Euclides Miragaia ainda hoje é lembrado pelos seus familiares como o “tio Clidinho”, maneira carinhosa de se referirem a um dos quatro primeiros paulistas a tombarem pela Constituição em 1932. Miragaia tem sua memória reverenciada em São José dos Campos como um herói da cidade e, também, de todo o Vale do Paraíba.
A galeria das personagens históricas do Vale do Paraíba também tem a marca da juventude, através do exemplo de Euclides Miragaia, um estudante de 21 anos, morto nas manifestações de rua que antecederam a Revolução de 32 em São Paulo.
Euclides estudava Direito na capital paulista quando crescia o movimento popular exigindo de Getúlio Vargas o respeito à Constituição e ao Estado de Direito. Os estudantes, juntamente com outros segmentos da sociedade civil engajaram-se na luta democrática, participando ativamente de comícios e demais manifestações. Numa delas, a 23 de maio de 32, Euclides foi morto, juntamente com Martins, Dráusio e Camargo.
Euclides Bueno Miragaia tem o seu nome indissoluvelmente ligado à Revolução de 32, porque um M da sigla MMDC é o seu próprio sobrenome, Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, os quatro jovens sacrificados pelas balas da ditadura em 23 de maio de 1932, quando o povo paulista pedia nas ruas o respeito à Constituição e ao Estado de Direito. Nascido em São José dos Campos a 20 de novembro de 1910, Euclides Miragaia estudava em São paulo em 32, quando os estudantes, juntamente com outros segmentos da sociedade, participavam das grandes manifestações pela Constituinte. A matança de 23 de maio foi o estopim para a Revolução, que eclodiu a 9 de julho.
Em meio a grande comoção popular, Euclides Miragaia foi sepultado em São José dos Campos, de onde seria trasladado em julho de 54 para o Mausoléu do Ibirapuera, onde estão sepultados os heróis de 32.
Os familiares de Euclides Miragaia ainda guardam lembranças suas, entre as quais sua carteira, de identidade, que estava com ele quando foi morto e na qual se veem ainda as manchas de sangue escorrido das perfurações a bala.
No Cemitério Municipal de São José dos Campos, onde era o túmulo de Euclides Miragaia, foi erigido um monumento, com a bandeira paulista em pastilhas e um epitáfio escrito pelo coronel Peguy:
“Queira Deus colocar num prato de balança
umas gramas de terra que ele tanto amou
um punhado de terra deixado em herança aos que ainda ficaram, pelos quais lutou”.
Valeparaibano, 30 de agosto de 1981
“Minha” estátua em São José dos Campos
Hoje, beirando os setenta, moro aqui na mineira Cataguases, minha terra natal. Mas, no final de 1980, o extraordinário Joaquim Bevilacqua era Prefeito da paulista São José dos Campos (onde nasceram meus quatro filhos) e eu seu assessor especial. Recebi dele a incumbência de providenciar a construção, naquela importante cidade do Vale do Paraíba, de um monumento em homenagem aos pracinhas brasileiros/FEB/Segunda Guerra Mundial.
Encarei o desafio e caí em campo. O escultor escolhido para criar a estatueta foi um senhor italiano de nome José Bonetti, que na época beirava os 90 anos de idade e residia em Valinhos/SP. Estive em sua residência várias vezes, discutindo detalhes do projeto. Na última vez que estive em Valinhos com o velho Bonetti, notei que uma sua filha, disfarçadamente, “batia” fotos de mim.
Um dois meses depois, um caminhão da Prefeitura de São José buscou em Valinhos a estatueta. Seo Bonetti veio junto. Quando o velhinho me viu com as mãos na cabeça, assustado, “admirando” a obra, com sorriso nos lábios e braços abertos para me abraçar, perguntou:
– Gostastes da surpresa, seo Marquito?”
Putz!!! Isso mesmo que você deve estar imaginando. Quem está ali na estatueta SOU EU.
Que saudade tenho daquela época… Viva São José dos Campos. Viva a Vida! Por Marcos Spínola em 2016 para o grupo SJC Antigamente.
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