadas defeito a que também o milho e outras gramíneas estão sujeitos. Há porem um precioso recurso, para estas mesmas terras, corretivo seguro para esses defeitos. São as leguminosas, pouco exigentes, que virão exercer este papel providencial. Dentre elas citaremos o ‘feijão de porco” ou “ervilha de vaca”, ótima como forragem verde e pelos seus grãos sendo, sobretudo, excelente adubação para terras pouco ricas em azoto. Podemos citar a Soja que sendo pouco exigente, é rustica, suportando admiravelmente as temperaturas extremas, e por conseguinte, com maior razão, as temperaturas medias do nosso clima.

“Industria pastoril, é o futuro das zonas Nordeste Paulista.”

Além destes, o engordador de suínos não deve esquecer-se de outras plantas auxiliares como o Tupinambour, a Consolida de Cáucaso, a Taioba, a Abóbora, Moranga, e muitas outras adaptáveis, e de produção barata, que completarão o serviço de engorda com o preciosíssimo elemento que é alimentação variada e fresca. Independente destas possibilidades, no rol das coisas muito possíveis, realizáveis, desde que para tanto misture se a elas, uma boa dose de iniciativa, temos para as terras acima descritas elementos seguros para o desenvolvimento da pecuária.

Nos terrenos de São José dos Campos, e quiçá de toda zona impropriamente denominada Norte de São Paulo, adaptam-se admiravelmente diferentes raças bovinas europeias já aclimadas em nosso país.

Dentre elas pode-se apontar, como de êxito seguro a famosa e mundial raça “Schvitz” que dia a dia vai conquistando reputação insofismável como produtora de leite, carne e trabalho. É uma raça criada e originaria das íngremes montanhas da Suíça, em pastagens de mediana fertilidade, e por isso, rústica, e resistente, qualidades que tornarão a raça preferida de toda esta zona e de todo o Sul de Minas.

Temos a exígua e pequena Kery, que devido as condições naturais em que vivem seus representantes no clima ás vezes rigoroso da Irlanda, se tornou a mais rústica entre as leiteiras Inglesas.

Conhece-se ali a Kerry com o nome de “vaca do pobre” por causa do grande serviço que presta às famílias menos abastadas do campo. Segundo a opinião do abalizado zootecnista Professor Thomaz Shaw a capacidade leiteira dessa pequena criatura em clima tão ingrato e nos pastos mais pobres “é simplesmente surpreendente”.

“A Kerry, é um lindo animal mais bonito talvez que a Gersey, muito vivo e esperto, o que lhe dá uma aparência muito agradável”.

Ao lado do zebu, que com todos os seus defeitos, é de reconhecida rusticidade e fácil criação, além das raças já mencionadas, não são menos interessantes a South Devon, e a Caracú, sendo este gado nacional, já aclimado, a todas as nossas terras e climas, tendo ainda a vantagem de ser um ótimo gado, um animal “soberbo” como lhe chama o eminente mestre Dr. P. Barreto.

Boas pastagens, é grande problema porque metade da raça, é feita pela boca.

Para pastagens ótimas, ai temos o gordura, tão amigo destas regiões, principalmente a sua esplêndida variedade “rouxinho” “cabelo de negro”, que além de rústico é invasor e rico em substâncias amilaceas.

Outros capins como Rhodes – (Chloris) “Paspalum dilatatum” ou grama comprida, “Barba de Bode da Mantiqueira” virão suprir as faltas daquele em azoto e outros elementos de que se ressente. São capins resistentes á seca e de fácil cultura. O lavrador inteligente e cuidadoso, procurará associar em suas invernadas essas diferentes gramíneas, reservando ao “gordura” as faces soalheiras, enquanto que nas outras plantará essas espécies apontadas.

Com todos esses elementos podemos augurar, com sérias esperanças, um renascimento próximo para todas estas terras abandonadas pela rotina, e tidas como inúteis pela maior parte dos homens oportunistas.

Todas as cousas têm o seu lado escuro, assim como todas as medalhas o seu verso.

Devemos, no entanto fazer aqui, uma observação importante que procuramos elucidar com relativa perfeição. Essas terras acima estudadas possuindo tão auspiciosas possibilidades, principalmente para mais próximos ás serras, onde as águas são abundantes límpidas, cristalinas, a correr sobre leitos rochosos, têm em suas montanhas. um segredo segredo digno de todas as atenções e que não é para se desprezar. São as plantas tóxicas, conhecidas pelo nome vulgar de “ervas” que, segundo parece, é comum em todo o Estado de São Paulo. Não se impressione portanto o leitor, porque a existência desse vegetal, obrigando uma limpeza periódica nos pastos, exerce o seu papel salutar.

Essas plantas, compreendem várias espécies pertencentes a três famílias cujas variedades aqui observadas passarei a descrever.

Erva de Rato – também conhecida por – Tangaraca compreende seis ou sete variedades, razão pela qual os roceiros de diferentes regiões mostram-nos esse vegetal com caracteres muito diversos. A presença dessa planta indica o habitat do café (cofea arabica) é uma planta como esta, da família “Rubiacea”, vegeta nos Estados de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Goiás, Espirito Santo, norte do Paraná finalmente em todos os lugares onde se dá bem o café. Suas folhas parecem com as desta planta, tanto na forma como no seu verde escuro. Prefere os sombreados das matas onde é dificílimo de se extinguir. E’ a primeira a aparecer nas derrubadas. Fenece e desaparece rapidamente quando exposta ao ar livre e ao sol. E no começo da primavera e no fim do inverno que os animais a apanham, justamente quando ela floresce estando então carregada de principio toxico. Contém, segundo Lawis, palecurina e um acido miosótico tóxico; segundo determinações do Dr. B. Lacerda, o veneno é paralisante nervo-moscular, isto é, segundo a unanimidade dos autores o seu veneno é da classe dos “nervosos” Os animais ervados manifestam perturbação na vista e o veneno parece obrigá-los a “piscar” violenta e continuamente. Parecem não ter consciência de seus movimentos, alguns tornam-se loucos, furiosos e qualquer excitação circulatória abrevia a morte que sobrevem rápida, entre esquisitas convulsões nervosas. As mucosas congestionam-se, assim como os pulmões. coração e estomago apresentam com aspectos característicos. As mucosas do estomago despregam-se com facilidade tendo arroxeada sua parte interna, em cujas vilosidades o sangue e a limpa parecem coagular-se. O repouso após a aplicação de 2 kilos de assucar mascavo, n’água ou no vinagre são os remédios mais ou menos eficazes.

Como se vê é um veneno violento, com o qual o criador deve ter todo o cuidado isolando as matas e capoeiras onde ele for frequente. Nesta zona só existe a Tangaraca que é fortemente tóxica.

Olho de Cabra – Também conhecida por “Aescula Paxia”, cresce nos terrenos úmidos, á margem dos regatos e contem nos frutos a Osculina. É perigoso no princípio da primavera quando o gado anda a procura de brotos que são os primeiros a aparecer. Os feijões do gênero “latirius” são tão perigosos quanto as precedentes. Possuem alcaloides paralisante nervo-muscular, tendo alguma propriedade fortemente drásticas e abortivas. Os “Latirius” vegetam em solos frescos, das baixadas.

Além destas especies, há como em toda parte, outras plantas, suscetíveis de produzirem acidentes porem, que pelo seu aroma, quer pelo seu modo de vegetar, raramente produzem acidentes que entretanto, não oferecem grande perigo. Dentre estas últimas. encontra-se a “plumeria lancitolia” da família das “pocineas” que abunda em diversos estados, Bahia, Minas Rio de Janeiro, São Paulo, e que segundo o Dr. Peckol, contem um alcaloide de nome agomiadina. Produz a morte quando pastada em grande quantidade. Os cabritos e os carneiros, dado o aspecto da planta e o perfume que exala, são os mais suscetíveis de se envenenarem. Vejeta em solos soalheiros e permeáveis, sendo facilmente conhecida pela beleza de sua flor; é nesta família que a jardinagem encontra grande numero de plantas de lindas flores. A casca é drástica e abortiva.

“Em rigor cada campo de criação deve ser limpo de qualquer planta inútil, nociva ou não; só se deve permitir que nele vegetem plantas forrageiras entre as quais os criadores, podem escolher ervas arbustos e árvores não só para satisfação das exigências da pecuária como também para toda ordem de trabalhos culturais, e até mesmo de embelezamento dos criadores”.

Para o prévio conhecimento dos lavradores, afim de procederem uma rigorosa seleção botânica da flora forrageira, o governo devia empreender o quanto antes, o estudo fitotécnico de cada região.

A limpeza dos pastos criteriosamente feita, conforme ficou dito, além de lhe emprestar um aspecto sumamente gracioso e saudável, traria como consequência imediata a eliminação da mosca, do berne e da vareja.

São dificuldades! Dirão; mas, nada existe sem dificuldades. Aquele que se considerar bastante superior á essa ocupação e não estiver disposto a vencer tais dificuldades, e obstáculos, comuns em toda parte, e não votar aos seus animais um carinho e cuidado, de modo que vejam no seu senhor um protetor vigilante e um médico dedicado, jamais deve pensar em tal industria, não só aqui como em qualquer parte porque será sempre o homem dos mais sucedidos pois o amor, em todas as ocupações, é o “abre-te Sésamo” de todos os obstáculos.

Considerações finais

O sul de Goiás, Mato Grosso e do Paraná, possuem condições ideais para e indústria pastoril, porém devido a distância dos centros consumidores e a dificuldade de transporte, grande parte dos produtos derivados da pecuária perde seu valor. Para se estabelecer naquelas magníficas regiões uma indústria desta ordem, o maior problema é o capital. Não se contando com o leite e seus produtos, a economia pecuária concentra-se tão somente no “boi tipo frigorífico”, e para que esta indústria represente somas compensadoras, faz-se mister instalações de certa monta, que, não estão ao alcance de modestos recursos da maioria dos casos. E, em épocas anormais, como esta que ora atravessamos, a super abundância do produto acarreta a imobilidade de avultados capitais, o que para pequenos proprietários e criadores de gado, representa quase um fracasso. Isto por estas paragens já não acontece, nem há possibilidade de acontecer porque ao lado do boi para a carne, de facílima condução ao consumo, é perfeitamente explorável, em qualquer parte do município, a indústria de laticínios, quer sob a forma de queijos ou sob a forma de manteiga; serve de importância esta indústria quando ao lado da pecuária bovina se fizer a indústria de engorda de porcos que conforme vimos anteriormente é perfeitamente explorável desde que para tanto se atrevam os fazendeiros a tentar experimentar os novos processos agropecuários.

Ouço falar que não produzindo bem milho seria impossível a engorda de porcos em nossos terrenos. Esta improcedente objeção, fere os nossos raciocínios. No Brasil o milho e o porco são entidades irmanados e identificados a tal ponto, que é inconcebível a criação de porcos onde não há milho.

A luz da história, torna-se, entretanto, evidente este erro de se considerar o porco sujeito á produção daquele cereal. Segundo Deutoronamo, Chou-Kuig e Odyssea o porco fora domesticado há mais de 50 seculos, enquanto que o milho foi descoberto apenas a quatrocentos anos. Como se explicaria a alimentação e exploração compensadora destes animais, conservando-os e melhorando-os até os nossos dias, se naqueles antigos tempos esta preciosa gramínea jazia ainda ignorada?

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