Trago para vocês este acervo referente ao fotógrafo Angelino de Jesus, conhecidíssimo na cidade como Careca. Provavelmente cerca de 80% das famílias que residem no município de 1981 para trás tenha ao menos um registro fotográfico feito por ele. Na exposição Paisagens e Personagens de São José Antigamente ele foi homenageado com seu trabalho exposto ao público.

Não foi uma circunstância muito feliz que trouxe Angelino de Jesus Rosa a São José dos Campos. Franzino e doente dos pulmões, ele chegou para se internar no Sanatório Vicentina Aranha. Aliás, ele mesmo conta que passou sete anos internado. “Os verdes anos da vida”, segundo ele.

Mas, lá na pequena cidade de Itapecirica da Serra, Angelino nem sonhava com São José dos Campos. O que ele queria mesmo era tocar flautim na banda da cidade, onde seu pai, o Maneco Boi, era maestro. Seu amor pela música faz parte até hoje de sua vida. Tanto que ele e alguns amigos criaram aqui em São José dos Campos um quarteto de flauta doce.

Hoje, não há quem não conheça o fotógrafo Careca, que teve um estúdio ali na Praça João Mendes, ou Jardim do Sapo.
Foi ainda a tuberculose que o fez ingressar nessa profissão. Durante o pouco tempo que esteve no Sanatório do Jaçanã, em São Paulo, conheceu um médico que o levou para trabalhar em um instituto de abreugrafia e foi lá, revelando e ampliando chapas de pulmões doentes e sãos, que Careca percebeu que estava ali o que queria.

E São José dos Campos ofereceu a ele a oportunidade que faltava.

Ela chegou na pessoa do barbeiro Inácio Baduy, que tinha um pequeno estúdio fotográfico no prédio do Cine Paratodos. Inácio convidou Careca para trabalhar com ele e em pouco tempo o novo fotógrafo estava tomando conta de todo o estúdio.

Inácio era o único fotógrafo da cidade. Por isso, seu ajudante era exaustivamente requisitado. Careca afirma que em São José dos Campos não existe uma única família que não tenha pelo menos uma foto feita por ele. Todos os casamentos, batizados, aniversários e velórios foram registrados por sua câmara no passado. A cidade era bem diferente e as pessoas se conheciam tão bem que Careca fazia a entrega das encomendas numa esquina da Rua 15 de Novembro.

Mas foi driblando os problemas que Careca conseguiu montar seu primeiro estúdio próprio o, o “Angel Fotos”, que foi destruído por um ônibus em desabalada corrida pelas pacatas ruas de São José antiga; Careca foi devidamente indenizado recebeu 7 mil réis pelos estragos. E daí para frente, depois de tudo consertado, ele só foi crescendo em sua profissão. E lembra-se muito bem de um concorrido mural que fazia com fotos jornalísticas, com a preciosa ajuda do repórter Álvaro Gonçalves.

Desde seu primeiro trabalho profissional, um baile que levou o nome do mais famoso cavalo de corrida na época, o Gualixo, se passaram décadas. Na época 55 anos de idade, Careca ainda se lembrava do preço de sua primeira câmera fotográfica, uma Agfa-Isolete que custou 500 mil réis. Seu arquivo de fotografias, com preciosas fotos registrando cenas do passado da cidade, foi doado por ele ao jornal AGORA. Perguntar se a fotografia é um bom negócio não seria preciso. Ele passou a trabalhar com uma Hasselblad, talvez uma das mais caras câmaras que existiam, bem diferente de sua antiga Agfa de 500 mil réis.

Na década de 1960 Careca sofreu um acidente que se tornou uma cômica notícia no jornal O Prefeito, como poderão ver abaixo:

ANGEL FOTO TIRA RETRATOS A 6 POR 9 E CAI DA LAMBRETA A 3 POR 2…

Por volta das 15 horas de domingo último, quando alcançou a Praça Brasil, seguindo peja rua Euclides Miragaia, Angelino Rosa, fotógrafo, mais conhecido como “Careca”, sofreu violenta queda, ocasionada por derrapagem, da lambreta que dirigia.

À queda espetacular, fez com que todo o material que “Careca” transportava na ocasião, máquina fotográfica, “flash” e filmes, fosse projetado ao chão. E o “Careca”, que tem como “slogan” o conhecido “fixando para a posteridade”, não fotografou desta vez. E, por ironia, ninguém por perto estava munido com máquina para fazer a “notícia”.

“Careca” foi levado para a Santa Casa, onde foi medicado, devendo ficar, a conselho médico, afastado das lides profissionais durante todo o espaço de um mês. Seu estado não inspira cuidados.

Acima a foto do aniversário da Maura Miguez na residência da Rua Vilaça, em frente ao Pronto Socorro da Sta. Casa, em 1958. Da esquerda para a direita Yolita, em seu colo seu filho Jarbas, o garoto e pé sobre a cadeira é o Rodolfo Miguez, Angelino (Careca) segurando o bolo e ao lado seu grande amigo Adolfo Miguez, acompanhado de sua esposa Dalila e a criança em seu colo é a Maura Miguez, afilhada de Angelino e Yolita, em seguida de blusa preta Leonides, esposa de outro amigo do Careca, o Clodoaldo, moradores da Vila Ema, e ao lado da Leonides está a Angela Góes.

Careca junto ao grupo de acrobatas Zugspitz que se apresentou no largo da Matriz em Julho de 1957.
O vídeo abaixo não foi realizado em São José mas em Caxias do Sul-RS, porém é a mesma apresentação realizada em nosso município.
https://www.youtube.com/watch?v=G5TWzl0RC4Y

Acima, Angelino (Careca) levou seu filho, Jarbas Moura Rosa para cortar o cabelo com o barbeiro sr. Henrique ao estilo pastinha, ali na praça da Igreja Matriz, Praça João Marcondes Guimarães. Seria o mesmo ponto que hoje existe o Instituto Bell Center? Vemos a sede da AESJ e o hotel San Remo ao fundo… Ah, isso ocorreu em 1958, e o fotógrafo provavelmente era o Chiquinho.

Locutor Benedito Matarazzo narrando uma partida de futebol para a ZYE-5 Rádio Clube de São José dos Campos, no campo da antiga Rhodosá. Também temos na imagem do lado esquerdo de Matarazzo o Manoel, técnico de som, do lado direito Aniz Mimessi, em pé Mario de Paula e sorrindo para a câmera Angelino Jesus Rosa, o fotógrafo Careca.

No jornal A Gazeta da Cidade de janeiro de 1981 era dada a notícia do falecimento de Careca, que naquele mesmo período falecia o ex-prefeito Elmano Ferreira Velloso.

Angelino Jesus Rosa, o popular Careca, faleceu na última quarta-feira, aos 57 anos, após uma crise cardíaca fatal. Ele estava internado no hospital já há dias antes. Careca era considerado o melhor e mais popular fotógrafo da cidade, onde viveu quase 40 anos e possuía seu estúdio no Jardim do Sapo. Era um homem de bom gosto, embora simples de origem, e, para os que frequentavam o estúdio, os recebia com um sorriso e música erudita ao fundo.

Para Careca, a fotografia sempre foi sua melhor opção profissional, e, também, um bom negócio, do qual sempre viveu. A maioria dos profissionais da fotografia da cidade a ele se dirigiam para aprender um pouco mais sobre seu trabalho. Careca era um estudioso e trabalhador esforçado. Sensível às artes em geral, ele passou a dedicar-se à música e, nos últimos anos, estudava e tocava flauta.

A preocupação de muitos, agora, é com o destino que será dado ao popular estúdio de Careca na Praça do Sapo. Dado o carinho e a dedicação com que preservou seu trabalho naquele local, espera-se que seu esforço tenha sequência e não ser extinto por interesses comerciais apenas.

Na página de outro jornal que não tenho o título, era dada a notícia sobre o falecimento de ambos.

Em um único dia. São José dos Campos teve a lamentar a perda de duas figuras muito queridas. Velloso e Careca. Recebi, sinceramente consternado, as notícias dos seus falecimentos, um duplo golpe para a cidade que eles tanto amaram.

Não apenas o exemplar profissional da fotografia, mas o homem sempre alegre, bem humorado, inteligente, o homem sensível que era exímio flautista, intérprete de obras de música erudita no Quarteto de Flautas que ele mesmo organizou. Terei sempre muito respeito pela memória de Velloso e muito carinho, muita saudade do amigo Careca, a quem eu sempre perguntava como ia um velhíssimo Gordini que ele certa época possuía, para ouvir a mesma e bem humorada resposta. “Está um colosso, preciso até frear na subida!”.

Abaixo uma sequência de fotos feitas por Careca, estes são registros singulares sobre nossa cidade.

Esquina da Rua Sete com Dr. Rubião Jr. No final da década de 1970, com destaque para a papelaria Guanabara.

Esta exposição fotográfica sobre os Jogos Regionais aconteceu nas dependências da Rádio Clube, na Rua XV de Novembro na década de 1950. Foi organizada pelo estúdio Angel Fotos.

Jogo de vôlei na quadra do Instituto de Educação João Cursino, quando funcionava no antigo prédio da Câmara Municipal, atual Museu Municipal. Década de 1950. A paquera está rolando solta, e será que dali nasceram casais e ambos hoje deslumbrados visualizam na rede social este rico fragmento do tempo?

Amadeo Blanco Mojon, afiador de tesouras exercendo seu ofício na Praça do Sapo na década de 1970.

Um grupo de engraxates reunidos na Praça João Mendes (Praça do Sapo) em Março de 1977, e são eles, da esquerda para a direita: “Siriema”, Valdecir (falecido), “Ratinho”, “Fio”, “Ceará” e “Anjo”. Ao fundo temos a Guanabara, Bel Center e a “Banca do Japonês”, do Paulo Saito (falecido). Uma curiosidade, o ex Vereador de São José dos Campos Jairo Santos (2008/12) está nesta foto, é o “Fio”, sentado no encosto do banco.

Foto feita pelo fotógrafo Careca na sala da sua casa. O registro foi a pedido da professora Ilza Nascimento Pintus, na foto estão Mariangela Pintus Gonçalves da Costa, seu irmão Angelo Rubens Pintus e a menor a irmã Gisele Maria Pintus Pereira.

Os Biriba Boys em seus primórdios. Sem data e Local.

Time do Formigão do Vale com o locutor esportivo Benedito Matarazzo ao centro. Sem data e local.

Time de basquete do Tênis Clube, a foto foi feito provavelmente no próprio local. Sem data e nomes.

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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente