Carnaval joseense de 1954

Vamos viajar para o Carnaval de 1954?

Acuado pela carestia da vida e desamparado pela escassez dos dinheiros públicos, o carnaval de 54, a exemplo dos últimos anos, também refugiou-se nos salões, onde a folia esteve sufocante e não deixou de apresentar, apesar dos pesares, ricas, belas e sugestivas fantasias. Nem todos, porém, acham que uma fantasia influa no sucesso de uma boa pandega; é o caso do grupo de foliões acima, à esquerda, para o qual bastam lindos rostos, pouca roupa e bastante pernas.

Ainda em cima, à direita, a rainha do Tênis Clube tendo do lado o sr. Ruy Dória e ao fundo Sergio Weiss, diretor do Clube.

Em baixo, à esquerda, um grupo de foliões-mirins e, à direita, três lindos brotos e três sugestivas fantasias, no salão da Associação Esportiva São José.

No centro a srta. Wilma Terezinha de castro que, em Caçapava, onde a folia também esteve contagiante, levantou o 1º lugar no concurso de fantasia.

Wilma Terezinha de Castro, o lindo “brotinho” que, chegando a Caçapava, empolgou, viu e venceu… O concurso da fantasia. Grande foliona e possuidora de uma bela voz, encantou ainda os ouvintes da Rádio Cacique, cantando os sucessos de Momo.

Um lindo “broto”… E muita concorrência. Entretanto ela não se afobou, pois os “espinhos” sempre acompanham as rosas. Dentre os dois, seu coração escolheu… A folia.

As duas indiazinhas “endiabradas” puseram fogo nas canecas de muita gente. Incansáveis e irrequietas, esbaldaram-se durante os quatro dias.

A POLÍCIA DE SÃO JOSÉ “HOMENAGEOU” MOMO COM UM SHOW DE PANCADARIA

Apenas uma escola de samba saiu à rua, a folia restringiu-se, como nos últimos anos, aos salões. Não houve auxílio do poder público, apesar de tudo houve carnaval.

Houve quem achasse o carnaval deste ano bastante fraco, mas a unanimidade dos foliões – isto é interessante – achou o melhor que nos anos anteriores, apesar dos preços extorsivos dos comes e bebes, dos lança-perfume, confeti e serpentina, material indispensável ao bom folião.

Foram três ou mais dias – ninguém sabe dizer ao certo – de esquecimento, em que o joseense esqueceu, por completo, o governo que não governa, os impostos escorchantes, o preço da carne, do arroz e do feijão, para se dedicar inteiramente ao rei momo.

Não faltaram, em todos os salões, como o Tênis, Associação Esportiva, Rhodosá e mesmo nos outros clubes menores, as ricas fantasias, que tanto agradam aos olhos dos presentes.

FALTOU APOIO

Conforme é sabido, faltou apoio do Poderes Públicos, motivo por que o carnaval se restringiu apenas aos salões. Na rua nada houve que estabelecesse diferença entre carnaval e o footing diário. Escolas de samba e cordões carnavalescos, como nos idos tempos, não compareceram, apenas o night club, essa popular agremiação do homem de cor da cidade, apresentou-se em público, com sua porta-estandarte, à frente, desfilando pela cidade em visita a todos os clubes e procurando mostrar ao homem branco como se faz o verdadeiro carnaval.

A Associação e o Tênis Clube (duzentos por cento no último dia) promoveram tradicionais concursos às primeiras horas de quarta-feira de cinzas: o maior folião e a maior foliona; a mais bela fantasia, o broto mais sensacional (foi duríssima a escolha); o bloco mais original e o mais alegre, enfim, uma série interminável de concursos para classificação dos maiores de 54.

Eis quatro “graciosas” viúvas, “flertando” no bar do Boneca em São José.

BRINCADEIRAS INFANTIS

Até para a criançada não faltou folia. Os três maiores clubes da cidade: Tênis, Associação e Esporte, não se esqueceram – como, aliás, não podia deixar de ser – a garotadinha joseense.

Esses encantadores “pedacinhos de gente” também se esbaldaram a valer, com o lança-perfumes, o saquinho de confeti e a serpentina que papai lhes deu, acompanhados de um par de óculos para a indispensável proteção dos olhinhos contra o sadismo de muita gente grande (um sujeito grandalhão espirrou lança-perfume nos olhinhos de uma hawaianazinha num dos bailes infantis. A garotinha chorou bastante mas, em compensação, o grandalhão apanhou um bocado). Brincaram, divertiram-se, pularam até altas horas… Da tarde. Ganharam presentes, riram, choraram, e foram para a casa, embora contrariados, para que o papaizinho e mamãezinha pudessem, logo em seguida, cair na folia até o sol raiar…

Epa!? índios não?! Exclamou o fotógrafo. Depois viu que não eram Xavantes.

BIG SHOW DE ENCERRAMENTO

Nem todas as classes podem participar das ruidosas noitadas carnavalescas. Uma existe, e que foi criada para tomar conta apenas dos foliões, daqueles que, por causa do “dá mais um copo”, esquecem-se da vida e começam a se exceder. Esta classe é a polícia. Mas, ao que tudo indica, ela esqueceu-se de sua obrigação e, contagiada pela folia, caiu também na dança, promovendo, à porta da Associação um deprimente espetáculo, sob o lombo de alguns foliões. Não somos nós que afirmamos, mas sim o próprio folião vítima que nos procurou:
“Houve um pequeno incidente entre duas pessoas dentro do salão, as quais, aconselhadas por terceiros, resolveram decidir a parada lá fora. Entre outras pessoas na briga, mais outra e mais outra, até que ficou um bolo.

Chegaram algumas pessoas respeitáveis e conseguiram apaziguar os ânimos. Nisso chega o grupo do ‘deixa disso’ e, embora sabendo ter a briga acabado, começou a distribuição (grátis) de socos, ponta-pés e cassetetes, resultando sair da ‘brincadeira’ muita gente machucada, destacando-se um cavalheiro que, em virtude de uma cacetada que levou no rosto, partiu-lhe os óculos, bebia e respirava sangue.

E a coisas terminou ai? Indagamos curiosos e revoltados. Não. Revoltadas com aquela agressões injustificadas, outras pessoas que apenas espiavam de longe, não se contendo entraram também a favor dos foliões. Ai o pau comeu de verdade.

Fonte: Revista Atualidades – 1954
Texto de Edward Simões
Fotos de Isnard e J. Rosa

Bastante concorrido foi o concurso de fantasia, realizado em Caçapava, onde o calor da folia foi suficiente para fazer dançar uma estátua. Na foto um aspecto da numerosa assistência.

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