A entrevista com o Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro foi realizada pela Líder Revista em 1968, as imagens adicionais e textos foram publicadas no grupo SJC Antigamente.
Ele vive em Santana há 25 anos. Aqui ele construiu a igreja pedindo, realizando campanhas edificou o hospital, a creche, um restaurante para os pobres, uma escola, e não se considera satisfeito, vai construir ainda o Recanto São João de Deus.
Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro pareceu-me, à primeira vista, pessoa pouco simpática, logo que viu em minhas anotações que seu nome não estava correto chamou-me a atenção:
– A coisa mais desagradável que existe é o nome da gente sair errado. É preferível não citá-lo…
Esta advertência poderia ter chocado a alguém desavisado, não a mim, porém, que já estava preparada para o encontro, porque quando tentei um primeiro contato com o entrevistado percebi que se tratava de pessoa bastante organizada e que, portanto, não admite falhas ou erros, pois quem me atendeu ao telefone em sua residência informou-me que monsenhor só estaria em casa às doze horas e cinco minutos.
Aqueles cinco minutos passados das doze horas, deu-me a nítida noção da personalidade marcante de monsenhor, de modo que ao procurá-lo pessoalmente sabia já o que me esperava.
Recebeu-me na sacristia da Igreja de Santana. De início mostrou-se pouco comunicativo e quando lhe pedi que falasse um pouco do muito que, de longa data, vem realizando em benefício de seus paroquianos demonstrou mesmo certa irritação:
– Não tem nada não. Eu, não fiz nada.
Depois de alguma insistência monsenhor começou a falar, mas avisou logo:
Só disponho de quarenta minutos, estou ocupadíssimo, hoje; vou viajar amanhã e preciso deixar tudo em ordem para meu substituto, não quero que a paróquia sofra solução de continuidade durante minha ausência. Sou muito organizado e sempre que saio tenho por hábito tomar esta providência.
Não demorou que monsenhor se tornasse mais accessível, entusiasmado com a recordação de suas lutas na construção da igreja, das campanhas que empreendeu desde o início no bairro que viu crescer e prosperar. Pouco a pouco aquela primeira impressão de intransigência com que se apresentara foi desaparecendo e aos quarenta minutos iniciais que me prometera acrescentou mais sessenta, o que também não foi insuficiente para tomar conhecimento das muitas coisas que fez e que pretende fazer pela cidade.
CIDADÃO JOSEENSE
Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro veio para São José por volta de 1943, estando, portanto, aqui radicado há 25 anos. Nascido em Guaratinguetá, mas naturalizado, se assim pudéssemos dizer, joseense, pois recebeu, em 1961, da Câmara Municipal, o título de Cidadão Joseense, o que lhe dá direito de considerar-se verdadeiro joseense e estímulo para trabalhar com afinco como sempre o fez, visando o bem estar de todos e especificamente de seus paroquianos.
É estimado por todos, admirado por muitos, no que não vai favor algum porque é homem de luta e outra coisa não tem feito desde que aqui chegou senão lutar, trabalhar, realizar, empreender.
Monsenhor não queria divulgação de suas obras, pois quando as realiza jamais pensa em publicidade ou promoção pessoal, mas a LIDER REVISTA não poderia, em absoluto, concordar com sua argumentação trazendo hoje a público, não com intuito de promoção, mas para que todos o conheçam, tomem conhecimento de tudo quanto realizou sem medir sacrifícios, como exemplo de dinamismo e perseverança.
OBRAS SOCIAIS
Quando monsenhor Luiz Gonzaga veio para São José dos Campos assumir a paróquia de Sant’Ana não existia ainda a Igreja onde me recebeu, foi por ele construída, com o auxílio dos moradores do bairro, de uns poucos fazendeiros da época, da Tecelagem Parahyba e com muito sacrifício de sua parte.
Isto já teria sido o bastante se somente isto tivesse feito, mas monsenhor não cuida apenas da parte espiritual, vai mais além, preocupa-se com o bem estar social de cada um, assistindo-os de acordo com suas necessidades, criando escolas, construindo hospitais, fazendo funcionar ambulatório médico e até mesmo fornecendo aos menos privilegiados alimento e roupa.
A Vila Vicentina, instituída pela congregação dos Vicentinos, mantém aproximadamente 80 pessoas em 24 casas. São pessoas reconhecidamente pobres na sua grande maioria velhos impossibilitados de trabalhar e crianças sem condição de fazê-lo e que ali encontram abrigo e alimentação.
ASSISTÊNCIA SOCIAL PIO XII
A primeira grande realização de monsenhor Luiz Gonzaga foi a obra social Pio XII que mantém, além de um grande hospital e uma moderníssima maternidade, a primeira no Vale a aplicar o parto sem dor, uma creche com capacidade para 65 crianças desde zero até sete anos de idade, que para lá são levadas diariamente entre 7 e 18 horas, recebendo ali assistência completa, desde alimentação.
No hospital funciona um ambulatório médico que serve todo o bairro.
Esta obra desde o princípio foi deixada aos cuidados das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, Congregação Religiosa fundada por D. Epaminondas Nunes D’ávila e Silva, primeiro Bispo de Taubaté e mais recentemente foi-lhes doada, após autorização concedida pela Santa Sé, em virtude do zelo demonstrado pelas Irmãs na administração e no desempenho de suas atividades.
Discurso de inauguração do Hospital Pio XI
“Isto é uma preciosidade! Discurso de inauguração do Hospital Pio XII, escrito por um primo de minha mãe, Maurício Rodrigues de Oliveira, tendo sido a oradora minha tia, Martha de Oliveira Malta, ambos já falecidos.
Minha mãe tem uma foto de minha tia, com uma bandeja cheia de pétalas de rosas, de quando da inauguração, dia 02 de outubro de 1955. Nasci lá, em 1957!” Por Jorge Henrique Oliveira.
OBRA SOCIAL E ASSISTENCIAL NOSSA SENHORA DE LOURDES
A paróquia de Sant’Ana é financeiramente uma das mais potentes da Diocese de Taubaté, o que demonstra a eficiência e o tino administrativo de monsenhor, bem como seu espírito de luta, seu imenso amor ao trabalho.
Depois de doada a obra social Pio XII às Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, em 1958, monsenhor fundou a Obra Social e Assistencial Nossa Senhora de Lourdes que mantém a Escola Paroquial, com curso de alfabetização de adultos e pré-primário num total de mil e vinte alunos, que recebem aulas ministradas por professores normalistas, remuneradas pela Obra, que além disso mantém ainda a sopa dos pobres e a gota de leite.
Com a finalidade de fornecer às pessoas mais necessitadas e periodicamente desempregadas, alimentação diárias, a obra construiu, à Rua Monteiro Lobato, um restaurante que distribuiu uma média de 170 pratos de comida por dia e 60 litros de leite.
Esta alimentação e leite são dados aos que realmente precisam, após cuidadosa investigação feita pelas visitadoras, senhoras abnegadas que colaboram com a obra social e que se encarregam de visitar as famílias e averiguar a verdadeira situação de cada uma.
Através de campanhas feitas no bairro, entre os paroquianos, a obra possui também a rouparia que chega a distribui cerca de 500 peças usadas por mês.
É evidente que apesar da paróquia manter o movimento mensal do dízimo, segundo prescrição bíblica e das campanhas sempre vitoriosas empreendidas, obra social de tamanho vulto exige verbas substanciosas, de modo que a renda do aluguel percebido pelos oito imóveis pertencentes à paróquia toda revertida para a obra.
Antiga igreja de São Benedito no bairro Alto da Ponte década de 40.
A comunidade de São Benedito, do bairro do Alto da Ponte, foi elevada à paróquia no dia 23 de fevereiro de 1964. Foi desmembrada da paróquia vizinha, à margem direita do rio Paraíba, pelo Bispo Dom Francisco Borjas do Amaral, da Diocese Taubaté.
O então Bispo delegou para a posse que ocorreu no mesmo dia, Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro, pároco da paróquia de Santana do Paraíba. Primeiro Pároco: Pe. Antônio de Castro e Silva, Ministro de Disciplina e Professor do Seminário Diocesano Santo Antônio de Taubaté.
Posse: Uma Comissão composta por: Francisco Marcondes Santos Filho, Dr. Getúlio Orlando Veneziani, Dr. Luiz Carlos Veneziani, Ciro Pereira dos Santos, Benedito Libânio, Felício Galo, José Menino Simões e Joaquim Silvério Neto, foi buscar o novo pároco na casa paroquial de Santana do Paraíba e o levou até a ponte velha onde se encontrava o povo. Foi organizado um cortejo festivo que processionalmente se dirigiu às escadarias da até então capela de São Benedito, tomando toda a frente da capela.
Estiveram presentes o Sr. José Marcondes Pereira, Prefeito municipal de São José dos Campos, uma Irmã representando a Superiora Geral das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, Irmãs a Fazenda Cura D’Ars. Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro, pároco da paróquia de Santana do Paraíba, leu os Decretos de fundação da nova paróquia e nomeação do primeiro pároco.
O novo pároco foi saudado pelo Senhor Dr. Getúlio Orlando Veneziani. Em seguida, houve a profissão de fé e juramento e outras cerimônias de posse. Divisas da paróquia: ponto inicial: foz do rio Jaguari, seguindo a linha divisória por este rio até a foz Ribeirão do Patrício, na paróquia de Igaratá; segue por este ribeirão até encontrar a estrada municipal de São José a Igaratá, passando a linha divisória pelo leito dessa estrada, até a ponte sobre o Rio do Peixe, segue rio acima até a foz do Rio das Cobras, continuando por este rio acima até a Serra do Guirra; desde então segue. pelas divisas da paróquia e distrito de São Francisco Xavier até encontrar as divisas do Distrito e Paróquia de Monteiro Lobato, seguindo por essas divisas até as nascentes do Rio Butá, continuando por esse rio até a sua foz, divisando agora com a paróquia de São Pio X em Caçapava; finalmente sobe pelo Rio Paraíba até o ponto inicial, divisando com a nova paróquia de S. Judas Tadeu até a foz do Córrego Lavapé, passando depois a divisar com a paróquia de Santana do Paraíba; compreendendo as terras, fazendas e povoados, que se acham dentro desses limites. As divisas das paróquias limítrofes permanecem intactas. Por Pe. Daniel Bueno Borges.
LAR DOS VELHINHOS
Nas proximidades do Hospital e da creche mantidos pela obra foi recentemente adquirido por monsenhor uma chácara de 5.780 metros quadrados, onde existe um prédio com 21 cômodos, no qual foram instaladas, provisoriamente, 14 velhinhas, pois ali será edificado o Recanto São João de Deus – O LAR DOS VELHINHOS, com capacidade para 60 pessoas, de ambos os sexos.
Monsenhor espera apenas terminar o pagamento da propriedade para dar início à construção do Recanto, que exigirá gastos astronômicos, envolvendo não só a construção como a manutenção do mesmo, por isso já está idealizando campanhas com intuito de arrecadar fundos, mas sabe que conta com a boa vontade de seus paroquianos que jamais deixam de prestigiá-lo quando solicitados.
– Costumo limitar minhas campanhas a meus paroquianos, pois fora daqui cada um tem seus problemas, seus empreendimentos, e não seria justo desviarem auxílio para nós. Do mesmo modo nós pouco fazemos pelas demais paróquias, não se trata de egoísmo, mas de justiça. É preciso atender primeiro ao que é nosso.
NATAL DOS POBRES
Enquanto conversávamos entrou na sacristia uma moça trazendo nas mãos enorme pacote que me chamou atenção e como tivesse olhado com curiosidade monsenhor foi logo explicando:
– São ingressos. Todos os anos, por ocasião do Natal o dono do cinema cede sua casa de espetáculos para nossa campanha. Este ano vou realizar quatro sessões no domingo e uma na segunda feira. Com isso teremos dinheiro para o Natal dos Pobres.
Ante minha admiração com a benevolência do proprietário do cinema monsenhor afirmou:
– Tem que ceder, senão como poderia conseguir fundos para fazer tantas coisas? Cada um precisa ajudar um pouco e dentro de suas possibilidades cada um faz o que pode.
Depois disso, foi uma pena, mas monsenhor estava realmente ocupado, sairia de viagem no dia seguinte e precisava deixar tudo anotado para seu substituto orientar-se durante sua ausência. Precisei deixá-lo. Era preciso não abusar, afinal quando cheguei monsenhor concedeu-me quarenta minutos para a entrevista e já dilatara o prazo para uma hora e quarenta minutos.
Texto de F. Santos, Líder Revista, dezembro de 1968
Pai espiritual, amigo e pastor de toda uma geração de joseenses, muitos nomes lhe foram dados, desde pastor zeloso de almas a xerife do bairro de Santana, lembramos hoje mais uma vez este grande personagem de nossa cidade sobretudo do bairro de Santana, a 31 anos atrás Monsenhor Luiz Gonzaga Alves Cavalheiro encerrará sua trajetória e entra para a lista de pessoas que deram sua grande contribuição para a nossa queria São José dos Campos, muitos de seus feitos ainda estão entre nós e ainda podemos usufruir, seja a igreja que construiu, o asilo São João de Deus, o asilo dos vicentinos, creche Maria Isabel, Hospital Pio XII, Escola Rui Dória (antiga escola paroquial) vinda da escola técnica SENAI para o bairro de Santana, as semanas santas, o mês de Maio, a festa da padroeira, enfim tudo isto são frutos do seu empreendedorismo, homem com visão de futuro e com temperamento forte soube moldar toda uma geração que ate hoje guarda com saudades um tempo feliz e de grande aprendizado, certamente como ele não teremos outro, que soube deixar sua marca de Fé e trabalho sobretudo aos mais necessitados de nossa cidade fazendo durante sua permanência como pároco de Santana obras que muitos políticos não o fizeram, que sua lembrança seja a nossa gratidão! Por Pe. Daniel Bueno Borges.
Abaixo um vídeo com o depoimento do Monsenhor Luiz para o projeto Patrimônio Humano da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
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