A morte de Argemiro Parizotto de Souza, em julho de 2000, abalou São José. Primeiro porque era muito querido por todos. Segundo porque muitos como eu gostariam de ter-lhe dado um último adeus. Mas a notícia tardia não permitiu que muitos de seus amigos o acompanhassem até sua derradeira morada. O próprio gabinete do prefeito Emanuel Fernandes, ao qual informei na manhã do infausto acontecimento, conseguiu a confirmação de sua morte nas funerárias de São José dos Campos (imaginando-se que o sepultamento seria aqui) ou mesmo de Ubatuba (sede da Maranduba, onde ele morava), para a edição de decreto de luto oficial. É que ele morreu em Caraguatatuba. E ele bem que merecia esta homenagem da terra que ele tanto amou e pela qual tanto trabalhou. Que fazer?!
Lembro-me bem dos tempos dele vereador e eu jornalista, filiado ao MDB. Visitei-o em sua casa, que ficava na travessa Bento Pinto, um beco sem saída na rua Sebastião Humel. Ele acabara de chegar de 30 ou 40 dias em Cumbica (São Paulo), onde foi preso pela ditadura militar. Dona Adelaide, sempre atenciosa, preparava um café, enquanto eu ouvia o relato da perseguição política que o Argemiro estava sofrendo. Como já houvera também sofrido prisões políticas pelo regime autoritário, ali estava em solidariedade a outro perseguido. De repente, para um jeep do Exército na porta da casa e um sargento desce. Atendido, Argemiro fica sabendo que devia ir até o 6° Regimento de Infantaria, em Caçapava. Virou-se para a Adelaide e perguntou: “Você ainda não desmanchou minha mala? Agora estou indo para Caçapava!”
Argemiro me ensinou uma coisa muito importante para um político. Com mandato ou sem mandato você deve ser a mesma pessoa. Assim ele era. Encontrei-o depois já sem mandato eletivo em sua fazenda em São Francisco Xavier. Na casa um violão no canto e um armário cheio de remédios. Todo dia de manhã formava fila em sua porta de moradores procurando por medicamentos, que ele fornecia gratuitamente. Providenciava até consulta. E de seus lábios sempre saiam as tiradas mais espirituosas que ouvi. “Olha, é preferível avermelhar cinco minutos do que amarelar o resto da vida!” “Puleiro de pato é no chão! E de marreco ao lado!”
Em 1970, já sem a companhia do seu compadre Zé Marcondes (José Marcondes Pereira tinha sido cassado como deputado estadual do MDB, com base no AI-5, em dezembro de 1968), Argemiro cansou de tanta perseguição política. Aceitou convite do prefeito Sérgio Sobral de Oliveira e ingressou na ARENA, o partido do governo. Foi aí, inclusive, que tive que assumir, com o então vereador Robson Marinho, a direção do MDB em São José, para dar continuidade à luta de Marcondes e Argemiro.
Estava eu preso no 6° R.I., em Caçapava, em 1970, quando chega o Argemiro. Estranhando o fato, fui logo perguntando a ele: “Ué! Você não passou para a ARENA? Por que prenderam você?!” E ele sempre espirituoso de pronto respondeu: “É, Luiz Paulo! Eu acho que eles aqui ainda não estão sabendo!” Argemiro deixou muita saudade em todos nós que o conhecíamos e admirávamos. Parafraseando o escritor Ernst Hermingway, com o Argemiro desapareceu também um pouco de cada um de nós. (2000)
Luiz Paulo Costa – SJC Antigamente