Benedita Vicentina Miragaia Mendes, apelidada de Jaú, professora, diretora e ex-jogadora de basquete da seleção brasileira na década de 1950, nasceu em 05/08/1927 e faleceu em 29/05/2021 deixando muitas saudades aos seus contemporâneos. Infelizmente, as gerações mais recentes carecem de maiores informações sobre ela, e sabemos que é muito fácil cair em esquecimento. Aqui você verá importantes registros de quando ela e a delegação brasileira esteve no Peru na década de 1950, quando conquistaram o quarto lugar na competição.

Saiba mais sobre ela no site do Museu do Esporte clicando aqui.

Uma jogadora de basquete do Brasil, Jaú, aquele dos “olhos terríveis” fala com “La Crónica”

Hoje pela manhã fomos visitar a seleção brasileira representativa no III Campeonato Sul-Americano de Basquete Feminino. Chegamos na porta e avançamos quatro degraus, não conseguimos continuar. Havia dois olhos verdes que nos pararam. Aquelas duas esmeraldas estavam “engastadas” num rosto moreno, com cabelos castanhos e dono de um sorriso que nos dizia: “Eu sou Jaú”. Foi difícil para nós reagir. Era a Ferrari – outra garota linda, aquela que nos tirou da nossa admiração muda. Jaú, se levanta, estende a mão para nós, nos senta ao lado dele e já estamos em plena e agradável conversa. De repente ela nos diz: Mas você não me faz perguntas? -Não.

–Mas sobre o que você vai escrever? -Muito simples, pelo que aprendemos.

–Jogo basquete há quatro anos no São José Tênis Clube, tendo jogado em todas as posições. Como eu gosto de basquete! Tanto quanto a profissão que tenho. Você sabia que sou professora de crianças?

Estela, a grande jogadora do time, chega justamente quando Jaú, pronuncia “sou professora de crianças” e eu, Estela diz: “Professora de amor”. veio com eles.

A vitrola do hotel tocava zamba. Todos começam a entoá-la, mas os olhos de Jaú, aqueles terríveis olhos verdes, suavizam-se e perdem-se num olhar que parece alcançar o Atlântico.

Saudades?

“Sim, muitas saudades. Tenho namorado.” Diz-nos, mostrando-nos um anel que usa pendurado numa corrente de ouro que lhe adorna o pescoço. Como se precisasse! onde lemos Cláudio, Cláudio Faleo Méndez, grande jogador de basquete, pertencente ao time que conquistou o campeonato paulista três vezes consecutivas.

Boa sorte ao Cláudio!

Nicanor Arteaga, dirigente do Atlético Bilis, chega ao Hotel e gentilmente convida as meninas para um passeio em direção ao centro da cidade. No carro estão Jaú, Ferrari, Estela e Lola, se distraindo e perguntando sobre cada um dos lugares por onde passam. Em coro dizem: “Passamos por Orrantia, o Bosque de los Olivares, San Isidro, Miraflores. Que maravilha! Lindas flores, lindas mulheres…
Jornal La Crónica, década de 1950

As brasileiras deram um show de simpatia

Jogadoras representantes do Brasil e da Bolívia revelam o espírito que no “Hotel Lima” confraternizam e discutem com animação sobre o próximo Concurso de Basquete.

A Federação Brasileira de Basquete que participará do Campeonato Sul-Americano Feminino presenciou a partida entre Fluminense e Alianza Lima. Após a apresentação, os atletas atlânticos ficaram na preferência baixa e logo que o jogo começou as suas canções e gritos animaram as equipas, conquistando a sua simpatia e sendo continuamente aplaudidas. Os locutores das rádios que transmitiram a partida competiram com as emissoras brasileiras, para que cumprimentassem os ouvintes da rádio. Outro disse que estava indo para o hotel. onde os brasileiros estavam hospedados, e que um deles havia “atirado” nele.
La Prensa, 27 de março de 1950

Benedicta Vicentina Miragaia com vocês…

O que a simpática jogadora brasileiro nos contou:

Faltam apenas três dias para o início do III Campeonato Sul-Americano de Basquete Feminino, tão entusiasticamente organizado pela Federação Nacional da modalidade.

Para isso, chegaram hoje à nossa capital as delegações da Bolívia e do Brasil, embaixadas formadas por simpáticas e belas atletas. Poucas vezes tivemos o prazer de receber jogadoras que demonstram tanta alegria como as representantes brasileiras. É o momento em que pararam de cantar. No desejo de transmitir aos nossos leitores as impressões de algumas das meninas que irão se apresentar no concurso que deve começar na quinta-feira, dia 30, às 21h, na Praça de Acho, iniciamos hoje uma série de reportagens.

A nossa visita ao Hotel Lima

Para cumprir nossa missão, um de nossos editores dirigiu-se ao “Hotel Lima”, onde estão hospedadas as delegações boliviana e brasileira; Francamente, não tínhamos uma pessoa designada que fosse o alvo das nossas perguntas.

Na porta do referido hotel estava uma moça simpática, ela cantarolava uma música brasileira. Percebemos imediatamente que ela era uma digna representante do país atlântico: Linda, com lindos olhos verdes e uma risada feliz que convidativa.

“Estou muito feliz por estar em Lima!”

Jaú, Benedita Vicentina Miragaia, disse estar muito feliz em encontrar esse país lindo, Lima é muito legal e espero conhecer tudo. Sou professora há dois anos em uma escola em São José de e Santos, estado de São Paulo. Dou aulas para crianças. Jogo no Tênis Clube, o tênis é meu esporte preferido mas também pratico basquete com muito carinho, sou promovida depois de ter dado a honra de representar meu país nesta grande competição.

-Estamos em condições físicas e esperamos a hora de intervir, para oferecer aos torcedores peruanos a excelência do nosso jogo. Tenho certeza de que teremos um bom desempenho.

-Como aprendi, os bons jogadores bolivianos formam um time com possibilidades de sucesso, mas tenho certeza que quando estivermos em quadra levaremos a melhor.

É a nossa vez de jogar, vamos oferecer um jogo muito disputado. Tenho referências muito boas de mulheres argentinas, chilenas e peruanas.

Estou namorando um campeão de basquete do meu país e espero voltar em breve para contar a ele minhas impressões sobre esta terra maravilhosa. Com esta última pergunta fomos obrigados a encerrar a teleconferência com tanta simpatia, deixamos ela cantarolando um samba…
La Prensa, 27 de março de 1950

Não foram só os lidos olhos de Jaú que conquistaram as quadras, sua grande habilidade esportiva teve grande destaque por onde passou. Fica aqui a homenagem à ela, esta grande joseense que deixou saudades…

Traga sua história para ser contada!
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