A presença de estradas de ferro na história da maioria das cidades paulistas constituiu fator determinante nos processos de desenvolvimento, imprimindo-lhes a fisionomia urbana.
A construção da ferrovia no Vale do Paraíba encontrou a produção do café em declínio, quando as suas terras já mostravam sinais de esgotamento e instaurada a crise no mercado de fornecimento da mão-de-obra escrava diante das pressões externas e dos movimentos republicanos abolicionista. Todavia, a importância da ferrovia no Vale é acentuada ao favorecer a comunicação entre as duas já principais cidades brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.
No século passado, no período de maior riqueza da região, São José dos Campos não se afirmou como um município produtor de café, havendo sua produção permanecido em níveis modestos.
Inaugurada em 1877, a ferrovia não foi capaz de reverter a situação. Contudo, algum progresso foi obtido, possibilitando a cidade se afirmar como um centro polarizador de uma vasta área agrícola.
A cidade expandiu-se, alargando em muito os limites acanhados do antigo aldeamento jesuítico (conservado durante toda primeira metade do século XIX), passando a ocupar ampla porção da colina tabular que se eleva sobre as áreas de várzeas por onde passa o Rio Paraíba do Sul.
Em sua expansão a cidade aproximou-se da via férrea, ali trazendo o comércio, e em seu rastro, as residências.
Vindo de Jacareí, cidade implantada às margens do rio Paraíba, a ferrovia perseguiu as várzeas e, após a divisa do município de São José dos Campos foi construída a Estação Ferroviária do Limoeiro, inaugurada em 1894.
Passando a Estação do Limoeiro, a ferrovia continuou na várzea seguindo em direção à São José dos Campos. Cruzando o ribeirão do Vidoca, iniciou a subida à colina, abandonando o rumo que se mostrava mais fácil e, na direção aproximada da atual Av. Anchieta, galgou a escarpa, alcançando o altiplano no ponto próximo a atual confluência da Av. São João com a Av. Nove de Julho.
Nesta privilegiada área foram implantadas a principal estação do Município, armazéns, terminal de cargas e escritório da Companhia. Seguindo, os trilhos retornaram ao traçado que se mostrava natural, deixando o platô e retornando à várzea.
A partir da construção da Estação do Limoeiro, ao seu redor formou-se um aglomerado de pequenas casas. Do lado esquerdo da estação foi construído uma escola e, do lado direito uma pequena edificação que abrigava o banheiro da estação.
Com o passar do tempo, a escola e o banheiro foram demolidos e as várias intervenções realizadas na estação desfiguraram a construção original.
Após a construção da Rodovia Presidente Dutra, aos poucos a estação foi desativada, e a partir daí, serviu de alvo de depredações. Em 1996, já em estado avançado de deterioração, o edifício foi preservado por lei municipal como Elemento de Preservação Nível 1 (EP-1).
A edificação apresenta sua fachada principal orientada para o lado da linha férrea e foi construída sobre uma plataforma, para possibilitar o embarque e desembarque. Apresenta em suas fachadas laterais duas grandes janelas, utilizadas para melhor visualizar a chegada dos trens. Localizada em uma grande área plana, favorecia a visibilidade da extensão da linha férrea.
Com características da arquitetura ferroviária do final do século XIX, suas paredes são de alvenaria de tijolos, que nesta época veio substituir a taipa de pilão muito usada na região. Além dos tijolos, outras inovações construtivas, importadas e vindas através da ferrovia, foram utilizadas nesta estação.
O telhado em duas águas, com um beiral que cobre a plataforma, expõe a mão francesa feita em madeira aparelhada. As telhas utilizadas eram do tipo francesa, com melhor encaixe que as telhas capa e canal produzidas com evidente irregularidade.
Observa-se uma ornamentação padrão, utilizada em muitas estações da região: cornijas e molduras feitas com massa, sempre contornando a parte superior das janelas e portas, além de um frontão nas laterais. Embaixo da cornija, encontramos o nome da estação, também contornado por uma moldura.
Devido às intervenções realizadas sem critérios durante a existência do edifício, algumas aberturas foram feitas na lateral e fundos, além da modificação de algumas paredes internas e o fechamento do guichê.
A estação se mostra como uma referência da chegada de novas técnicas construtivas ao Vale do Paraíba no final do século XIX, influenciando a arquitetura da região, que até então utilizava mão-de-obra escrava e tecnologia rudimentar.
Localização por foto aérea
Desenho detalhando a Estação Ferroviária do Limoeiro
Vídeo
Abaixo um carrossel com 59 fotos externas e internas da Estação Ferroviária do Limoeiro de 2004
(passe as imagens para as laterais esquerda ou direita)
Endereço: R. Carlos Marcondes, s/n – Limoeiro
Denominação: Estação Ferroviária do Limoeiro.
Localização: Rua Carlos Marcondes s/ n°, Bairro do Limoeiro.
Uso Original: Estação Ferroviária.
Uso em 2005: Desativada.
Área construída: 51,60 m2.
Construção: 1894.
Autor do Projeto: Desconhecido.
Construtor: Desconhecido.
Preservação: Instrumento Legal conforme Legislação Municipal de Patrimônio: Lei n°4.943/96, de 19 de setembro de 1996.
Categoria de Preservação conforme Legislação Municipal de Patrimônio: EP-2.
Restauro: 1998 – Colocação de telhas na cobertura da estação realizada sob a orientação do Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Documento referente ao tombamento das estações ferroviárias do município
L E I N° 4943/96 de 19 de setembro de 1996
Dispõe sobre a preservação de edifícios que especifica, remanescentes à implantação das estações ferroviárias no Município de São José dos Campos.
A Prefeita Municipal de Campos, faz saber que a Câmara Municipal aprova e promulga a seguinte lei:
Art. 12. Ficam incluídos na categoria Elemento de Preservação EP-2, nos termos da Lei Municipal N2 3021, de 27 de setembro de 1985, os edifícios remanescentes à implantação das estações ferroviárias no Município de São José dos Campos.
Art. 22. O EP-2 descrito no caput do artigo anterior abrange os edifícios:
I – Estação Ferroviária de São José dos Campos , constituída pelo imóvel de inscrição imobiliária N° 20. 099.003.001, localizado à rua Silvino Guedes, S/N°, Vila São Paulo;
II – Estação Ferroviária de Eugênio de Melo, constituída pelo imóvel de inscr1çao imobiliária N° 54.026.001.003, localizado à praça Emília Molina, N2 87, Distrito de Eugênio de Melo;
III – Estação Ferroviária do Limoeiro, constituída pelo imóvel de inscrição imobiliária N° 99.099.050.918, localizado à rua Carlos Marcondes S/N2, bairro do Limoeiro;
IV – Estação Ferroviária Martins Guimarães, constituída pelo imóvel localizado à estrada municipal Martins Guimarães, Fazenda Santa Helena, próximo aos números 2.971 e 2.981, registrado como patrimônio da Rede Ferroviária Federal sob o N° 3.204.503.
Art. 3° Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4° revogam-se as disposições em contrário.
cont. da LEI N° 4943/96 – fls. 02
Prefeitura Municipal Campos, 19 setembro de 1996.
Angela Moraes Guadagnin – Prefeita Municipal
Nadia Somekh – Secretária de Planejamento e Meio Ambiente
Wladimir Antônio Ribeiro – Secretário de Assuntos Jurídicos
Registrada na Divisão de Formalização e Atos da Secretaria de Assuntos Jurídicos, aos dezenove dias do mês de setembro do ano de hum mil novecentos e noventa e seis.
Fortunato Júnior – Divisão de Formalização e Atos
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Texto, fotos e computação gráfica realizados pelo arquiteto e professor Fabio de Almeida para o projeto “Patrimônio Arquitetônico de São José dos Campos” por meio da Lei Complementar 094/93 de 13/12/93, do Município de São José dos Campos-SP, no ano de 2005. Copyright © Fábio de Almeida
Fotos e vídeos complementares reunidos por Wagner Ribeiro.
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