Faustino Nelson d’Ávila nasceu em 1926, seus pais foram Nelson Silveira d’Ávila e Elsa Birnfeld d’Ávila (nascida Brandão Birnfeld). Faleceu em 1997 aos 71 anos de idade.
AGENDA DOS PUXA-SACOS
Hoje vou congestionar os troncos telefônicos da Telesp. Paciência. É aniversário de uma das figuras mais queridas de São José dos Campos, o médico Faustino Nélson D’Ávila. Pois é, 8 de fevereiro é o aniversário oficial do Faustino, quando ele nasceu pela primeira vez. Depois nasceu de novo, há mais ou menos um ano, quando deu um susto em todos nós e quase apitou na curva. Mas Deus estava atento, puxou-o de volta para o lado de cá, não apenas para salvar-lhe a vida, mas para que ele continue a salvar as vidas dos outros. Hoje é dia de puxar o saco do Faustino, minha gente!
Encontro entre amigos
Da esquerda para a direita temos: Sr. José Antônio Santos, Dr. Faustino Nelson D’Ávila, Brigadeiro Pedro Frazão, Dr. Ednardo José de Paula Santos e o poeta Jansen Filho.
Fotógrafo Desconhecido. 04 de setembro de 1976.
Dia da mentira
Sergio Reginaldo Bacha Meu concunhado Paulo, homem calmo em toda a vida, entrou em minha casa. Olhar tenso, semblante enrijecido, nervoso. Algo muito ruim deveria ter acontecido, pois nunca o vira assim. Sérgio! (meio gaguejando), sabe o Faustino? O doutor Faustino? Aquele seu amigo? É, é, morreu? Sorri. Não é verdade Paulão! Sim, foi agora há pouco, narrou-me. Em seguida, dirigi-me até a casa do Faustino. Na casa, ainda revolta pelos ventos empoeirados, enfim, a constatação. Beijei a prof. Dalva e saí. Na caminhada da tarde comecei a recordar. Vi o mito como uma criança, ingênua, a procurar ovo de páscoa que o coelhinho (eu) escondia no seu consultório. “Sérgio, está quente ou frio? Assim não dá, já estou um pouco velho para ter que me agachar pra encontrar o ovo”. E pronto, achava. Vi o mito médico de mãos angelicais. Vi o esposo, o político, o amigo e – como diz a prof Dalva – o companheiro.
Minha mãe, Jeni Davi Bacha, foi à estação ferroviária, junto a tantas outras moças, sob o olhar comedido do pai, o doutor Nelson d’Ávilla, fazer o bota-fora. Faustino partia para o Rio, onde iria cursar medicina. Longos anos depois, voltava ela à estação, sob o olhar alegre do pai, para receber o médico. Foi uma festa! Hoje, eu em cortejo fúnebre, levo o Faustino à sua eterna morada. Coração enlutado, saudade doída, reflexão. O Pedro, meu filho de 15 anos, perguntou-me: “Pai, agora quem vai tratar de você?” Bem que poderia ser 1° de abril. Adeus Faustino, até a ressurreição!
Sergio Reginaldo Bacha, São José dos Campos, 1997.
O médico das almas
São José dos Campos chorou, há dias, a morte de um de seus cidadãos mais ilustres, o médico Faustino Nélson D’Ávila. Seguindo os passos do pai-cujas mãos milagrosas trouxeram à vida tantas pessoas-doutor Faustino trilhara, por quase quatro décadas, o árduo caminho onde desfilam, dia após dia, os incontáveis dramas dos que sofrem.
Sua profissão o engrandeceu como homem, permitindo-lhe, na rotina dos consultórios, um perfeito diagnóstico das moléstias sociais. Doenças essas que, não raras vezes, advêm da miséria, da desesperança, da incompreensão. Eternas chagas das sociedades injustas…
A face perplexa da condição humana ele a pressentiu, não se sabe quando, talvez em algum entardecer perdido na longínqua vastidão do Banhado. Mãos de solidariedade e estetoscópio das almas, receita infalível daquele que se preocupa em curar, verdadeiramente, as dores do mundo.
Altino Bondesan bem o definiu: “Homem culto, brilhante, erudito, Faustino tem incursionado pela política, fiel a seus ideais. Foi presidente do Sanatório Ademar de Barros, onde criou o centro cirúrgico. Pertenceu à Santa Casa e outras entidades hospitalares, em tudo revelando seu amor à ordem, à organização”.
O outono trouxe, contudo, inesperados ventos. Dia cinza, de uma tristeza irremediável. De repente, no coração de São José, onde pulsava o ardor de Rubião Júnior, onde cantava a Vilaça cheio de graça, onde descia a XV de tantos novembros, o coração de Faustino Nélson D’Ávila ficou.
Laerte Fernando Levai, Promotor de Justiça, 1997
Faustino: um exemplo de cidadão!
Todo dia ao passar pelo Jardim do Gregório (Praça Afonso Pena) ouvia alguém a lhe dizer: “Que absurdo! Veja o que fizeram com o busto do doutor Nelson!” (Silveira d’Avila).
E o já renomado médico Faustino Nelson d’Ávila, olhando o busto de seu pai pichado, ficava calado, mas envergonhado.
“Fale com o prefeito, doutor Faustino! O senhor é importante, ele vai lhe atender!”
Por constrangimento não falava. E o tempo passava e nada acontecia. Até que um dia não aguentou mais!
De madrugada, Faustino pegou um balde com água, pano e sabão, saiu de sua casa no Jardim do Sapo (Praça João Mendes) e sem que ninguém o visse lá foi limpar o busto de seu pai.
No dia seguinte ao passar pela praça ouvia ainda calado, mas aliviado:
“Até que enfim, doutor Faustino, o prefeito mandou limpar o busto de seu pai!”
Assim era o médico Faustino Nelson d’Ávila. Passou a vida inteira procurando remover as situações que preocupam e incomodam as pessoas, sejam males físicos e mentais ou mesmo os males sociais e políticos.
Nunca se omitiu diante da situação que julgasse injusta para o cidadão ou para a sociedade.
Primeiro joseense formado em medicina (pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro), segundo o também renomado joseense médico Rubens Savastano, a se radicar em São José dos Campos, em fins da década de 40. E, como seu pai, o republicano Nelson d’Ávila, não admitia usar de seu prestigio pessoal para integrar o filho em sua equipe médica no Sanatório Vicentina Aranha, o jovem médico Faustino d’Avila ingressou na equipe do outro “monstro sagrado da medicina joseense” na época, o democrata Ruy Rodrigues Dória, no sanatório do mesmo nome, adversário político de seu pai.
E assim, sempre por esforço próprio, começou e forjou sua notável carreira médica.
Um profissional liberal. Dirigindo equipes médicos em instituições hospitalares comunitárias, combatendo a comercialização da medicina (liberou a fundação da Unimed – Cooperativa de Serviços Médicos), mas mantendo seu próprio consultório onde uma simples consulta era um verdadeiro check-up (com direito a radioscopia, exames laboratoriais, além de uma análise psicológica). Atraía clientes de todo o País e até do Exterior.
Exemplo de ética médica. Nunca deixou ninguém sem atendimento e atenção!
Já realizado como médico e merecedor de gozar uma justa aposentadoria, Faustino não teve dúvidas em dividir suas atividades com uma intensa participação junto aos movimentos sociais e políticos.
Nos tempos duros e difíceis da ditadura, indo às portas de fábricas defender operários contra a violência policial. Integrando caravanas para clamar pela educação e valorização dos professores. Participando de assembleias estudantis pelo ensino público e gratuito. E até ajudando a organizar partido político e saindo candidato a prefeito. Uma anticandidatura, a exemplo do saudoso Ulysses Guimarães e de Barbosa Lima Sobrinho, combatendo a corrupção e a injustiça.
“A experiência – dizia doutor Faustino – traz a melhor apreciação da gravidade dos momentos. (…) A necessidade de atuar é até uma questão de autodefesa e de tendência humana. (…) Num País onde não se pratica a justiça é impossível haver harmonia social. (…) As doenças mais graves do cidadão são o medo e a vergonha de se expor.”
Morreu o médico Faustino Nelson d’Avila, aquele que venceu o medo e a vergonha e se tornou um exemplo de cidadão!
Luiz Paulo Costa é jornalista e auditor geral da Prefeitura de São José dos Campos, 1997
Depoimentos
“Era médico e amigo do saudoso professor de violão Mauro Cabral. Morava ali pertinho da Pça do Sapo. Fizemos uns recitais particulares em sua casa algumas vezes. Grande figura humana.” Por Luiz Carlos de Souza.
“Eu penso que o Dr. Faustino tinha que ser eterno… nunca mais encontrei um médico igual a ele… psicólogo, dermatologista, ginecologista, gastro… ele era completo! Eu simplesmente comecei a ir nele menina e fui também adulta… era bom demais a calma, a competência, o carinho… ele foi importante demais, e sempre será lembrado. Saudades eternas…” Por Elizabeth Castro Negrão.
“Dr. Faustino creio que os mais antigos de São José dos Campos se lembram muito dele e com saudades. Ainda nos anos 90 quando as consultas já estavam voltadas só para resultados de exames de laboratório, Dr. Faustino examinava com as mãos, sem pressa, conversava e fazia no consultório exame de radioscopia, sangue, urina etc. Homem culto, sério, capaz, teve importância em tudo voltado à saúde na cidade, cirurgião e até na política. ACHO QUE ISSO É DE FAMÍLIA! O pai Dr. Nelson d Ávila, me lembro na minha família sempre comentarem sobre ele, Sr. Nelson Geraldo d, Ávila foi um grande homem voltado para química e muito respeitado e útil na Rhodia onde trabalhei com ele. Nessa época nasceu seu filho Nelsinho, que hoje é médico e que siga exemplo da família. As irmãs de Faustino e até o cunhado outro homem que merece, mesmo não estando entre nós, o respeito dos joseenses. O querido prof. Simão foi meu professor nos anos 50, era fera na didática da matemática. Acho que devo a ele meu gosto pelas exatas.” Por Darci Daniel.
“Nossa, que fotos emocionantes, Vitor Chuster! E eu que nem sabia que você, além de ser filho do Simão (aquela doçura) era sobrinho do Dr. Faustino! Que emoção ver as fotos dele e ler tudo isso… Que medico maravilhoso… Era mesmo o médico de almas! Nunca vi ninguém ter tanta paciência com clientes… ele era uma doçura…” ❤ ❤ ❤. Por Maria Fioratti.
“Fomos grandes amigos desde quando o conheci na Santa Casa, onde foi meu 1° emprego como office boy. Meu pai fez a parte hidráulica na construção de seu CENTRO MEDICO DOUTOR NELSON D’ÁVILA na avenida 9 de Julho. O Dr. Faustino foi também o nosso médico de família dos anos 70 e 80. Que saudades!” Por Pedro Antônio Cândido.
No dia 9 de abril de 1997 era decretado luto oficial em São José pela morte do Dr. Faustino Nelson d’Ávila.
Adiciono ao final sobre os 30 anos do bloco de carnaval Engole Sapo.
Quem imaginava em fins de 1989, quando o médico e humanista Faustino Nelson D’Ávila (1926-1997) reuniu em sua casa no Jardim do Sapo alguns amigos e decidiram criar o Bloco Carnavalesco Engole Sapo… continue lendo aqui.
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Nossa, achei por acaso esta página… dois dias antes de sua morte eu fazia 10 anos e ele estava em meu aniversário… riu, conversou… tiramos fotos..
Passei muitos feriados no sítio de Jambeiro, onde pegávamos vaga-lumes, fazíamos arapucas para observar passarinhos…e colhiamos lírios… era o ponto alto da minha infância e teve grande influência na escolha da minha profissão atual…