Aquele domingo de 1981 ficou marcado na vida dos joseenses, inclusive na minha, que com 8 anos de idade, desci com meu pai para observar os estragos daquela forte chuva de granizo no Fundo do Vale. Morávamos na Rubião Júnior e por sorte só sofremos o medo, sem perdas, diferente de grande parte da cidade, onde foi decretado Estado de Calamidade Pública no município diante o ocorrido.
Recordo-me que havia um fotógrafo morador da nossa rua que estava lá embaixo próximo a nós fazendo muitas fotos da visão aterradora, em que as pistas e todo o resto estava coberto por água e muito gelo. Assustador lembrar que alguns anos (talvez até menos) ele cometeu suicídio em sua casa…
Meu pai fotografava muito naquela época, e muitas desses raros registros vocês já viram aqui no São José dos Campos Antigamente, porém neste dia ele não tinha filme na máquina. Quando subíamos de volta pra casa ele resolveu me levar até a beira do Banhado para vermos como ficou. Subindo pela Rubião Júnior e vendo todo aquele gelo eu já imaginava que a visão seria aterradora, mas minha imaginação estava longe da realidade, que era muito mais horrível. Tudo coberto, fiquei imaginando se pessoas tinham morrido, mas ainda bem que não tivemos óbito neste terrível acontecimento.
Eu estudava no Olímpio Catão, e lá estava ele, também coberto de gelo. Eu não sabia ainda que aquele ocorrido era incomum, afinal na TV víamos os filmes que mostravam os EUA periodicamente coberto de gelo, então imaginei que pudesse ser algo normal, mas não, foi um raro ocorrido…
Claro, tivemos diversas chuvas de granizo depois disso, mas até onde sei nenhum tão devastadora. No começo de 2022 tivemos uma chuva de granizo que de longe foi menos aterradora que aquela de 1981, mas nem por isso deixaria de causar estragos, e eu fui um dos “contemplados” com este estrago, meu telhado foi danificado, e não só meus bens pessoais como o São José dos Campos Antigamente passa por um momento delicado, motivo pelo qual iniciei uma Vaquinha para ver se com o apoio da cidade consigo resolver este problema antes da próxima temporada de tempestades. Conto com sua ajuda!
Mas voltando ao ano de 1981, veremos agora muitos registros daquele período, inclusive com registros detalhados do dia a dia do degelo no município. Então, boa viagem no tempo!
Registro dia após dia
O senhor João Aparecido de Oliveira, antigo morador da Rubião Júnior, me enviou seu registro daquele ocorrido, evidenciando o quão surpreendente foi para as pessoas naquele domingo…
Caro amigo Wagner Ribeiro, o assunto abaixo é sobre a chuva acompanhada de granizo no dia 5 de abril de 1981.
Bem, nesse dia eu estava fazendo hora extra no escritório da TELESP, situado na Rua Carvalho de Araújo, no bairro da Vila Maria. Era um domingo e por volta das 15 horas, uma violenta chuva, acompanhada de forte queda de granizo, caiu sobre a cidade, atingindo principalmente os bairros da Vila Maria, o Jardim Bela Vista e o centro da cidade. Impossibilitado de agir, eu assisti ao meu carro, um Passat, ser duramente castigado pelas pedras de gelo, as quais danificaram seriamente o teto e o capô do motor. Após a chuva muita gente tratou de limpar o gelo dos telhados e lajes. Muita gente também foi para as ruas e a criançada se divertiu.
No Jardim Bela Vista fizeram um boneco de gelo que foi estampado no dia seguinte na primeira página do jornal “O Valeparaibano”. A orla do Banhado foi um espetáculo à parte, com a chegada das pessoas para contemplar o belo cenário. A temperatura ambiente ficou geladinha e com o passar das horas uma fina névoa foi se elevando do solo, resultante da condensação do ar frio do gelo.
Notícias dos jornais da época
No quintal do prédio da TELESP, onde eu me encontrava na hora do evento, o gelo permaneceu ainda por uns dois dias após o evento, em cantos sombreados e debaixo das folhas das árvores. Foi um evento realmente inesquecível, para marcar esse dia na cidade.
Junto das fotos que eu tenho, adquiridas na Foto Brasil, eu juntei fotos das anotações que fiz na minha agenda nesse dia. Por João Aparecido de Oliveira
Registros dos munícipes
“Nesta tempestade detonou a lataria do meu opala, matou todos os macaquinhos ( sagui) e não ficou uma folha nas árvores, eu estava no Cine Palácio assistindo filme, quando sai parecia uma Praça de guerra!” Por Orlando Trone.
“Era um uma tarde de domingo. Estava na minha casa na Av. Rui Barbosa, quando começou a chuva de granizo. Meu fusca na garagem descoberta, a casa de minha tia, vizinha a nossa, que também estava descoberta pois na segunda feira seria colocado um novo telhado. Começou a cair aos poucos e aumentou gradativamente. Na porta da cozinha as pedras começaram a aumentar e eu, então, abri para tirar com minhas mãos o excesso de pedras que se acumulavam. Ao sentir as pedras de tamanhos anormais, muito maiores do que são chuvas de granizo, logo desisti pois eram pancadas muito fortes.
Depois que tudo cessou fomos ver como tinha ficado lá fora. O quintal todo branco, meu fusca todo amassado no teto e na frente, a casa de minha tia cheia de granizo por dentro atingindo os móveis. Meu primo teve que furar a parede para escoar águas. Árvores e plantas com folhas que foram arrancadas. Nas praças da Matriz e na Afonso Pena, pedaços de folhas no chão, pardais e macacos mortos.
Levaram 5 dias para derreter todas as pedras de gelo no quintal de minha casa.
Tive prejuízo com meu carro todo amassado. Banhado também ficou bastante atingido.
Chuva de granizo igual àquela, nunca mais presenciei e espero nunca presenciar. Foi marcante.” Por Moacir Duarte.
“Estava de serviço no Tiro de Guerra, ao voltar para casa, na Vila Ipiranga, notei várias pessoas vistoriando o próprio telhado, muitos sofreram sérios danos. Na época havia a favela Linha Velha e vários barracos ficaram cobertos de gelo.” Por Camilo Jose De Lima Cabral.
“A lataria dos carros pareciam um ralador de parmesão. Morava na Francisco Rafael e dali se via os bloquinhos de gelo. Quem levou aquelas pedradas não está aqui para contar o que viu…” Por Roberto Barbosa dos Santos.
“Tinha 16 anos e estava na casa do meu avô na Mário Galvão – Bela Vista e fui até perto da oficina de moto do Alemão na esquina da Laudelino Nogueira com a Geraldo Augusto dos Santos e meu pé afundava no gelo até pra cima do joelho, nunca tinha visto tanto gelo assim mas eu e meus primos nós divertimos muito…” Por Fernando Paulo.
“Eu morava numa ruazinha sem saída da Humaitá, logo abaixo da antiga Telefônica, do lado esquerdo… o apartamento que eu morava tinha uma área de serviço que ficou com um metro de gelo… meu filho era pequenininho foi parar debaixo da cama… depois da chuva saímos pra rua XV enfrente ao Banco do Brasil, lá tinha mais de 1 metro de gelo, a rua estava toda tomada de gelo…” Por Jair Ferreira Rosa.
“Eu ajudei as pessoas no Banhado tirando os velhinhos atolados naquela chuva de granizo, estava trabalhando, quando a defesa civil pediu ajuda na cidade.” Por Mario Donizete Costa.
“Eu e minha filha de 5 anos morávamos com meus pais na Bela Vista, na avenida da estação. Era de praxe que quando chovia os alagamentos acontecessem… todas as casas da avenida e outras próximas ficavam alagadas… nesse dia tivemos que levantar móveis e tapetes, e o papai que tinha medo de chuva quase infartou… a partir daí sempre que ameaçava um temporal ele ia pra casa da minha irmã na vila Betânia…que tristeza…” Por Martha Derrico.
“Estava no cinema do CTA assistindo Hair. Foi a coisa mais surreal. Lá não caiu gelo e quando chegamos na cidade parecia que havia nevado, depois de um filme daquele, nós estávamos no espirito do filme, saímos brincando e fazendo guerrinha de bolas de gelo, foi muito legal, pois não presenciamos o medo das pessoas que depois nos contaram como foi…” Por Fatima Pereira.
“Me lembro bem desse dia, eu estava no condomínio que meu tio era o zelador, prédio ao lado da loja Safira que era do lado da loja Esportiva, eu tinha 7anos na época, mas esse tempo me marcou muito…meu pai tinha uma Brasília marrom, tivemos que parar e nos abrigar devido ao granizo, como estávamos perto desse prédio, meu tio deixou a gente entrar e esperamos passar…” Por Ana Paula Biaggi Soledade.
“Eu estava no Bosque quando desci do ônibus na praça Afonso Pena as 6:00h mais ou menos, ela estava destruída. Quando cheguei em casa no Jardim Paulista o corredor do lado de casa tinha mais de palmo de granizo.” Por Gilberto Gil de Paula.
“Eu tinha 20 anos e morava na Vila Maria na Aleixo Mascarenhas, eu estava dentro de casa, quando a chuva parou o corredor da minha casa estava com 1 metro de pedra de gelo, tivemos que tirar com enxada!!! São José dos Campos ficou um caos, o prédio do INSS entupiu de gelo e perderam muitos documentos, árvores caídas na cidade, carros amassados e várias casas sem telhados!!! Por Eliana Gonçalves.
“Eu morava na rua Luís Jacinto onde era um consultório médico e tinha uma chácara onde meus pais eram caseiros. Lembro que tinha um pomar a chuva destruiu tudo, lembro do meu pai naquela chuva salvando os bichos como, galinhas, patos, cachorro e colocando os dentro de casa… Foi inesquecível essa história!” Por André Lima.
“Eu tinha 22 anos de idade, morava no Jardim São Dimas, na Praça Melvin Jones. Naquela época eu trabalhava na Imobiliária Marcondes Pereira, ligaram pra minha casa pra dar uma força, devido a chuva forte, entrou água na Imobiliária, foi assustador a camada de granizo que estava na Rua Rubião Júnior!” Por Sérgio Augusto Rubin.
“Estava num barzinho, conhecido como Amarelinho, próximo ao antigo Fórum. O toldo foi todo rasgado pelas pedras de gelo que caiam, muitos carros foram danificados. Depois fomos até o Banhado que ficou coberto de gelo nas suas encostas.” Por Ricardo Cotoschk.
“Eu trabalhavam no Jardim Augusta e morava no Vale dos Pinheiros. Aquela chuva foi horrível, na Praça Afonso Pena ficou toda coberta de granizo. Morreram muitos passarinhos, principalmente pardais. No dia seguinte ainda tinha muito gelo na região central, Nelson D’Ávila etc” Por Sérgio Braga.
“Estava no ônibus indo ao Parque Santos Dumont, saindo do Vale do Sol. Me lembro das pessoas do Banhado pedindo ajuda. Foi traumatizante uma moça no ônibus gritava e chorava eu tinha 7 anos e me lembro do medo. Meu pai controlou bem o nervosismo, já minha mãe tremia de medo” Por Alexandra Souza Santos.
“Trabalhava na recepção da Santa Casa. deu enchente no hospital, encheu de água, as enfermarias que ficava próximo à recepção e centro cirúrgico, tiveram que suspender todas as cirurgias de segunda-feira, pois a agua subiu até à altura das mesas cirúrgicas.” Por Edir Rogério Claudino.
“Foi num domingo e eu estava comemorando com amigos o meu aniversário adiantado pois dia 06 foi uma segundona. Optamos pela lanchonete Amarelinho que era o “point” da época. A parte de alvenaria era bem pequena e quase não cabia ninguém, mas a parte externa era uma grande área coberta com lona. A chuva chegou de repente e antes que pudéssemos sair da mesa, a lona foi perfurada pelos granizos, quebrando copos e pratos que estavam sobre as mesas. Tivemos que entrar para parte de alvenaria por uma janelinha redonda, pois a passagem ficou obstruída. Éramos jovens então tudo era festa. Depois que passou a chuva fizemos um tour pelo Centro da cidade que estava sem energia, Praça Afonso pena destruída e o Banhado coberto de gelo. A paisagem era linda, parecia neve. Por algumas horas me senti comemorando meu aniversário na Europa. Brincadeiras a parte, sei que a cidade teve grandes prejuízos infelizmente. Mas éramos jovens…” Por Wal Mel.
“Eu estava com meu primo Zenon no Cine Palácio, assistindo Lagoa Azul. Quando ele me deixou em casa, eu não acreditava o que tinha acontecido. Dentro do cinema dava pra ouvir o barulho da chuva, não sabia se tinha vergonha do filme, ou medo do barulho da chuva. Dia inesquecível!! Grande filme. Primo tão lindo. Saudades.” Por Elisete Regina Salhad Doria Ricardo.
“Morava na Pensão Rocha, em frente a Rodoviária Velha, a rua, rodoviária e Banhado ficaram cheios de gelo ,o susto e o espetáculo foi grande, eu tinha na época 11 anos.” Por Angela Empel.
“Minha família e eu morávamos na Mário Galvão perto da estação de trens, naquele dia não esperávamos aquela chuva tinha uma bebezinha de 1 mês e meio meu marido tinha reformado seu jeep feito funilaria e pintura e colocou uma capota na traseira de Lima preta, essas que os jeeps tem. Quando parou a chuva, nós saímos no quintal o Jeep parecia que tinha participado de um ataque de guerra sua capota estava toda furada com a intensidade da chuva de granizo, nosso quintal parecia cheio de algodão pela quantidade de granizo que caiu, ficamos uns três dias para derreter todo o gelo, a Bela Vista ficou com suas ruas todas brancas de granizo, tivemos prejuízo mas as ruas estavam lindas brancas de gelo.” Por Ligia Aparecida de Lima.
Sequência fotográfica de Eduardo Favaro
“Eu estava trabalhando na TELESP quando saímos as 17.30hs fomos direto para o banhado estava todo branco como se fosse neve estava bonito mas muito triste, as pessoas perderam muito coisa com essa chuva, ela fez um estrago muito grande na cidade.” Por Vilma Vicente.
“Tava em casa e não via a hora de meus pais deixar a gente ir ver a quantidade de granizo que ficou na Rua XV de novembro que teve de ser tirada com trator.” Por Antônio Zanella Leite.
A sequência abaixo não traz identificação do autor
“Nós tínhamos ido a Aparecida do Norte, e passamos em Caçapava na casa de minha avó, quando a chuva estava com bastante intensidade, aí para a nossa surpresa quando chegamos em casa em São José tinha árvore caída, gelo por toda a parte estamos sem energia nossa foi uma experiência q nunca tinha vivido, e como esquecer né?” Por Magui Ferreira.
“Eu morava na jardim estrela logo depois do Vila Industrial foi uma chuva com muita pedra de gelo eu não era na época Testemunha de Jeová mas depois que passei a ser meus irmãos estavam num congresso no estádio de futebol contaram que parecia que era o armagedom de tanto que ventou!” Por Neli Guimarães.
“Foi num domingo estávamos almoçando no restaurante da querida Nena. Fomos para casa assim que chegamos os vizinhos vieram ao nosso encontro trazendo cobertas para agasalhar o meu filho com 3 anos mais ou menos. Ficou tudo branco.” Por Helena Riskallah Neme Varella Nunes.
Veja abaixo um raríssimo vídeo, que provavelmente seja o púnico registro digitalizado do ocorrido.
Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Midias Sociais: sjcantigamente
Whatsapp: (12) 99222-2255
Email: sjcantigamente@gmail.com
Me chamo Antonio Augusto Monteiro de Barros, esta publicação me fez voltar no tempo, nesta época tinha 18 anos. Eu, meus irmão e meus pais moravamos na rua Capitão Roberto Ferreira Maldos, 140, centro da cidade. Quando a chuva começou era impossível conversar dentro de casa pois o barulho era ensurdecedor, minha mãe achava que era o fim do mundo, meu pai tentava acalmar a todos, apos a chuva, lembro que levamos várias horas para tirarmos o gelo do corredor do quintal e jogarmos na rua, levei varios tombos, pois era dificil ficar em pé. Parabéns ótima reportagem.
Como toda tarde de domingo, eu dou uma cochilada na sala, no chão vendo TV, mas nesta tarde não deu, a pancadaria no telhado foi grande, assim que acabou peguei minha Nikon, minha moto e o capacete desta vez, naquele tempo ninguem ligava pra usar, a não ser em estrada. Fui para o Centro e comecei a fotografar… A foto da capa do Vale é minha, e subi as escada do predio em construção na época, onde foi o banco Safra, de cima peguei uma Toyota rebocando o fusca…. Pra melhor se localizarem, o terreno vazio na frente é o Banco do Brasil hoje da 15 de Novembro… Tb fiz uma foto dos trilhos do banhado e com esta foto fui premiado em segundo lugar em um concurso de fotografia do Estado de SP. Na segunda no estacionamento do Jornal ValeParaibano, ainda cheio de gelo, fiz um boneco de gelo com chapéu de jornal, esta foto vendi pra alguns jornais como Estadão e Folha na época…. Lembrando que uns 20 anos depois, não lembro exatamente, 2020 ou 21, teve um temporal parecido onde derrubou varias árvores enormes, ali na Tamoios em frente a Vila São Bento e no Satélite…. Agora é aguardar, 2030 ou 31 kk.
Muito interessante seu relato Majella! Se ainda tiver alguns registros fotográficos da época e quiser acrescentar a essa matéria, ou até mesmo se tiver um acervo maior e mais relatos, podemos fazer uma matéria especial, tudo bem? Meu contato é e-mail sjcantigamente@gmail.com e WhatsApp 12-99222-2255. Abração!