Não tenho informações se os textos foram publicados em jornais ou eram ensaios para um livro, assim como em que data foram escritos, mas aqui seguirão em lotes periódicos semanais. Lembrando que os texos refletem o pensamento e comportamento da época em que foi escrito.
Caos & Coisas Joseenses
Manoel Ricardo Júnior, morto com quase 90, em 1943, tio e professor de Cassiano Ricardo, deixou marca, por suas tiradas humorísticas, sua vida boêmia, sua grande cultura. Era farmacêutico e mandou o filho Mauro estudar na faculdade de Pinda. Mas o mogo só pensava em mulher, vivia de noitadas monumentais, não queria ver remédios nem pintados. Desgostoso, Manoelzinho fecha a farmácia e vive com seus pássaros, sua fiel Berta e suas poesias. Dele de conta que, estando meio oculto, ouvi um passante comentar: “Eta farmácia horrível“. Salta o velhote e retruca, dedo em riste: “o reflexo do seu olhar!”
Altino Bondesan
Manoel amava Cassiano e apreciava imensamente sua vitoriosa carreira literária. Recebeu como algo sagrado o livro de estreia do poeta, intitulado “Dentro da Noite” e vazado em sonetos bilaqueanos. Posteriormente Cassiano adere ao modernismo e envia ao tio, sempre com afetuosas dedidatórias, suas novas produções, ao que o velho respondia, agradecendo e afirmando: “Prefiro-te, meu caro, dentro da noite…”
Altino Bondesan
Contava Manoel que, em moço, amara uma baiana, mulher de seus 120 quilos, mas cheia de charme. Mas, não sendo constante, logo arranjou uma desculpa esfarrapada e declarou que ali terminava um grande amor. Desesperada, a baiana disse que não queria mais viver, e, empunhando um punhal, cravou-o no próprio peito, diante dos olhares aflitos do poeta.
Seu comentário: “Felizmente, a mulher era tão gorda que, embora penetrando uns quinze centímetros no tórax, a punhalada não teve maiores consequências. Tudo se curou com um pouco de mercúrio cromo.
Altino Bondesan
Dr. Rui Rodrigues Dória, natural de Limeira, radicado em São José desde 1928, uma ocasião meteu-se num charivari em Paraibuna, durante a festa de Santo Antônio, com outros rapazes e moças. O delegado, bem da moralidade paraibunense, encanou a turma toda, só libertando o grupo após intervenção de amigos e políticos.
Justificando-se perante Manoel, Dória explicava que houve excessos, bebidas, carinhos, coisas de moços, mas as jovens não foram violadas. Ao que o vate saiu-se com esta: “Dória, pelo amor de Deus, não me faça duvidar da sua virilidade“.
Altino Bondesan
Um dia Manoel se apresentava triste, acabrunhado. A alguém que quis saber a causa da mágoa, ele confessou: “Eu morro de vergonha! Onde estão os jovens daqui? Há três meses não se rouba uma virgem em São José!”
Altino Bondesan
Joaquim Bueno de Vasconcelos, o Bueninho, era figura de prol na cidadezinha de outrora. Sua farmácia, na Rua XV, era a central das fofocas. Lá um dia, Antônio Rodrigues de Moraes, seu vizinho, que tinha um bazar, lançou artigo contra “O Chalaça da Rua XV”, aborrecido que andava com as troças do farmacêutico. Este, sem perda de tempo, procura Manoel Ricardo, a quem exibe o jornal e solidariza-se com o poeta pelo atrevimento do autor…
Indignado, Manoel Ricardo corta relações com o Moraes, dizendo: “Se até aqui lhe negava o cumprimento, de hoje em diante lhe nego um simples olhar“.
Altino Bondesan
Manoel Ricardo procura o dr. Tertuliano Moraes Delfim, desejoso de que consiga registrar em seu nome um filho havido com mulher casada. O causídico lhe explica que as leis dos pais proibiam tal arranjo. Ao que exclama o poeta: “Ora, se tudo estivesse de acordo com a lei, eu não teria necessidade de um advogado!”
Altino Bondesan
Numa briga, sem mortos e feridos, são levados à delegacia todos os participantes, dizendo um deles que Manoel Ricardo surgira, ameaçador, de revólver na mão. Manoel protesta: “De mão no revólver, moço! Mas não de revólver na mão!
Altino Bondesan
Quando um delegado autoritário afirmou que botaria na cadeia todos os ladrões de São José, Manoel comentou: “Estou temeroso pela Associação Comercial e pela Ordem dos Advogados…“
Altino Bondesan
Pedrinho David, moço muito querido, que morre na flor dos anos, andava pela zona rural, em carro de som, anunciando a candidatura do Brigadeiro. Alguns roceiros lhe confessam que votarão em Getúlio. Manobrando o carro, a cautelar distância, Pedrinho bota o som no maior volume e apostrofa: “Votem nele, seus caipiras idiotas. Votem. Ele vai voltar. Mas sairá morto. Anotem bem. Morto!” Nunca uma profecia deu tão certo.
Altino Bondesan
Michel não vai mais a Paraibuna. Explica: “Deu o lião…” Ele agenciava o bicho e não descarregava os números mais arriscados, como 16, 11, 25. E não podia voltar à simpática cidade, pois os ganhadores o linchariam.
Indo ao médico, submeteu-se a injeções no braço, uma no direito, outra no esquerdo. Mais tarde foi fazer pneumotorax e, tomando à risca as recomendações do médico, ora oferecia a Dextra ora a sinistra… Embora só estivesse afetado no pulmão esquerdo…
Altino Bondesan
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