Junto com a Casa São José, a loja é um dos comércios mais longevos do município.
Antes de vir para São José dos Campos, na década de 1930, o libanês Amin Chaker Elhage teve uma vida atribulada. Saiu do Líbano e foi para o Texas, nos Estados Unidos, onde morava uma de suas irmãs. Ficou pouco tempo, voltou para seu país e se casou com Hacibi Elhage.
Em 1910, o casal veio para o Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro, onde se associou pela primeira vez ao sobrinho Nicolau Letaif, filho de uma das irmãs de Amin. Em 1927, ele resolveu retornar ao Líbano com a mulher, um filho e três filhas menores. Deixou no Rio dois outros filhos, Adélia e Chaker, que ficou conhecido como Chico.
Amin ficou dois anos no Líbano e em 29 voltou para o Rio de Janeiro, de onde só saiu em 1932, para se associar ao sobrinho Nicolau, na Casa Confiança, em São José dos Campos. Dois anos mais tarde trouxe a mulher, o filho José e duas filhas que ainda estavam no Líbano. Passaram a morar nos fundos da loja
A partir de 1932, além do casal de fundadores, Rosa e Nicolau Letaif, passaram a trabalhar na Casa Confiança, Amin e os filhos Chaker e Adélia. O filho menor de Amin, José, começou a trabalhar aos 12 anos.
Depoimento
“Eu me lembro que a Casa Confiança vendia produtos de alta classe, como mercadorias importadas, rendas, organdi, seda natural, linhos irlandeses e casimira francesa. Tínhamos fregueses do Vale do Paraíba todo. A Siqueira Campos era a principal rua da cidade e todos passavam por aqui”, lembra José.
Em 1939, a família Elhage foi morar em uma outra casa e a loja foi ampliada. Dezoito anos mais tarde, Rosa e Nicolau pararam de trabalhar e a Casa Confiança passou para o comando exclusivo dos Elhage, Amin e os filhos Adélia, Chico e José. Amin morreu em 59. Depois, em 74, morreu Chico. No lugar deste na sociedade entrou sua mulher Raife Tauile e Julieta, outra filha de Amin. Seis anos depois, morreu Adélia.
Atualmente, a Casa Confiança, que vende uniformes profissionais e escolares, material esportivo, moda jovem e calçados, é comandada por Julieta, José, sua mulher Aida e os três filhos do casal, representantes da terceira geração dos Elhage no Brasil, Eduardo, Ricardo e Marcelo. Além deles, trabalham na loja sete antigos funcionários: José Matos Terra, Sebastião Marques Oliveira, Pedro Rodrigues dos Santos, as irmãs Maria Tereza, Dalva e Benedita Felipe, e Marinete Cabral Blanque.
José Elhage (no centro), a esposa Aida, seus filhos e funcionários da atual Casa Confiança, instalada na mesma esquina da Rua Siqueira Campos com a Praça João Pessoa. (1994).
Da esquerda para a direita: Amin Elhage, Adélia Elhage, Rosa Letaif e Nicolau Letaif, sócios que iniciaram a Casa Confiança, em 1927.
A Casa Confiança foi fundada em dezembro de 1927 pelo libanês Nicolau Letaif, na rua Siqueira Campos, n.º1, esquina com o então largo da matriz, no mesmo local onde funciona até hoje. Era uma loja típica daquela época que vendia tecidos, moda, armarinho, chapéus, calçados, perfumaria e muitos produtos importados.
Nicolau Letaif deixou o Líbano com 18 anos, idade em que os muçulmanos costumavam perseguir e matar os jovens cristãos. Um de seus irmãos havia sido morto e ele decidiu que fugiria deste destino, vindo para o Rio de Janeiro, onde três de seus irmãos já trabalhavam.
Lá foi trabalhar com um tio no comércio atacadista e começou a demonstrar seu forte tino comercial. Vivia no armazém e dormia em cima de um balcão. No Rio conseguiu se estabelecer como atacadista, passou a vender artigos importados e a ganhar muito dinheiro, mas a carreira foi interrompida quando um médico o aconselhou a mudar de clima para auxiliar no tratamento de uma bronquite.
Volta ao comércio
Nicolau foi para Poços de Caldas (MG) mas não gostou da cidade. Acabou vindo morar em Campos do Jordão, onde atuou no mercado imobiliário e construiu a primeira casa de tijolos do tradicional bairro de Abernésia.
Em 1925 decidiu vir morar em São José dos Campos, onde já possuía uma chácara. Resolveu voltar a trabalhar no comércio e fundou a Casa Confiança, cujo símbolo, uma pomba comendo milho em uma mão, “um ato de confiança”, foi criado pelo próprio Letaif.
Muito conhecido entre os atacadistas, Nicolau ia a São Paulo sempre às segundas-feiras, fazer compras na tradicional rua 25 de Março, dias em que sua mulher, libanesa de Tripoli, Rosa Cury, que conheceu em Campos do Jordão e com quem se casou em São José dos Campos, cuidava sozinha da loja. Era ela também a responsável pelo bom gosto das mercadorias vendidas na casa Confiança. Educada no Líbano em um colégio francês, ela veio para o Brasil acompanhando sua irmã Regina e viviam dos bordados feitos por Rosa.
Em 1932, Nicolau trouxe do Rio seu tio Amim Chaker Elhage e os filhos deste, Chaker e Adélia, que passaram a trabalhar na loja e se tornaram seus sócios. Em 1956, Nicolau deixou a sociedade e a Casa Confiança continuou sob o comando da família Elhage.
Nicolau Letaif nasceu em Hasbaya, no Líbano, em 21 de março de 1889. Casou-se com Rosa Cury e tiveram duas filhas: Nilsa e Nair.
Nilsa é casada com Gaetano Siracusa e têm três filhos: Angelo Nicolau, Rosa Maria e Paulo. Angelo é casado com Lena Elizabeth Jhoenssen e têm uma filha, Mariana. Rosa Maria é casada com Gerson Luiz Montenegro e têm um filho, Gabriel. Paulo é casado com Margareth Rose Fieirabente e têm duas filhas. Giovanna e Giulina.
Nicolau Letaif morreu em 13 de julho de 1976 de insuficiência cardíaca.
Matéria de 1994 para o livro São José dos Campos – Comércio e Desenvolvimento, gentilmente fornecido por José Maria de Faria, presidente do Sindicato do Comércio Varejista, para o São José dos Campos Antigamente.
Ricardo e Aida Elhage, filho e mãe, proprietários da Casa Confiança.
Durante a gravação de uma matéria para o telejornal da rede Vanguarda em Março de 2015, realizei algumas fotos para o arquivo do São José dos Campos Antigamente. Já haviam muitos anos que eu não entrava na Casa Confiança, mas dessa vez me veio à lembrança a época de escola, comprar o agasalho azul marinho, o Conga, ou mesmo o Kichute para a aula de educação física e também brincar. Voltei no tempo dentro daquele ambiente acolhedor, revendo cada cantinho parado no tempo, estar naquele provador que eu não entrava desde pequeno foi realmente como adentrar na máquina do tempo.
Veja a matéria no site do G1 abaixo:
http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2015/04/paginas-em-rede-social-resgatam-passado-de-sao-jose-e-taubate.html
Ao final das imagens veja a matéria de TV.
Aida Chalat Elhage sendo entrevistada pelo repórter Jonatan Morel. Eles ainda são o típico comércio popular de época, dos poucos existentes no Brasil, não aceitam nenhum tipo de cartão e a caderneta ainda reina. O repórter perguntou sobre alguma modernidade ali dentro, disseram que existia apenas nos produtos. Eu como não me aguentei salientei que ali também possuíam uma “moderna” calculadora que executavam 4 operações! Todos caímos na gargalhada! Que delícia de tarde nós passamos…
A Casa Confiança com a nova cor em seu exterior e a lateral reformada.
O sr José Elhage utilizou esta máquina de escrever até seus últimos dias, depois de seu falecimento ela se aposentou.
Vista lateral do prédio da Casa Confiança.
A Prefeitura Municipal de São José dos Campos, administração de Elmano Ferreira Veloso, outorga o presente Diploma de Consagração Pública à Casa Confiança segundo pesquisa de opinião pública efetuada pela Rádio Piratininga e Diário de São José dos Campos. Em Julho de 1968.
Ricardo e sua mãe, Aida Elhage com o repórter Jonatan Morel.
O Ricardo me contou que este cofre não é aberto há décadas, e que não possui sua chave ou senha, não fazendo ideia do que exista em seu interior. Como isso mexeu com minha imaginação…
Diploma de Consagração Pública pelo mérito da Casa Confiança
Reconhecido na consulta à opinião pública promovida pela sociedade informativa da imprensa Inter-americana, Folha do Rio e Rádio Imprensa Ltda de Buenos Aires e Santiago do Chile, através do Diário de São Paulo, O Tempo e Rádio Clube de São José dos Campos, que a classificou em primeiro lugar na pergunta n 16 na cidade de São José dos Campos que diz: No ramo de tecidos qual a firma que merece consagração pública?
Outorga-se o presente diploma a Casa Confiança.
Certificado de Participação Comunitária.
Interior da loja que resiste ao tempo no centro de São José dos Campos, desde 1929.
Centro de Pesquisas Promocionais, Informativas e Planejamento
Diploma de Hora ao Mérito
Casa Confiança – Tecidos – Calçados – Confecções
Conferimos o presente diploma de Honra ao Mérito, tendo em vista sua classificação obtida pela preferência popular, apurada através de pesquisa de opinião pública realizada nesta cidade. São José dos Campos. 1974.
Aida Chalat Elhage sendo entrevistada pelo repórter Jonatan Morel durante nossa visita.
O piso da Casa Confiança ainda é o original, data de 1913, com “apenas” 106 anos.
1913, confirmando a data de construção e conclusão do prédio onde até hoje funciona a Casa Confiança.
Ministério da Indústria e do Comércio
Departamento Nacional de Registro do Comércio.
Marcas oficiais a venda de artigos de seda animal
A carga da seda é constituída por substâncias vegetais e minerais a ela incorporadas para torná-la mais pesada, mais flexível e mais barata.
Toda reclamação deve ser dirigida ao departamento nacional de registro do comércio. Rio de Janeiro.
O provador, uma cápsula do tempo.
Um interessante móvel que resiste ao tempo.
Marinete Cabral Blank e Benedita de Fátima Felipe, antigas funcionárias da Casa Confiança.
Este é um tijolo retirada da estrutura da Casa Confiança durante uma reforma, o prédio existe há 106 anos. Na verdade, o tijolo caiu do alto da parede e nada sofreu, material extremamente rígido, qualidade pura, em alto relevo está Cerâmica São Caetano. Hoje a peça está em minha coleção.
Finalizando a matéria no deck, com Jonatan Morel.
No site do Museu da Pessoa você encontra mais informações sobre sua história.
http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/casa-confianca-43624
Vamos agora à matéria de TV para a Vanguarda:
Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Midias Sociais: sjcantigamente
Whatsapp: (12) 99222-2255
e-mail: sjcantigamente@gmail.com
Quando era garoto, já faz um bom tempo, meus avos e depois meu pais sempre passava nessa loja para adquirir peças de roupas. À medida que o tempo foi passando, eu também frequentava essa loja, mas era para cumprimentar as pessoas que estava na loja. Havia duas irmãs que não me recordo dos nomes no momento, que estudavam comingo no Admissão ao Ginásio, em Sant’ana. Mas já conhecia diversos senhores que dirigiram a loja, o seu Pedrinho, o Sr. Nicolau. Eram pessoas excelentes. Que saudades. Dias
É tão boa essa identificação com um comércio nativo do município, precisamos de mais disso, antes que as redes internacionais padronizem tudo.