Em 2004 fechava o Vicentina Aranha

Fechou o Vicentina Aranha (2004)

“A preocupação é preservar o patrimônio histórico. Quem garante que o prédio não amanhecerá em chamas. É necessário uma restauração, enquanto não acontece o imóvel vai se deteriorando tornando mais cara a sua recuperação. O projeto para a construção do Vicentina foi assinado pelo histórico arquiteto Ramos de Azevedo. Tornou-se um registro vivo dos grandes mestres que passaram pela cidade como: os dois filhos do escritor Monteiro Lobato, Adoniran Barbosa, Nelson Rodrigues, a pintora Djanira, Paulo Setúbal e outros nomes famosos que foram doentes aqui. O ideal é transformar o Vicentina num grande centro cultural e de lazer.” Afirma o artesão Éden Prata há cinco anos no Vicentina Aranha.

O encerramento das atividades do hospital geriátrico Vicentina Aranha causou grande revolta no seio da população joseense. No último dia 28, reuniram-se na entrada do hospital funcionários e artesãos objetivando esclarecer, motivar a comunidade sobre a restauração e preservação do prédio como espaço histórico-cultural da cidade.

SIDNEY RODRIGUES FERRER DIZ: “acho errado o fechamento do Vicentina Aranha. É acabar com o patrimônio histórico, o pior é a possibilidade da demolição para construção de espigões.”

PARA O ARTESÃO ELDER PRATA: “é uma judiação o que está acontecendo com o nosso patrimônio histórico. Infelizmente, o artesão fica sem mais um espaço e a cultura perde.”

SANDRO AGUIAR DE PAULO, FUNCIONÁRIO DESDE 1997: “sempre trabalhamos direitinho e queremos o nossos direitos. Trataram os nossos velhinhos da pior maneira e ninguém sabe para onde foram mandados.”

ANDRÉA MOURÃO, PRODUTORA CULTURAL, há nove anos trabalhando no Espaço Cultura do Vicentino Aranha dando aulas de teatro e dança de salão: “acho um espaço maravilhoso, tanto que estou defendendo como patrimônio tombado. É um hospital da década de XX, não mais preenche as normas de funcionamento da vigilância sanitária. A nossa proposta é utilizar o patrimônio tombado para educação e cultura. Dando respaldo à geriatria através da construção de um hospital fora da área tombada para atendimento dos nossos idosos. O nosso movimento luta por isso e conta com a participação dos empresários. A palavra de ordem é: Vicentina Aranha, defenda o patrimônio de São José. Hoje as portas do hospital estão fechadas, mas as do patrimônio histórico tombado não e devem continuar. Construção de espigões no local nunca, daí estarmos conclamando a população, temos que permanecer dentro do Vicentina. A partir do momento que se fecharem os portões ninguém sabe o que poderá ocorrer. Para aderir ao movimento entrar em contato pelo e-mail: andréa_mourao@directnet.com.br

Michele Matuck documenta: “Do alpendre da Estrela D’alva, a história é a gente que faz, a história a gente pertence…” Letra de Simões, música de Eduardo Rennó.

O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS ARTESÃOS de São José dos Campos, Edson Prata, se posiciona: “A situação é complicada, estão nos expulsando do Vicentina Aranha. Vejo como um processo ilegal e fica difícil entender o que move tudo isso, quem pode estar por trás. Primeiramente, deixam desmoronar uma obra assinada por Ramos de Azevedo, histórico arquiteto da década de vinte. Neste tempo de convívio com o Vicentina deu para sentir a diferença muito grande entre restaurar o patrimônio e construir um empreendimento imobiliário envolvendo cifras superiores a oitenta milhões de reais. É o que pudemos ouvir de pessoas ligadas a Santa Casa de São Paulo e das que administravam o Vicentina Aranha.

Muita gente ignora que durante a II Guerra, várias pessoas foram internadas como tuberculosos sem ser, filhos de fazendeiros. Cafeicultores famosos, usaram este artifício para impedir a ida dos herdeiros. Na época, o hospital foi até denominado abrigo de covardes. O Vicentina Aranha tem muita história que precisa ser resgatada e contada. Antes de tudo, é preciso clarear o espaço, substituir o atual muro por grades para que as pessoas parem de imaginar o local como cemitério ou de doenças incuráveis. É um patrimônio de São José dos Campos com 84 mil metros quadrados de área, inclusive com um remanescente de mata atlântica as pessoas podem visitar e usar. Quanto ao hospital geriátrico acho que deve existir em São José, principalmente em atenção aos mais velhos, em respeito ao passado, ferramenta na construção do futuro. Antes de tudo, o contato com os idosos, educa. Fiquei por quatro anos no Vicentina, inclusive lá morei um ano e meio. Presenciei muita coisa de cortar o coração que a população desconhece. Se a sociedade joseense não abraçar a causa do Vicentina Aranha será desqualificada como um todo, sem um pingo de vergonha na cara. O que é nosso não está dentro da minha casa, está no todo, a começar pelo ar que respiramos, a água que bebemos.

Andrea Mourão e Edson Prata.

Descuidar do Vicentina Aranha é adoecer o fígado da cidade, morte certa. Um patrimônio desta magnitude, encravado no centro da cidade, tem que ser preservado a qualquer custo. Não dá para aceitar um bando de forasteiros decidindo sobre nosso patrimônio. Sabemos que transformaram o Vicentina numa enorme plataforma política e temos conhecimento das aves de rapina pousadas nos telhados, piando por um empreendimento imobiliário extremamente lucrativo no metro quadrado mais caro do município. Como cidadãos gritamos e vamos ter que aguentar forte borrachada já que os interesses envolvidos são enormes, milhões de reais. O ideal é um debate aberto que envolva os diversos segmentos, autoridades, pessoas notórias em defender os interesses da cidade como a Angela Savastano, Iolanda Borgoff e outras, uma demonstração de voz da cidade. Fora disso, é ficar em mãos estranhas correndo o sério risco das mutretas por baixo do pano, gato que vai se comprovando pelo abandono progressivo. Convido os leitores a visitarem o Vicentina Aranha para comprovar o abandono, os pavilhões caindo intencionalmente. Não acredito em entraves políticos. O que presenciamos é a ação da especulação imobiliária agindo na sombra, como de costume.”

Texto por Marcos Badilho, fotos por Ricardo Faria, jornal Vale a Pena, março de 2004 (fariaricardo493@gmail.com)

Vinte anos depois sabemos que o Vicentina voltou a funcinar e atendendo muito bem a população. Veja a playlist abaixo no canal do YouTube do São José dos Campos Antigamente vídeos deste período turbulento e anteriores, celebrando os 100 anos de inauguração do espaço.
https://www.youtube.com/watch?v=5_8gumsaOyg&list=PLCLMDF_z7Hc7xU-qOOi4Fu41-ySBjxriT

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