Lojas Savi e a vida do sr. Saul Vieira

O nome SAVI vem de Saul Vieira que era mascate, e antes de abrir sua loja SAVI, vendia roupas em uma bicicleta, pelas ruas da cidade. Um pouco da história dessa rede de lojas pelos próprios moradores de São José dos Campos.

Saul Vieira ficou em São José dos Botelhos (MG) até a era fazendeiro e tinha boas condições financeiras, mas por problemas políticos teve que deixar aquela região. Mudaram-se para São José do Rio Preto (norte do Estado de São Paulo).

O pai começou a plantar uvas e a vender vinho, e Saul foi obrigado a arranjar um emprego para ajudar a família. Acendia e apagava os lampiões de gás da cidade, tarefa que gostava de relembrar em histórias para seus filhos.

Meu pai sempre contava esta e outras histórias interessantes. O pai dele adorava passarinhos e tinha dezenas de canarinhos em gaiolas espalhadas ao redor da casa. Quando ele morreu, minha avó decidiu soltá-los. Abriu as gaiolas mas eles não foram embora. Saíram das gaiolas e ficaram nas árvores do quintal.” (Fortunata Vieira)

Mais tarde, Saul passou a trabalhar no comércio de São José do Rio Preto como empregado, até que conseguiu capital para se tornar mascate e vender suas próprias mercadorias.

Depois, ele morou em Tanabi (noroeste do Estado de São Paulo), onde continuou a comercializar tecidos e outras mercadorias como mascate até 1945.

Em Tanabi, tínhamos uma chácara, onde meu pai plantou laranjas e bananas que eu e meu irmão Geraldo, vendíamos nos bares e armazéns da cidade. Minha mãe colocava as bananas embaladas em jornal, dentro de barris com data para serem abertos exatamente quando estivessem no ponto.“(Fortunata Vieira).


Abaixo os famosos textos veiculados nas rádios:


“Na Savi, Savilar e Savi 3 em São José e região todo mundo é freguês!”

“Savi, Savilar e Savi 3. Agora você compra tudo em 3X sem juros e sem entrada. Savi, Savilar e Savi 3, em 2 endereços No Calçadao da Rua 7 e na Siqueira Campos!”

“Savi Modas, Savi Lar e Savi 3, São José e região, todo mundo é freguês. Televisores, dormitórios, geladeiras. E o show room da Savi Lar tem muito som, A Savi III é na Siqueira Campos, Savi Lar e Savi Modas, ficam lá no calçadão. Nas lojas Savi tem muita facilidade, aproveite o credi Savi que é o mais fácil da cidade!”

Ouça uma das propagandas de rádio:

Depoimentos

“Eu fui o ganhador da Gincanela ( gincana com a participação utilizando bicicleta ) em 1976, patrocinado pela SAVI, ganhei uma Caloi 10 lançamento e uma TV colorida Colado RQ entregue pelas mãos do humorista Teobaldo do programa A Praça é Nossa. Foi uma festa!” Por Luiz Claudio Licurci.

“Quando viemos para São José no ano de 1960, alugamos uma casa e compramos sofá e outras coisas mais na Loja Savi, cujo proprietário era o sr. Saul Vieira. Eu o conheci pessoalmente.” Por Fernando Cipresso.

ATRÁS DO BOM CLIMA

As atividades de Saul em Tanabi foram interrompidas pela tuberculose, em 1945. A doença o forçou a vir para São José dos Campos, a procura de um bom clima e tratamento para se curar. Aqui, passou a morar numa pensão e a se tratar com o dr. Soares. Sua mulher vendeu algumas propriedades que tinham em Tanabi, deixou outras sob os cuidados da filha Fortunata, que havia se casado e morava na cidade, e veio com os outros filhos para São José dos Campos, um ano depois.

Apesar de Letícia não gostar da cidade, a família decidiu ficar. Saul recomeçou a vida, vendendo de casa em casa, pedalando sua conhecida bicicleta, até que conseguiu fundar, em 1955, a Saul Vieira & Filhos, na rua Sete de Setembro 310, tendo como sócio o filho Heitor.

A sede própria da loja de Saul, denominada Savi (a união das duas primeiras sílabas de seu nome completo) foi fundada em 1960, na rua Sete de Setembro 261. Ele vendia móveis, eletrodomésticos e roupas prontas. A Savi foi pioneira na implantação de crediário com carnês. Saul Vieira também teve a Loja Leonan, de máquinas de costura, que foi fechada em 68. Em 69, Saul inaugurou mais uma loja, em prédio próprio, na rua Sete de Setembro 170. Era a Savi Modas, de roupas prontas. Em 72 foi inaugurada a Savi-3, de móveis e eletrodomésticos, na rua Siqueira Campos 24.

Objetos…


“Minha mãe dizia que comprava roupas do Saul Vieira, quando ele vendia roupas em uma bicicleta”. Por Jacira Abreu.

“Trabalhei na Savilar por 2 anos , desde sua inauguração. Era comandada pelo filho do sr. Saul Vieira, o saudoso Heitor Vieira.” Por Carlos Alberto Andrade Valladão.

“Tenho uma boa lembrança de quando menino, via o sr. Saul Vieira fundador das lojas SAVI, ir na rua em que eu morava, de bicicleta, vender roupas. Minha mãe foi uma das primeiras freguesas dele. Depois abriu uma pequena loja na antiga rua Sete de Setembro, quase esquina com a Cel. Monteiro.” Por José Carlos.

“Eu desfilando no Sesc pela Savi Modas, com um grupo formado pelo curso da Helen Dorian. Nesse dia a Xuxu também desfilou. Essa foto saiu no Jornal Valeparaibano.” Por Rosane Branco.

FOGO NO COLCHÃO

“Meu pai sempre foi comerciante, levando suas mercadorias em cestos colocados no lombo de um cavalo. Ele visitava as fazendas e fazia escambo, trocando seus produtos, por galinhas e ovos, que embalava em palha de arroz e vendia também. Em 47, já curado, ele começou a trabalhar no mesmo sistema, só que fazia suas vendas a pé ou de bicicleta. Em 1950, meu irmão Heitor, que era mecânico, se associou ao meu pai e compraram um Ford 36 para transportar as mercadorias. Dois anos depois, meu pai, após uma discussão com minha mãe que queria uma rigorosa organização e limpeza no seu quarto, resolveu colocar fogo no colchão de capim que estava muito velho. Distraído, esqueceu-se do velho costume de guardar dinheiro no colchão e queimou todas economias da família”. (Rui Vieira)


“Em 1998 comprei uma cama de solteiro com colchão lá, com o vendedor Dimas, muito amável (ele era deficiente físico).” Por Edivana A. Amaro.

“Tem um amigo que foi vender caixas acústicas para o “Seu Saul” na década de oitenta, ele tinha uma fabriqueta no Jardim Paulista, as caixas eram bonitas e bem acabadas, o Seu Saul gentilmente o atendeu e gostou das caixinhas e ofereceu um café ao cara e assim que o café chegou ele fez o pedido; Manda 600 caixas deste modelo mais 400 deste modelo, o cara levou um susto e não conseguiu fazer o pedido e pediu ao Seu Saul que anotasse porque que ele estava muito nervoso, pois nunca havia feito uma venda deste porte. Causos da Savilar…” Por Nelson Oliveira.

SOLIDARIEDADE NO ROUBO

Um sábado, ao chegar de Caçapava, onde tinha ido ver minha namorada e futura esposa, passei pela loja, notando que a sua porta estava entreaberta. Não dei muita importância ao fato, pois naquela época não tínhamos os problemas de hoje e era costume não se trancar portas. No dia seguinte, quando meu pai saiu para ir ao mercado, passou na loja e viu que ladrões tinham levado todo o estoque. Foi muito difícil, mas o episódio serviu para mostrar o prestígio e as amizades que ele tinha na cidade. Muitas pessoas foram levar solidariedade e clientes se adiantaram em pagar suas contas marcadas na caderneta para ajudá-lo a renovar o estoque“. (Rui Vieira)


“Minha mãe também comprava roupas, quando ele trazia as malas de bicicletas… Meus pais compraram todo meu enxoval nessa loja, e depois que me casei também comprava, inclusive tenho até hoje um espremedor de frutas comprado na Savilar, e ainda funciona! Por Maria Fátima de Souza.

“O Saudoso Mágico Felix Conhecido também como Mister Houdini trabalhou Nessa loja como letrista e propaganda, por muito tempo…” Por Carlos Mr. Carambola.

GOLPE DO TERRENO

“Minha mãe queria morar em São Paulo. Nós morávamos do lado da rua Floriano Peixoto, que era uma espécie de linha divisória na cidade, onde estavam as pensões, os sanatórios, a cidade doente. Do outro lado, do lado do banhado, estava o comércio, os fazendeiros, a cidade sã. Por isso minha mãe queria se mudar, preferia ir para São Paulo.

Para agradá-la, meu pai pegou o que restava da venda de sete casas que possuía em Tanabi, vendidas para pagar seu tratamento, e comprou um terreno na capital. Só que o terreno também era grilado e meu pai acabou perdendo o dinheiro que, com muito sacrifício, havia juntado até aquela data.” (Rui Vieira)

“O Saul Vieira & Filhos é um exemplo a ser seguido de honestidade, trabalho e sucesso. Para chegar onde eles chegaram não precisaram roubar… Me lembro do Sr.Saul com duas malas em Santana vendendo de porta em porta…” Por Herminia M. F. Mauad.

“Meu segundo trabalho na cidade foi de auxiliar de crediário nas lojas Savilar, onde hoje funciona a loja “Seller”. Entrei lá esses dais e deu uma saudade… Depois trabalhei na “Savi 1”, onde fica hoje a loja “Ivis”. Alguns amigos de lá tenho contato até hoje 21 anos depois.” Por Cíntia Fernandes Da Cruz.

“Tenho 44 anos e na adolescência fui trabalhar na área administrativa das Lojas Savi. Os amigos de SJC, que faziam faculdade em Mogi das Cruzes comigo, brincavam muito, tomando pra tanto empréstimo da poética de Djavan – E lá vinham pra mim – Savilar – as esquinas por que passei.. Savilar… Daí pergunto, quem lembra do jingle: Savi modas, Savilar, Savi3, São José e Região, todo mundo é freguês! Televisores, dormitórios e geladeiras E o Showroom da Savilar tem muito som…” Por Consuelo Ivo.

A loja Leonam foi a primeira loja de máquina de costura, aparelho de som e televisão, ficava onde hoje é loja Casa da Sogra no Calçadão, na década de 1950, passando posteriormente a se chamar SAVILAR. Na foto, o sr. Saul Vieira e Vera Lucia Vieira.

Saul Vieira, sua esposa Letícia e os 3 filhos.
Ao centro, Terezinha e Rui Vieira.

Saul Vieira nasceu em 17 de novembro de 1901, em São José dos Botelhos (MG). É filho de Higino de Paula Vieira e Emília Augusta. Casou-se com sua prima, a mineira Letícia de Moraes (a mãe de Letícia, Fortunata, era irmã da mãe de Saul). Tiveram cinco filhos: Fortunata, Geraldo, Maria Aparecida, Heitor e Rui. Saul Vieira morreu um dia antes de completar 76 anos, em 16 de novembro de 1977, em São José dos Campos.

Histórico extraído do livro São José dos Campos o Comércio e o Desenvolvimento de 1994, doado ao São José dos Campos Antigamente pelo presidente do Sincomércio (Sindicato do Comércio Varejista) José Maria de Faria.

Na história da Savi, um pouco do comércio joseense

Há 32 anos comercialmente estabelecido e com um faturamento que representa 7 % do comércio em geral, três lojas e 120 funcionários, a Savi é um destaque do comércio de São José dos Campos. Especializada em roupas, eletrodomésticos e móveis é uma das poucas lojas do ramo a ser genuinamente joseense.

O seu projeto começou a ser esboçado dez anos antes de sua inauguração, quando Saul Vieira veio para cá, em 1945, em busca de tratamento médico. Com o sucesso do tratamento e tendo encontrado São José o clima propício, Saul deixou, juntamente com família, a cidade em que residia, Tanabi, para se tornar definitivamente um cidadão joseense.

Em São José dos Campos, continuou em seu ofício anterior, vendedor, e, aos poucos, foi formando uma clientela,

Começou, principalmente, com a venda de ampliações retocadas de fotografias e, mais tarde, com o comércio ambulante, entregando, de bicicleta, as mercadorias encomendadas.

Nesta época, São José encontrava-se dividida: de um lado estavam os moradores da cidade e do outro os que vieram para cá por problemas de saúde. O relacionamento entre eles era difícil, pois, como conta Rui Vieira, filho de Saul, “não queriam se misturar”.

A solução para a família Vieira foi uma pensão onde moravam com outras pessoas que encontraram a cura em São José dos Campos e foi em um dos quartos que Saul montou uma lojinha, passando a vender as mercadorias em casa.

Finalmente, em 5 de junho de 1955, um sábado, foi inaugurado o primeiro estabelecimento comercial da família, que primeiramente chamou-se Loja do Saul Vieira, mas, em seguida, transformou-se em Savi, as iniciais do nome do fundador.

Rui Vieira e Saul, durante a inauguração da Savi 3, em 2 de julho de 1974.

Nestes 32 anos da inauguração da Saul Vieira & Filhos Ltda, Rui registra três crises marcantes na empresa. A primeira quando da mudança para o prédio onde atualmente fica a Savilar, ocasionada pelos gastos com a construção. A segunda, em 84, foi a gota d’água de uma crise nacional iniciada em 83; uma época em que as vendas diminuíram em 1/3 do normal, ocasionando a demissão de metade dos funcionários. E, este ano, uma crise em geral, mas que não chegou a atingir a empresa tanto quanto a de 84, não havendo necessidade de demissão. Para Rui, “as vendas diminuíram .principalmente por levarmos em consideração o ano de 86“. Rui não tem dúvidas que São José dos Campos é o centro comercial do Vale do Paraíba. “Há até dez anos atrás, São José era uma grande cidade industrial, mas o comércio não acompanhava o progresso. A partir de então as coisas mudaram, com a inauguração de quase uma loja por dia e, mais recentemente, o shopping“. Analisando o CenterVale Shopping em relação aos demais comércios, Rui não vê nele um concorrente. “A maioria da clientela do shopping comprava em São Paulo. Quem compra no shopping, já não comprava em São José, pelo menos não aqui no centro. Além do mais. o shopping atrai visitantes de toda a região que depois darão uma passadinha pelo centro da cidade“.

Com o grande número de indústrias que, segundo Rui, garante um salário médio dos mais elevados do Brasil, São José dos Campos possui um público consumidor em potencial. Para ele, a desvantagem, comercialmente falando, está no fato de São José ser “uma cidade dispersa e sem um centro comercial. O comércio está espalhado pelos bairros e a aglomeração facilitaria e melhoraria as vendas“.

Ao ser questionado sobre alguma característica peculiar do comerciante e do comércio joseense, Rui diz que comerciante é igual em todo lugar, mas o comércio possui característica própria: “Em São José dos Campos, 85% das lojas não têm sua matriz aqui na cidade. Os responsáveis pelas lojas são os gerentes e não os proprietários, isso faz com que não criem raízes, podendo, de repente, se mudar“.

Mas se o problema é raízes, Rui deixa bem claro o quanto gosta da cidade e que pretende continuar nela por muito, muito tempo.
Jornal Perfil Mulher, julho de 1987

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One comentário em “Lojas Savi e a vida do sr. Saul Vieira

  1. O Ford que seu Saul comprou foi meu pai Adhemar Prisco que vendeu para o Heitor. Esse carro foi levado à oficina do Heitor, que ficava na Rui Barbosa, em 1953, por ter sido capotado na via Dutra, com toda família dentro, que felizmente nada sofreram.

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