Eliseu de Oliveira, o ex-combatente do Vale que saiu da guerra e entrou para a História

As marcas da guerra jamais sairão do corpo e da alma de um ex-combatente e de quem serviu em meio às batalhas.
As lembranças das lutas e das atrocidades de um período de embates violentos acabam ocupando um lugar difícil de apagar na memória.
“Esqueço algo que escutei ontem, mas não o que passei na Segunda Guerra Mundial”, alerta Soave Govoni, 83 anos, italiana que trabalhou num hospital atendendo compatriotas e alemães feridos na guerra e adotou Guaratinguetá como segunda lar desde 1966.

Em São José dos Campos, mais de 150 jovens foram convocados para lutar na Segunda Guerra Mundial. A carta convocatória era desesperadora para os familiares.

Foi assim na casa de um Jovem de 20 anos que servia, por dever patriótico, no 6o Regimento de Infantaria de Caçapava Esperançoso de cumprir o serviço militar e começar a vida com um negócio próprio, na zona rural de São José, de onde viera a família, Eliseu de Oliveira surpreendeu-se com o chamado para a guerra.


“Entramos em desespero”, lembra a aposentada Maria Adelaide de Oliveira, 81 anos, irmã de Eliseu Na época com 14 anos, ela conta que o medo e a apreensão passaram a fazer parte da rotina da família enquanto a guerra não terminou. Mas não sem surpresa.

Aos 88 anos bem vividos, morando atualmente em Santos, Eliseu recorda com clareza aquele tempo terrível vivido na Itália, lutando o lado de outros 26 mil brasileiros na FEB (Força Expedicionária Brasileira). Destes, quase 1.000 não voltaram.

A morte espreitou o jovem soldado Eliseu de Oliveira mais de uma vez em solo italiano. Ele e os demais combatentes chegaram à região de Nápoles, no sul da Itália, em julho de 1944. Percorreram diversos lugarejos e viram desespero e dor entre os moradores, vítimas da crueldade dos nazistas. embora a Itália fosse aliada da Alemanha na guerra.

Em 23 de setembro, a primeira batalha. A tropa de Eliseu chegou ao povoado de Santa Maria para ocupar o Monte Valimona. Os alemães reagiram. Qual a sensação de ser bombardeado pela primeira vez? “As grandes sibilavam Sobre nossas cabeças. Passavam como estrelas cadentes, assobiando, indo despedaçar-se mais abaixo. Puro terror. resumindo.

“Os homens lutaram escrevendo com fúria sanguinária mais uma página da guerra”, descreve Eliseu. Mas ele sabe que, numa guerra pouco se pode comemorar. “Deus, lá do alto, se nos surpreendesse naquela situação, havia de abanar a cabeça e dizer. ‘Estão loucos’.”

Loucos ficaram os familiares do ex combatente quando receberam uma carta enviada da Itália dando conta de que Eliseu havia morrido em combate. “Foi uma choradeira total em casa”, diz Maria Adelaide. “Dias depois, soubemos que se tratava de outro Eliseu não do nosso irmão.”

A guerra não havia terminado para o soldado joseense. Ele continuou lutando por cerca de um ano. Numa das ações, Eliseu conseguiu desmobilizar cinco alemães armados. O pracinha de São José também foi preso e passou seis meses em poder das forças alemãs, submetido a trabalhos forçados.

ITALIANA SOBREVIVEU PARA FAZER MASSAS

Os cabelos estão brancos e curtos, mas os intensos olhos azuis são iguais aos que vislumbraram a desumanidade da guerra. Aos 13 anos, a jovem italiana Soave Govoni morava com os pais em San Giovanni in Persiceto, perto de Bolonha.
A jovem frequentava a escola e as aulas de canto. Em 1944 e 1945, contudo, quando os soldados alemães e italianos começaram a recuar, o inferno se instalou na Itália.
Para Soave, com a mudança, San Giovanni deixou de ser um lar. Virou quase uma prisão. “Deus não quis que eu morresse.”
Felizmente, Soave não foi uma das vítimas da guerra. Casou-se na Itália e velo embora para o Brasil, mudando-se para Guaratinguetá.
Separada, Soave criou os dois filhos sozinha e tornou-se famosa em Guará pelas massas italianas.

A italiana Soava Govoni.


O COMBATENTE

Eliseu de Oliveira. 88 anos, filho de pais agricultores, nasceu numa fazenda na região rural de São José. Lutou na Segunda Guerra na região de Nápoles, na Itália, entre 1944 e 1945. Ficou seis meses preso pelos alemães, obrigado a trabalhar perto de Munique, varrendo as ruas.

De volta ao Brasil. virou tema do livro “Um Pracinha Paulista no Inferno de Hitler”, de Altino Bondesan, lançado em 1947 e hoje esgotado. Eliseu casou-se pela segunda vez e hoje mora em Santos. Tem um casal de filhos e quatro netos Mora em Santos.

A SOBREVIVENTE

Soave Govoni, 83 anos, é filha única de pais operários. Nasceu em San Giovanni in Persiceto. na região da Bolonha, centro norte da Itália. Separada, tem dois filhos. Entre 1944 e 1945, no auge da guerra, foi obrigada a trabalhar num hospital alemão montado perto de sua cidade. Chegou ao Brasil em 1955, fugindo das dificuldades do pós guerra. Mora em Guaratinguetá desde 1966, onde ficou conhecida pelas receitas italianas.

Acompanhe abaixo um TCC bastante completo sobre a trajetória de Eliseu, de autoria do historiador Douglas Almeida Silva, de 2011.
http://www.camarasjc.sp.gov.br/promemoria/wp-content/uploads/2015/07/Mem%C3%B3rias-de-um-prisioneiro-de-guerra-uma-an%C3%A1lise-hist%C3%B3rica-da-participa%C3%A7%C3%A3o-do-joseense-Eliseu-de-Oliveira-na-Segunda-Guerra-Mundial.pdf

Também foi feita uma história em quadrinhos abordando a aventura de Eliseu:
https://sampi.net.br/ovale/noticias/497365/ovale/2020/02/hq-narra-aventura-de-soldado-de-s-o-jose-no-inferno-de-hitler

Por Xandu Alves, Jornal O Vale, 26 de setembro de 2010


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