Memorial da Liberdade

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) inaugurou o Memorial da Liberdade, em local apropriado: o restaurado e antigo prédio do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS), no Largo General Osório no 66, extinto em 1983 por decreto do inesquecível governador Franco Montoro (PMDB/PSDB). minha avó para visitar o Santuário de Aparecida e tirar Projetado por Ramos de Azevedo, em 1914, como estação ferroviária, o edifício de arquitetura refinada passou a abrigar, em 1924, o órgão de repressão policial criado para conter a crescente agitação sindical e política da época. Dali, em andar de acesso proibido até para os demais integrantes do órgão, o delegado Sérgio Paranhos Fleury comandava as atividades do “Esquadrão da Morte” e a mais cruel repressão aos combatentes da ditadura de 64.

As mostras “Intolerância”, de Siron Franco; “Cidadania: Declaração Universal dos Direitos do Homem”, de diversos artistas plásticos; e “Cotidiano Vigiado Repressão, Resistência e Liberdade nos Arquivos do Dops 1924-1983”, com imagens e documentos conservados no Arquivo do Estado, abertas à visitação, demonstram bem a importância que poderá adquirir este novo espaço de arte e cultura.

O Memorial da Liberdade, através de manifestações artístico-culturais e educativas, contribuirá para que a atual e as futuras gerações valorizem, de tal forma, a democracia que descartem os regimes ditatoriais como “solução fácil”, para os problemas enfrentados pelo Brasil.

Acompanhei a inauguração do Memorial da Liberdade. Percorrendo suas instalações, tive oportunidade de rememorar os dias e noites que ali passei no período de 1964 a 1976. Inclusive a cela em que estive preso, por duas semanas em agosto de 1964. Lembrei dos dois primeiros dias em que me repugnava a comida servida pela carceragem e que nem o vaso sanitário aceitava a não ser depois de insistentes descargas.

A única objeção que faço em relação à restauração do prédio do Dops é que eliminaram as inscrições e desenhos das paredes das celas. Na cela em que fiquei, por exemplo, além dos nomes de pessoas que ali também estiveram presas como Roberto Freire (o psicólogo), Jamil Almansur Haddad (o poeta) e outros, havia também a inscrição de uma frase erroneamente atribuída a Pitigrilli: “Aos vencedores, as batatas!”, Que na verdade é de Machado de Assis.

No final, não tive dúvida, fui comer o suculento filé do Moraes, na praça Júlio de Mesquita, para esquecer, pelo menos no momento, aqueles dias terríveis sofridos pela brava gente brasileira. Viva a democracia!
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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