Todo dia ao passar pelo Jardim do Gregório (Praça Afonso Pena) ouvia alguém a lhe dizer:
“Que absurdo! Veja o que fizeram com o busto do doutor Nelson!” (Silveira d’Ávila).
E o já renomado médico Faustino Nelson d’Ávila, olhando o busto de seu pai pichado, ficava calado, mas envergonhado.
“Fale com o prefeito, doutor Faustino! O senhor é importante, ele vai lhe atender!”
Por constrangimento não falava. E o tempo passava e nada acontecia.
Até que um dia não aguentou mais!
De madrugada, Faustino pegou um balde com água, pano e sabão, saiu de sua casa no Jardim do Sapo (Praça João Mendes) e sem que ninguém o visse lá foi limpar o busto de seu pai.
No dia seguinte ao passar pela praça ouvia ainda calado mas aliviado:
– “Até que enfim, doutor Faustino, o prefeito mandou limpar o busto de seu pai!”
Assim era o médico Faustino Nelson d’Ávila. Passou a vida inteira procurando remover as situações que preocupam e incomodam as pessoas, sejam males físicos e mentais ou mesmo os males sociais e políticos.
Nunca se omitiu diante da situação que julgasse injusta para o cidadão ou para a sociedade.
Primeiro joseense formado em medicina (pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro), segundo o também renomado joseense médico Rubens Savastano, a se radicar em São José dos Campos, em fins da década de 40. E, como seu pai, o republicano Nelson d’Ávila, não admitia usar de seu prestígio pessoal para integrar o filho em sua equipe médica no Sanatório Vicentina Aranha, o jovem médico Faustino d’Ávila ingressou na equipe do outro “monstro sagrado da medicina joseense” na época, o democrata Ruy Rodrigues Dória, no sanatório do mesmo nome, adversário político de seu pai.
E assim, sempre por esforço próprio, começou e forjou sua notável carreira médica.
Um profissional liberal. Dirigindo equipes médicas em instituições hospitalares comunitárias, combatendo a comercialização da medicina (liderou a fundação da Unimed Cooperativa de Serviços Médicos), mas mantendo seu próprio consultório onde uma simples consulta era um verdadeiro check-up (com direito a radioscopia, exames laboratoriais, além de uma análise psicológica). Atraia clientes de todo o País e até do Exterior.
Exemplo de ética médica. Nunca deixou ninguém sem atendimento e atenção!
Já realizado como médico e merecedor de gozar uma justa aposentadoria, Faustino não teve dúvidas em dividir suas atividades com uma intensa participação junto aos movimentos sociais e políticos.
Nos tempos duros e difíceis da ditadura, indo às portas de fábricas defender operários contra a violência policial. Integrando caravanas para clamar pela educação e valorização dos professores. Participando de assembleias estudantis, pelo ensino público e gratuito. E até ajudando a organizar partido político e saindo candidato a prefeito. Uma anticandidatura, a exemplo do saudoso Ulysses Guimarães e de Barbosa Lima Sobrinho, combatendo a corrupção e a injustiça.
“A experiência traz a melhor apreciação da gravidade dos momentos. (…) A necessidade de atuar é até uma questão de autodefesa e de tendência humana. (…) Num País onde não se pratica a justiça é impossível haver harmonia social. (…) As doenças mais graves do cidadão são o medo e a vergonha de se expor.”
Morreu o médico Faustino Nelson d’Ávila, aquele que venceu o medo e a vergonha e se tornou um exemplo de cidadão! (1997)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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