Notícias de jornal

A transferência do Departamento de Publicações (Gráfica) para o Departamento de Relações Públicas do CTA (Centro Técnico de Aeronáutica), por volta de 1962, abriu-me a possibilidade de desenvolver a redação de notícias. Passei a integrar uma pequena equipe com José Cássio de Sanctis e Benedito Soares, sob a chefia de Carlos Eurico de Breynne Montenegro. Fiquei responsável pela cobertura das atividades do Centro Acadêmico Santos Dumont (CASD), órgão de representação dos alunos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).

Como residia no centro da cidade (Rua Coronel José Monteiro) quase sempre me responsabilizava também pela entrega dos “press releases” aos jornais e emissoras de rádio. Aos sábados pela manhã, aproveitava a entrega dos “press releases” na redação da Organização Radiojornal (Rádio Clube e jornal “O Valeparaibano”), à Avenida Dr. Mário Galvão n° 463, para conversar com os seus jornalistas (Jorge Lemes, Joacyr Beca, Madureira Ramos).
Luiz Paulo Costa – Jornalista

Lobisomem na Parada Lima

O jornalista Jorge Lemes particularmente gostava de minhas aparições aos sábados pela manhã, porque era responsável pelo fechamento da primeira página do jornal e os “press releases”, que quase sempre levava, poderiam significar a tarde livre. Naquele sábado, no entanto, entrei na redação do jornal “O Valeparaibano” sem levar notícias do CTA. O Jorge me disse que estava em dificuldade, porque não tinha notícias para fechar a primeira página do jornal.

Tentei ajudá-lo na caça de notícias por telefone, mas nada consegui. Ele providenciou alguns “calhaus” (pequenos textos usados para preencher espaços vazios na paginação de jornal), mas ainda faltava uma notícia para um espaço de três colunas por uns vinte centímetros de altura, bem no meio da primeira página.

Coloquei uma lauda de papel na Remington da redação e pensei em inventar uma notícia qualquer para ajudar o Jorge Lemes. Tinha lido na coluna “Miçangas” do Jornalista, Professor e Folclorista Francisco Pereira da Silva, o Chico Triste, um texto sobre lobisomens.

Logo veio a ideia de noticiar o aparecimento de um Lobisomem na cidade. Daí nasceu a notícia “Lobisomem na Parada Lima” contando o desespero de uma mulher que foi acordada, de madrugada, com barulhos em seu quintal. Chegando ao quintal deparou-se com um enorme Lobisomem, saindo de seu galinheiro, levando algumas penosas.

Na falta de outra notícia, Jorge Lemes aproveitou o texto e fechou a primeira página do jornal “O Valeparaibano” e saímos para beber umas e outras no Bar do Português, na esquina da Estação. Comprei a edição de domingo na banca do Vicente Sciamarella, só para ler a notícia do aparecimento do Lobisomem na Parada Lima. Para surpresa minha, por uns quinze dias, todo dia passou a sair notícia da aparição do Lobisomem em São José. Era na Vila Ema, Vila Maria, Alto da Ponte, Santana do Paraíba. Liguei para o Jorge Lemes e ele contou que não parava de receber telefonemas na redação da aparição do Lobisomem em todos os lugares da cidade. E ele, como bom jornalista, não deixava de noticiar. Somente anos depois aconteceu caso semelhante com o jornal “Notícias Populares” do Grupo Folhas ao publicar a notícia da aparição da Loura da Dutra…
Luiz Paulo Costa – Jornalista

Notícia não publicada

Por volta de 1967, já integrado à redação da Organização Radiojornal (Rádio Clube e jornal “O Valeparaibano”), estava na mesma situação do colega Jorge Lemes (que havia tirado alguns dias de férias) à caça de notícias para fechar a primeira página do jornal. O paginador Francisco da Silva (Chico) Pereira entrava na redação toda hora informando que os linotipistas Alcindo Giacon e o Benedito Aparecido de Moura estavam parados.

De repente, entra pela porta o médico Benedito Sebbe esbaforido. Puxei uma cadeira para ele sentar-se ao meu lado e dele ouvi a história. “Descontei um cheque para o Dr. Jamil Cury e venho cobrando dele há semanas. Agora de manhã, lá no Jardim da Preguiça (Praça Cônego Lima), estava sentado no banco quando ele passou. Levantei-me e fui em sua direção já com o cheque na mão para cobrar dele. Ele tomou o cheque de minha mão e engoliu. Engoliu o cheque! Você precisa colocar isto no jornal. Na primeira página.”

Conhecendo o meu amigo médico Jamil Cury, acreditei que isto pudesse ter acontecido. Mas como publicar isto no jornal?! Expliquei para o Dr. Sebbe que não era possível publicar o acontecido como notícia, porque teria de ouvir o Dr. Jamil, que evidentemente iria negar o fato. Daí seria a palavra sua contra a dele. Não havia prova material. O cheque foi engolido. Mais calmo, por ter contado a sua história e mesmo diante da impossibilidade de sair o acontecido no jornal, por falta de prova, o Dr. Sebbe saiu da redação e nunca mais voltou ao assunto quando nos encontrávamos pela cidade.

Com o médico Jamil Cury encontrava-me quase todos os dias na Banca de Jornais do Vicente Sciamarella. Conversando com ele contei a história do Dr. Sebbe. Ele nem confirmou, nem desmentiu, mas com sonoras gargalhadas não me deixou dúvida de que o fato aconteceu mesmo.
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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