Centro Técnico de Aeronáutica (1950)

Detalhe da sala de estar de uma das residências dos professores do Centro. Não só nessas residências, mas também nas destinadas aos alunos e demais edificações do Centro, todas projetadas por Niemeyer, o ambiente e do máximo conforto.

A “FOME” de técnicos, além da falta de organização que, por certo, se poderá classificar como a natural decorrência, tem sido dos principais fatores negativos com que tem lutado nossa indústria para seu desenvolvimento. A grande maioria dos técnicos especializados com que contamos nos diversos ramos da indústria, é importada do estrangeiro, sendo poucos os elementos nacionais que lá foram especializar-se a custa de sacrifícios e para cá voltaram.

E, embora seja o que até agora se tem adotado, nenhuma das alternativas representa o que de melhor se poderia desejar. Entre contratar especialistas estrangeiros ou formar elementos brasileiros no Exterior, apresenta-se outra solução mais lógica e, sob todos os aspectos, preferível a de formar especialistas brasileiros em nosso país. E foi esta última que, felizmente, a Aeronáutica preferiu, criando o Centro Técnico de Aeronáutica de São José dos Campos, estabelecimento que é hoje justo motivo de orgulho do ensino no país, e do qual já estão saindo os engenheiros especialistas de que a indústria da construção de aeronaves e a do transporte aéreo precisam para desenvolver-se em bases sólidas e duradouras.

O Centro Técnico de Aeronáutica

Os alunos tomam conhecimento dos detalhes de um “link-trainer” (aparelho usado no treinamento de voo por instrumentas).

O Centro Técnico de Aeronáutica foi organizado por uma comissão de técnicos brasileiros, militares e civis, com a colaboração do professor norte-americano Richard H. Smith, do Massachussets Institute of Tecnology, para tal fim especialmente convidado pelo saudoso ministro Salgado Filho, então titular da Pasta da Aeronáutica.

Representando anos de meticuloso estudo, a criação daquela escola de engenharia especializada, que é ao mesmo tempo moderno centro de pesquisas aeronáuticas, representa iniciativa que honra e enche de orgulho o ensino brasileiro. Funcionando nos moldes das mais modernas universidades norte-americanas, o Centro Técnico de Aeronáutica oferece a seus alunos que não estão sujei- tos a qualquer disciplina, compromisso ou obrigação militares, instrução, alimentação, moradia e assistência médica e dentária, além de mensalidade que varia de 200 a 250 cruzeiros para suas outras pequenas despesas pessoais. Desse modo, são bolsistas todos os seus alunos.

Toda a atenção numa experiência num dos gabinetes de física do Centro, que, além do ensino da engenharia, se dedica também a pesquisas.
O Centro não é estabelecimento militar. Na foto vemos um grupo de alunos. No grupo estão representados cinco Estados brasileiros.
O contato com a máquina é essencial para quem vai projetar e desenhar peças que nela devem ser executadas.
Sendo numerosos os gabinetes de experiências, os alunos neles podem exercitar-se em pequenos grupos, não só no campo dos estudos, mas também no das pesquisas.

Mestres de todos os países

Apesar de mantido e subordinado administrativamente ao Ministério da Aeronáutica, o Centro não escola militar. Seu reitor, e a maioria quase absoluta de seus professores e em alunos é de civis. Seus professores foram escolhidos e contratados entre os melhores cientistas especializados assuntos relacionados com a engenharia aeronáutica, não só brasileiros como estrangeiros. Desse modo, encontram-se representadas no corpo docente do Centro nada menos de 16 nacionalidades. Por outro lado, entre os 250 alunos do estabelecimento encontram-se jovens provenientes de quase todos os pontos do país, jovens que devem representar a elite estudantil de seus Estados, uma vez que, e muito embora dando tudo, o Centro, em matéria de instrução e de preparo intelectual, exige também o máximo.

Os professores residem no próprio Centro, mantendo assim contato diário e permanente com os alunos, o que, segundo ensinou a experiência nas universidades americanas e europeias, não só dá mais eficiência ao ensino mas também contribui decisiva e eficazmente na formação do caráter e personalidade dos jovens. Aliás, nesse sentido, foi adotado no Centro Técnico de Aeronáutica de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, sistema da maior eficiência. Longe dos pais, precisando de quem o oriente na solução de seus problemas, o Centro cuida de suprir aquela falta, designando para cada aluno um conselheiro, escolhido entre os professores. Esse conselheiro, paternalmente se incumbe de orientar o aluno, assistindo-o na solução dos seus problemas, sejam eles relacionados com os estudos, questões de saúde, causas psicológicas ou até mesmo amores contrariados…

Tomando conhecimento direto com a fuselagem de um avião.
A aparelhagem para estudos sobre eletrônica é das mais modernas, oferecendo por isso mesmo aos alunos do Centro campo vastíssimo para seus estudos.

Ensino e prática

O Centro Técnico de Aeronáutica, que é a primeira escola de engenharia e centro de pesquisas aeronáuticas da América Lati na, está localizado em São José dos Campos, Estado de São Paulo, em vasta área de terra, em local salubérrimo. O projeto dos diversos pavilhões e dos conjuntos residenciais para os professores e alunos é tudo de autoria do consagrado arquiteto brasileiro Niemeyer. Dispõe o Centro de laboratórios, oficinas e instalações de pesquisas dotados de que de mais moderno existe em equipamento, de modo tal que proporciona aos alunos experiências práticas e o perfeito conhecimento das máquinas e instrumentos utilizados nos diversos setores relacionados com projetos e construção de aviões e motores, eletrônica, manutenção, operação de empresas aeronáuticas, segurança de voo etc.

Como se vê, a Aeronáutica soube escolher, com a criação do Centro Técnico da Aeronáutica, a maneira mais lógica, racional e segura de estabelecer as bases da indústria da construção de aviões a de formar primeiro os técnicos especializados de nível superior de que aquela indústria precisará.

Um bom técnico, mesmo de nível superior, tem de saber manejar as máquinas de que se utiliza.

Revista Careta, Rio de Janeiro, 1950

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