Contam os mais antigos que as cidades do Vale do Paraíba festejavam o Carnaval com músicas compostas por pessoas da própria localidade. Isto acontece até os dias atuais com os enredos das escolas de samba e mesmo com as músicas que animam os blocos carnavalescos. E tornou-se tradicional em algumas cidades.
As escolas de samba de Guaratinguetá desfilam com enredos que lembram as famosas escolas cariocas. Em São Luiz do Paraitinga, a composição de marchas carnavalescas passou a ser tão tradicional que justificou a criação de um concurso oficial.
Um dos fatores que induziram esse processo aconteceu com a urbanização dos municípios da região e a dificuldade que os incipientes meios de comunicação social (emissoras de rádio, gravadoras de discos, editores de partituras musicais etc.) tiveram em atingir, de início, as cidades fora dos grandes centros carnavalescos.
Assim, estimularam-se os pendores musicais locais, que chegaram com suas composições e rivalizaram-se com os famosos compositores do Carnaval brasileiro, elaborando sambas e marchas que embalaram o Carnaval de rua e de salão do Vale do Paraíba.
Cada cidade do Vale tem suas histórias e estórias dos carnavais do passado e as inúmeras canções que foram compostas por saudosos conterrâneos que se tornaram compositores de Carnaval. Algumas até mantem essa memória viva nos dias atuais. Em meio a Lamartines Babos e Braguinhas, o saudoso Elpídio dos Santos, de São Luiz do Paraitinga, sem dúvida alguma, não fica nada a dever e até ficou nacionalmente famoso com suas canções nas trilhas dos filmes de Mazzaropi.
Em São José dos Campos, por exemplo, um fato curioso marcou um certo Carnaval do passado. Era sucesso a marcha de Lamartine Babo cujo estribilho dizia: “A, é, i, o, u, dabliú, dabliú/na cartilha da Jujú, Jujú.//” Não é que o jovem compositor Paulo Lebrão, de tradicional família joseense e, posteriormente, radialista bem sucedido em Santos, São Paulo e até no Rio de Janeiro, resolveu rivalizar-se com Lamartine e saiu-se com essa marcha carnavalesca: “A, é, i, o, ufa lá lá que calor/ Assim sim, mas assim, também não/A minha fantasia de verão/você de Eva e eu de Adão.//” A cidade esqueceu-se da marcha de Lamartine e cantou a de Paulo Lebrão, que era até mais saborosa.
Neste mesmo diapasão pra não desafinar, não posso esquecer (senão meu pai, Bem Costa, vai ficar zangado!) de uma marcha carnavalesca daquela época, de autoria do seu irmão e meu tio, Euclides Costa (que, tempos após, também ficou famoso com a dupla caipira Brinquinho e Brioso, este o seu apelido), dedicada à Eli (que devia ser uma das atrações femininas da época): “Vem Eli/vem entrar no meu cordão/foi pra você que eu nasci/você é toda minha inspiração/Vem Eli/vem e me ensina a viver/se você faltar eu vou sofrer/por ver o meu bloco perder/Se você vier vamos fazer/um sucesso estrondoso/e todo mundo vai dizer/que o nosso bloco é vitorioso E depois na quarta-feira/quando a folia acabar/pra completar a brincadeira/vamos brincar de casar.//“
Embalada por esta marcha, a Eli, certamente, deve ter participado do bloco. Porém, o meu saudoso tio acabou se casando com a tia Ethel e viveram felizes por muitos e muitos anos, recordando os carnavais do passado. É uma pena, no entanto, que esta revista não seja musicada, como aqueles cartões de Aniversário ou de Natal, pra que pudéssemos ouvir também o som das marchas carnavalescas de outrora! É… parece que não se fazem mais carnavais como antigamente!!! (2000)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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